Aquelas velhas tardes

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna às terças e quintas.

quarta-feira, 07 de abril de 2021

“Wanderson, o jornalismo impresso é diferente de tudo. No rádio ou na TV as palavras se perdem. Mesmo na internet, se corrige, se altera, se edita. Mas no jornal impresso, o que está escrito fica lá, para sempre. A pessoa lê, relê e comprova: “o autor quis dizer mesmo aquilo que está escrito”. Por isso, é preciso muito cuidado com o que se escreve. É um exercício difícil e de grande responsabilidade. Maior do que em qualquer outro veículo de comunicação”. Disse-me Laercio com sua voz inconfundível, própria das imitáveis, em um de seus muitos conselhos daquelas tardes de muito aprendizado.

Parêntesis: já reparou que só se imitam vozes de pessoas muito especiais ou destacadas? A inconfundível fala de Laercio é dessas vozes que, respeitosamente, se imitam, tanto quanto os bons tendem a tentar imitar o seu exemplo.

Diante de sua mesa - arrumada para ele e bagunçada para quem quer que chegasse à sua sala - era certeza de aprendizado. Ficava tardes inteiras lá, ouvindo suas histórias de biógrafo que sabia ler as pessoas, os contextos, os segredos do cotidiano friburguense que ele, sabiamente, escolhia não publicar ou ao máximo deixava no enigma das entrelinhas. Um piadista de seriedade profunda e caráter ímpar. Porque Laercio tinha essa sagacidade sábia tão difícil de encontrar no chamado New Journalism (jornalismo literário) e mais ainda no jornalismo tal qual se vê aos montes por aí. Qualidades tão próprias de quem tem a sensibilidade de desprezar o afã ansioso da notícia para tomar decisões quase sempre certeiras.

Laercio segue atual e necessário que chego a me perguntar: por que oitenta e três anos parecem tão pouco para os grandes? Noventa, cem, duzentos também seriam poucos anos para Laercio.

Saudades imensas daquelas velhas tardes de conversas que me moldaram o caráter, a ética, o amor ao cotidiano, o respeito à história, às instituições, ao jornalismo e a Nova Friburgo. Saudades gigantes desse gigante da memória de Nova Friburgo - e não é ousadia dizer - do jornalismo fluminense.    

Assim, apesar de não ser o fundador, Laercio era e é A VOZ DA SERRA. Nós, apenas nos emprestamos para fazer essa voz da serra manter sua sonoridade e importância, pois do outro lado tem muita gente que desperta para ouvir o que essa voz - através da escrita - diz. E, ousamos em ser um pouco parte desse biógrafo que é e sempre será Laercio Ventura.

Peço e só peço, que aquelas velhas tardes para mim sigam me inspirando e me orientando. Que aquelas velhas manhãs, tardes ou noites sigam orientando e inspirando os meus colegas e todos aqueles que conviveram com Laercio, seja na sua sala de mesa bagunçada (arrumada para ele), no prelo ao fechamento de cada edição, no café da Galeria São José ou mesmo nos encontros dos clubes, associações, nos resquícios do Esperança ou em qualquer lugar que ele tenha deixado a sua marca: sem exageros, em cada canto e rua dessa cidade. Para que assim, mesmo nos tempos mais difíceis e incertos, essa voz siga sendo A VOZ DA SERRA.

 

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