Será que existe em nós um coelho?

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Recentemente, quando recebi a mensagem de uma amiga que me desejava uma feliz Páscoa, comecei a conversar com meus botões sobre os coelhos. Sempre fui encantada com esses animais orelhudos e de patas compridas. 

Viajei para a literatura e fui ao encontro do apressado Coelho Branco, personagem do livro “Alice no País das Maravilhas”, que guarda vários profundos significados, como a impossibilidade de quantificar o tempo. “Quanto tempo dura o eterno?”, indagou Alice ao Coelho, que respondeu: Às vezes, apenas um segundo.” 

No poema “Motivos”, Cecília Meirelles escreveu “Canto porque o instante existe e a minha vida está completa”, ao corroborar a sabedoria do pequeno animal, que não vê a eternidade no tempo marcado pelos relógios e calendários, mas no que vivemos. Se a vida é curta, não há problemas, podemos guardar eternidades. 

Quando escrevi “Um Cão Cheio de Ideias” criei o Chama, um coelho-do-mato que representava na história o amigo, aquele que está presente em todas as horas. “De vez em quando, me deitava debaixo das árvores. Algum tempo depois, Chama vinha devagar e se deitava ao meu lado. Aí, ficávamos curtindo nossa amizade.”

Acredito que a criação do coelho em universos ficcionais tenha nascido da sensibilidade e sutileza humanas, talvez por ser um animal indefeso a milhares de outros predadores e aos perigos existentes no mundo. Será que existe em nós um coelho?

De tanto correr e tanto se atrasar, o Coelho Branco exclama “Eu sou uma fraude!” Lewis Carroll se antecipou ao tempo e previu que a cultura de admiração aos bem-sucedidos se tornaria esmagadora, o que limitaria as eternidades guardadas nos bolsos.   

Alice seguiu o Coelho Branco e descobriu o País das Maravilhas. Mesmo confuso e atrasado, ele a levou para um fantástico lugar, onde conheceu tantas novidades. A vida é rápida, somos levados por acontecimentos, tal qual Alice que caiu num buraco. Que personagem devemos seguir para que possamos ver, através do buraco da fechadura, o que está diante de nós e não vemos.

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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