Diante do Sol

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sexta-feira, 15 de abril de 2022
Foto de capa

A Agência Espacial Europeia apresentou a imagem do Sol com a maior resolução já feita. A fotografia é um mosaico de 25 imagens individuais tiradas por telescópio de alta resolução, em luz ultravioleta extrema, a uma distância de 75 milhões de quilômetros da estrela de fogo. A foto final contém mais de 83 milhões de pixels. Para mostrar o tamanho gigante do Sol ou como nosso planeta é minúsculo, a Agência colocou a Terra, na posição das duas horas, no canto superior direito da imagem. Um pontinho quase que não identificado de tão miúdo. 

A comparação pode ser vista como cruel, mas também poética. Não que não haja crueldade na poesia. O Planeta Terra diante do Sol é um pontinho minúsculo, quase um grão de areia. Mais assustador ainda é saber que o Sol é até considerado uma Estrela mediana. Do pouco que se conhece do nosso Universo, há pelo menos 15 estrelas maiores. Muito maiores do que nosso astro maior. 

A Terra, esse planeta em que bilhões como nós vivemos, é 109 vezes menor do que o Sol. Até agora, a maior estrela conhecida do Universo é a Stephenson 2-18, volume equivalente a 2.158 vezes ao do nosso astro. Para se ter uma ideia, no lugar do Sol, Stephenson 2-18 engoliria a órbita de Saturno.

Os astrofísicos conhecem ou já catalogaram 70 septilhões de estrelas no Universo. Não sei nem dizer quantos zeros tem nisso. Os especialistas não sabem dizer quanto ainda temos para conhecer nessa vastidão infinita de possibilidades. Certo é que, mais cedo ou mais tarde, surgirão notícias de astros ainda maiores do que a tal da Stephenson 2-18, que fica a 18.900 anos luz da Terra. Um ano-luz é igual 9,46 trilhões de quilômetros. Distante, né? Um ano-luz é a distância de nós para Plutão. 

Parecem apenas números e distâncias que nos reduzem a menos que formigas do açúcar, científica e ironicamente, também chamadas de formiga-faraó. No final, somos. Se diante do Sol e o Sol diante de Stephenson 2-18 temos a realidade, também ganhamos entrada para uma existência de sabedoria e humildade. 

Dificilmente, viveremos para atingir a velocidade da luz, tampouco teremos vida suficiente para chegar a supostos planetas semelhantes e talvez habitáveis, por nós, como a Terra. A não ser por teletransporte. Vai saber o que nos aguarda. 

O que temos é aprendizado com a nossa própria ordinária história. Não precisamos ir à Exosfera ou sair da Via-Láctea ou mesmo chegar à Galáxia do Escultor para saber daquilo que sequer aprendemos aqui, nesse minúsculo Planeta que nada tem a ver com as trajetórias controversas que escrevemos entre nós. 

Avançamos, retrocedemos, crucificamos quem não deveria ser crucificado, exploramos e nos deixamos ser explorados. Inventamos simbolismos, experimentamos o sobrenatural, mas o quanto de verdade vivemos o que o sol significa para nós? Pouco aplicados, displicentes com o outro, indisciplinados... Renascemos para morrer de novo e matar de novo e crucificar de novo.

Buscar respostas viajando para além das Nebulosas não nos fará melhores, ainda que menores. Para encontrar o que se busca, sempre bastou, daqui mesmo, olhar para o Sol e perceber que os ciclos diários mostram que não podemos deter o Universo, mas podemos deter a nós mesmos. 

Amar mais uns aos outros é boa sugestão dada mais de dois mil anos atrás.                    

 

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