As pérolas dos introvertidos

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Os extrovertidos possuem capacidade de apresentação, podendo, inclusive, transparecer empoderamento; geralmente são bons oradores e se expressam com desenvoltura. Muitas vezes são evocados como bem-sucedidos e reconhecidos como líderes. 

E os introvertidos?

Estou lendo o “Poder dos quietos - como os tímidos e introvertidos podem mudar um mundo que não para de falar”, escrito por Susan Cain, 2012, GTM Editores Ltda, e sinto-me tocada pelo conteúdo. Mesmo tendo formação humanista, sendo educadora e escritora, sempre fui influenciada pela cultura ocidental, na qual estou mergulhada, que subestima as capacidades e qualidades dos introvertidos. 

Depois de abdicar da carreira de advogada e consultora, Susan engrandeceu sua quietude e tornou-se escritora e pesquisadora, especialmente nos temas relacionados à mulher, bem como ao modo de ser das pessoas introvertidas. Como uma forma de se aprofundar seus conhecimentos a respeito, ela começou a fazer uma pesquisa extensa em 2005, conversando e trocando mensagens com “centenas, talvez milhares de pessoas”, conforme relata no início da obra, lendo livros, reportagens e artigos acadêmicos, acompanhando discussões em chats e blogs.

O introvertido aprecia o estado de solitude em que experimenta a privacidade.  Será a quietude uma bravura? Ou uma característica pessoal na qual a pessoa, por uma decisão pessoal, estabelece o contato consigo, tendo a oportunidade de fortalecer o amor-próprio e a autoconfiança. Muito diferente do estado de isolamento ou reclusão causados por algum sofrimento e outros motivos independentes ou não da própria pessoa.  

A cultura ocidental cultua a personalidade extrovertida, aquela que gosta de correr riscos através de situações ousadas, que desafiam o cérebro e o corpo em vários sentidos. É uma personalidade importante e saudável a quem naturalmente a possui.

Os introvertidos e extrovertidos têm atraído a atenção de cientistas, psicólogos, filósofos e outros estudiosos nas Ciências Humanas. São dois estilos de personalidade distintos, como são o masculino e o feminino. A influência da cultura ocidental em favor dos extrovertidos corrobora para que o introvertido perca a noção de quem realmente é. O que causa, no quotidiano, uma série de transtornos emocionais. A introversão e a extroversão são modos de ser espontâneos e estão presentes em todo o reino animal.

Cientistas, como Einstein e Newton, músicos, como Chopin, escritores, como Sir. James Matthew Barrie, autor de Peter Pan, os pintores, como Van Gogh, foram pessoas introvertidas que comunicaram suas riquezas interiores e muito beneficiaram o mundo. 

Desde cedo, a criança convive com estímulos que valorizam as atividades em grupo, as estrelas da música e do cinema, o sucesso profissional, o excelente relacionamento interpessoal, a exposição pessoal. Mas quem é introvertido sofre com o preconceito contra os quietos, das formas mais sutis e veladas, inclusive. Algumas vezes são vistos como preguiçosos, lentos, chatos, esquisitos. Outras, são vulneráveis ao bullying. Podem ser até considerados problemáticos.  

A questão não é sair da concha, é saber estar nela e aproveitar suas riquezas. Para finalizar, eu me dou o direito de afirmar que aprender a ser é um dos maiores talentos que a pessoa possa ter. 

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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