Videogame

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 02 de abril de 2022
Foto de capa
(Foto: Freepik)

Quantos bits têm uma vida? Quantas cores há na paleta de tons da vida? Como seria bom se a jornada de cada um de nós fosse como nos jogos de videogame. Cair em penhascos e voar, se espatifar e sobreviver, ter três vidas para gastar, pausar e deixar o jogo salvo para ser retomado depois. 

Mas a nossa vida não é videogame. Não é possível controlá-la com botões e manete, não se tem a possibilidade de vê-la em uma tela para perceber todos os perigos, os belos gráficos, acompanhar-se com trilha sonora que dá ritmo às ações. Na vida, não há personagem, nem vida extra. É com você mesmo. Só uma vida.

Mas essa mesma vida acontece em um mundo de incomensuráveis cores. É paleta inimitável, tanto pela sua infinitude, como por sua originalidade que cria novas e novas cores, constantemente. A vida acontecendo é que dá tons ao mundo e um e outro não acontecem sozinhos. 

A vida aqui é mais extraordinária, pois têm bits ilimitados. Não é byte, kilobyte, megabyte, gigabyte ou terabyte. Não é possível encaixar a vida nessas tabelas, mesmo sabendo que os números são infinitos. Ainda que o nosso tempo vá se consumir em horas, a vida é controversa a algarismos. 

Ela é. Simplesmente, é! Com seus devaneios, ventos e chuvas. Com seus sabores, cheiros e aventuras. Com suas paralisias que não pausam o caminhar, ainda que os pés estejam presos há um lugar, uma pessoa, um medo ou mesmo um modo de ser e ver. 

Se tudo isso é um jogo, habilidades se fazem em talentos e experiências, mas ninguém ousará dizer que não existe sorte ou azar. Conviver com os mistérios da fé e do sobrenatural não anulam nossas permissões de entender e se compreender pela ciência. Somos filósofos ao mesmo passo que somos o objeto de estudo da filosofia.

Como humanidade, caminhamos muito, passamos de muitas fases e caímos em buracos que nos fizeram retornar a fases aparentemente vencidas. O que deixamos de aprender? Não foi espontâneo chegar até aqui, ainda que pareça longínquo chegar à fase final e zerar o jogo. Talvez, esse jogo da vida, como coletivo, seja contínuo e jamais se possa zerar. Nesse jogo, certamente, nos zeraremos ou seremos zerados. Para virar memória, pó, estrela, poeira infinda no universo, moradores de outros planetas…

Mas essa é a tal curiosidade que cultivamos mais para se questionar do caminho do que propriamente descobrir. É gostoso adiar ao máximo, pois nesse jogo, nem sempre de prazeres, o que se quer mesmo é ficar um pouco mais e o máximo que for impossível. 

Há certo encantamento despertando entre um bocejo e outro. Há magia no real. Por isso, identificamos razões para prosseguir. Na coleção de fases, vez em quando, haverá desinteresse, mas nossa natureza é de instigáveis: vamos em frente! 

A vida não é um videogame, mas ninguém pode ser proibido de fantasiar. Porque a vida da gente não se mensura em bits e todas as cores do mundo não cabem em uma paleta.   

 

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