Saem as calcinhas, vêm as máscaras

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna às terças e quintas.

quarta-feira, 08 de abril de 2020

A produção de máscaras de TNT pode impulsionar a economia friburguense, especialmente o setor de moda-íntima. O que começou como um serviço de voluntariado, com fabricações isoladas de facções de fundo de quintal, pequenas confecções ou mesmo produções caseiras, despertou um mercado em alta demanda.

Máscaras de TNT

Até aqui, o município tem produzido máscaras de pano comum, de algodão. Essas máscaras ajudam na proteção, ainda que não sejam as mais indicadas, mesmo para a população em geral. Mas segundo especialistas é melhor do que nada. Para comercialização em larga escala, existem variados tipos, sendo as de TNT as mais recomendadas.

Grande demanda

Com a falta das máscaras no mercado nacional e a ausência para exportação, a expertise friburguense aparece como salvação. Salvação para um país com alta demanda e oferta reprimida e salvação para a economia local com preservação de empregos e até um novo mercado.

Um milhão de máscaras pedidas

Somente uma grande confecção da cidade recebeu encomenda de um milhão de máscaras de uma grande loja nacional de departamentos. Pedido que veio como súplica, tendo em vista a proibição de produção industrial nos últimos dias. Há consórcios de saúde de municípios que também estariam dispostos a encomendar para distribuição a população.

Implicações

Importante dividir dois tipos de máscaras: as usadas por médicos e demais profissionais de saúde, das demais máscaras. Apesar da retirada de burocracia por parte da Anvisa para a produção de máscaras, continuam válidas diversas implicações legais para as máscaras que são usadas pela saúde. A venda errada pode surtir em fortes penalidades, inclusive criminais.

Sem parque industrial

Nova Friburgo hoje não tem tempo hábil para se estruturar para a produção de máscaras médicas. Essas precisam ser fabricadas em espaços de piso frio e azulejos, além de roupas especiais para quem confecciona. Uma logística que não se implanta da noite para o dia.

 

O que é possível?

Já as máscaras domiciliares, a mais recomendada é a de TNT com panos duplos, ventilação e outros requisitos, mas que para o mercado comum não tem toda essa implicação estéril das de saúde e podem ser imediatamente produzidas aqui, com dependência da matéria prima específica, exceto para elástico e linha.

Equilíbrio e bom senso

Fica no radar a importância de se equilibrar as ações de modo que seja a produção encarada como um serviço emergencial e essencial, ao mesmo tempo sem colocar em risco a saúde dos trabalhadores e das próprias empresas. É preciso tomar as medidas de acordo com as representações sindicais, tanto patronal, como dos empregados e organismos do judiciário, sabendo-se que a palavra final, num primeiro momento é do executivo municipal.

Determinações de proteção à vida

Para tanto, essencial é regulação e fiscalização específicas do poder público, orientadas pelas diretrizes dos órgãos de saúde. A decisão de liberar a produção específica não só de máscaras, mas também de outros EPIs (equipamentos de proteção individual), representam um alento para quem temia perder o emprego ou empresas que projetavam falência.       

O joio do trigo

Vale uma nota: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Produzir neste momento calcinhas e outros produtos do vestuário é querer encalhar produtos. A procura por vestuário caiu 70%, não só porque as lojas estão fechadas, mas porque, naturalmente, não são prioridades de compras.

Prioridade de consumo

Alimentos e medicamentos, além de produtos de energia como gás e gasolina, sem contar a economia que as famílias estão fazendo com medo do colapso futuro são as prioridades de hoje e de algumas semanas para frente. A própria fabricação de máscaras deve perdurar por pelo menos três meses com forte demanda, mantendo-se no hall do essencial.

Para ficar claro

Ficar em casa para quem pode, continua sendo a tática escolhida por todos os países do mundo e por todas as autoridades maiores, exceto por uma no planeta todo. O isolamento horizontal continua sendo o mecanismo mais eficaz, até que se possa fazer a transição para um isolamento vertical. Mas isso só será possível, quando a curva achatar e ter testes rápidos em massa.                 

75 anos

Não posso deixar de registrar a minha alegria em fazer parte da história de A VOZ DA SERRA. Participo de apenas 14 dos seus 75 anos completos neste último dia 7. Sou mais da geração online (20 anos) do que da prensa (75 anos), é verdade. Mas nada como manusear o papel do jornal e perceber que é mais do que papel, mas histórias, testemunhos, biografia de um povo e sua relação com a cidade.

O jornal de ontem e amanhã

Por curiosidade, voltei no tempo, e reli o artigo que escrevi há dez anos, ou seja, nas celebrações dos 65 anos: “O Jornal de Amanhã”. Digo lá: “o jornal de ontem jamais poderia supor o que diria o jornal de hoje. A primeira edição de A VOZ DA SERRA, em 7 de abril de 1945, há exatos 65 anos atrás, jamais poderia prever que o jornal de amanhã, esse que vai às bancas de encontro ao leitor, hoje, seria assim feliz por ser da gente”.

O tempo voa

Queria que fosse só de notícias felizes. De dez anos para cá, tanta coisa mudou. O jornal de ontem jamais poderia supor noticiar a tragédia climática de 2011 ou agora a pandemia do coronavírus que afeta o mundo inteiro. Inusitadamente, dois únicos fatos que tiraram o impresso de circulação por uns dias.

Saudades

Por mais que não queiramos, o jornal de ontem sabia que o do amanhã teria que noticiar a perda de pessoas queridas, como a do seu diretor, Laercio Ventura, e de tantas outras que deixaram legado e saudades. O tal ciclo da vida que faz esse que escreve mais cascudo, não menos insensível, talvez menos ingênuo e mais experiente.   

Feliz por ser da gente

“O jornal de ontem jamais poderia supor que assim seria no jornal de amanhã que chega hoje! E A VOZ DA SERRA hoje, como ontem, continua sendo esse jornal do amanhã que chega primeiro”. Parabéns a Adriana Ventura por manter acesa a chama que seu avô acendeu lá atrás, aos meus colegas de trabalho e a todos que fazem de A VOZ DA SERRA o mais importante e respeitado veículo de comunicação de Nova Friburgo. 

Palavreando

“A VOZ DA SERRA é rito diário e mais do que contar, registrar e testemunhar as histórias acaba se confundindo com a própria história, por ser ela mesma, personagem que retrata e é retratado. A VOZ DA SERRA venceu a todas as intempéries, todas as batalhas psicológicas, econômicas e ideológicas. Eles passaram, passarão, mas A VOZ DA SERRA fica e ficará”.

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