Reflexões sobre 2025

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Estamos chegando em 2025, e estou mergulhada em reflexões, o que é comum acontecer nesses tempos. Não gostaria de pensar nas coisas que gostaria de adquirir ou alcançar, já que durante anos fiz relações intermináveis de finalidades pessoais, profissionais e materiais.

Talvez pelo fato de estar avançando na década dos setenta, o sentido da vida ganha espaço em minhas indagações. Comumente, dia ou outro, essa questão me invade, porém nunca chego a uma conclusão. É saudável tê-la voejando na mente porque a cada momento da vida um sentido nos orienta. Todavia existe uma finalidade maior e vamos nos esforçando para interpretá-la ao longo das experiências. Não vou me espantar se terminar a vida sem conseguir chegar a uma proposição exata.

No meio de tantos pensamentos, inclusive desencontrados, até porque as questões mais robustas nos fazem ter redemoinhos de ideias, o conto de Jorge Luis Borges, escritor, ensaísta e poeta argentino (1899-1986), “O Aleph”, embala meus pensamentos. Nas mãos de um mestre da literatura, a história descreve o encontro do protagonista com o Aleph, que é a primeira letra do alfabeto hebraico. O conto tem tamanha profundidade que certamente vou precisar relê-lo mais vezes para compreender o significado da letra que representa o começo e o fim de tudo, onde estão todos os lugares do planeta vistos por todos os ângulos, onde tudo se junta e não se confunde. O Aleph é um dos pontos do espaço que contém os outros pontos e que reúne as fontes de luz. É o símbolo dos números infinitos, em que o todo não é maior que uma das partes.

Ao perceber o Aleph num porão de uma casa que seria demolida, Borges vê claramente todos os pontos do universo, o mar, a alvorada, as multidões, uma teia de aranha, olhos, espelhos, ruas, casa, vapor de água, jardins, grão de areia, pessoas, mulheres, as gavetas da sua escrivaninha, as formigas, os exércitos, as sombras de algumas samambaias, a circulação do próprio sangue, a engrenagem do amor, a transformação da morte. Ao ver a multiplicidade e a unidade da vida, ele chora.  Ao retornar à rua, nada mais o impressiona.

Através do conto, apenas consigo sentir meus esforços para perceber a minha interação com a energia de todas as coisas, quando eu possa me encontrar com Deus. A vida de cada um de nós é única, plural e vai se realizando a cada momento através da força que emerge de nossos corpos, da capacidade de liderar o próprio caminhar em todo seu modo e sentido.

Assim quero, em 2025, conceder-me a disponibilidade para antever a revelação da vida em seus ínfimos detalhes. Não pretendo me apiedar nem me intimidar, mas ter serenidade para tirar conclusões e constatar que cada vida não é casual e que sou o centro da minha história; que vou continuar a construí-la em algum ponto do universo, onde vou receber forças e doar minha energia ao universo; que as minhas palavras vão se misturar com as de todos os seres.

Possivelmente, 2025 será um ano desafiador. Só espero poder vislumbrar o meu melhor senso de ser gente.

É o que desejo a todos! 

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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