Prece de artista

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna às terças e quintas.

sábado, 15 de abril de 2023

Que a criatividade nos abençoe e como uma entidade nos tome por inteiro. Mas, antes de se atrever a fazer arte, acinte para a sensibilidade, pois não há arte sem sensibilidade. 

Sensíveis sejam os olhos do pintor e do observador. Sensíveis sejam as mãos do escultor e do apreciador. Sensíveis sejam os gestos do ator e do espectador. Sensíveis sejam as escritas do escritor e a ótica do leitor. Sensível seja o olhar do fotógrafo e repleto de sensibilidade seja aquilo que foi fotografado e a própria fotografia.  

Para que haja arte por toda parte é preciso ter sensibilidade em todo lugar. Pois o feito da arte é de quem faz, mas artista também é quem percebe traços, nuances, sons, formas, cores e até o invisível. Quem consegue não ser afetado? Pois até a ironia ou o desprezo é afeto. 

Somos, por natureza, artistas. Enxergaremos além? Que todos os sentidos sejam expostos ao mais saboroso prazer de existir. Resistir, para que? Se for leveza, se leve pelas brumas da inocência da felicidade. Se for bruto, se leve pelos cantos uivantes da insistência em ser quem se é. Imaginativo, persuasivo, vibrante, único.     

Somos tão únicos. Únicos como é toda arte e o que se capta dela, naquele instante, igualmente, único.

A inspiração é mesmo sobrenatural e é capaz de despertar o que nem conhecemos ou prevíamos saber existir. É esse se encontrar achado, e, descoberto se admitir — deslumbrado — divinamente perdido entre as artimanhas do indescritível.

Possuído, ser liberto pela mais vigorosa liberdade. E, devastado por ser livre, criar e a partir da criação se pegar assustado, mas encantado por tal encanto... 

Entre o susto e o encanto, assustar ainda mais e encantar não menos os de coração aberto e asas escancaradas para voar. Nas asas da mais potente imaginação, cocriar novas artes a partir da sensível arte que te afeta corpo, alma e eternidade. Pois, imortal é o que fica e atravessa a própria existência. 

É prece do artista e somos todos artistas pedindo essa benção de ser tomado por fazer e apreciar, deslumbrar e se deslumbrar, surpreender e ser surpreendido, acalmar e se acalmar para suspirar entre os respiros do fascínio. 

É vital fazer arte. É existencial apreciar a arte. Mesmo nos dias mais sombrios, essencial é perceber tudo o que há em volta, dentro, no explícito, mas também no implícito — onde mora o divino. 

De repente, e é nesse momento, do olhar atento sem qualquer pretensão de desvende que nasce por si, novas artes na mesma arte. Apreciador vira também artista e criador novo artista em um ciclo sem fim. 

Há sol no poder de criar. Há lua no processo inventivo. Muitas vezes há sol e lua juntos atraindo outros astros como se todos os signos, com todas as sensibilidades de todos os bilhões de mapas astrais fossem um só. 

O masculino e o feminino, yin e yang, os opostos se atraindo não para serem uniformes, mas para se completarem em um mundo de artes que nos salva até de nós mesmos. 

Se não fosse a arte e o direito de ser artista, sucumbiria não só essa, mas todas as preces.   

 

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