A literatura e seus elos de afeto

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 04 de julho de 2022

Sim, a literatura une as pessoas.
Hoje vou relembrar as experiências afetivas que a literatura me
proporcionou. Quando resolvi me tornar escritora, conclui que precisava de um
aprendizado sistemático e procurei oficinas de literatura.
A primeira foi numa padaria, da qual esqueci o nome, um lugar de dois
andares, que tinha um salão para eventos. Soube que havia ali um encontro
semanal de pessoas que queriam escrever, organizado pela escritora Virgínia
Cavalcanti. Ali me encantei com a proposta e com as pessoas. Logo depois, a
maioria delas foi abandonando os encontros, e, os poucos que permaneceram,
eu inclusive, fizeram um grupo de escrita, que foi produtivo por muitos anos. De
encontro a encontro, o amor que sentimos pela literatura foi sendo transmitido
para nós e construímos afinidades especiais.
Naquele grupo concluí que gostava de escrever para crianças, que tinha
criatividade para inventar histórias infantis e personagens. E não é que lá
surgiu o Labareda? Ele, meu primeiro personagem, um cachorro que pensa, foi
adotado pelas minhas companheiras de oficina. O Laba, para os íntimos, teve o
privilégio de chegar ao mundo da ficção cercado dos cuidados de pessoas
reais. E, assim, de conquista em conquista, foi intitulado “Um Cão Cheio de
Ideias”, lançado pela Paulinas editora.
Por causa do Labareda fui em busca de uma oficina para crianças e
jovens. Na Estação das Letras fiz outro grupo de amigas, do qual fiz parte por
mais de dez anos. A nossa professora, Anna Cláudia Ramos, escritora de livros
infantojuvenis, além de nos apresentar a literatura infantojuvenil e ensinar a
escrever, corroborou para que fizéssemos bonitos elos de amizade. Inclusive
lá, além do meu Labareda ter ganho uma madrinha, a Dani, nasceu com força
e personalidade.
Mesmo depois da oficina ter finalizado, demos continuidade ao trabalho
da Anna e continuamos a nos encontrar até hoje. Inclusive, estamos para
marcar um encontro no mês que vem.

Como escrevia para crianças e jovens, considerei que deveria escrever
com humor, apesar de não conseguir fazer ninguém rir. O humor tem leveza, é
uma escrita sutil e explora pormenores. Fizemos um grupo na casa da Tetê por
quase vinte anos. Tornamo-nos uma família. Tínhamos um pai, o “Professor
Pardal”, o escritor Márcio Paschoal, que cuidava da nossa escrita e de nós sem
parcimônias. E a gente escrevia, escrevia sem parar. E a gente se divertia. E a
gente se gostava como irmãos. Eu não faltava aos encontros semanais,
sempre às quartas-feiras. Até hoje nosso “Professor Pardal” continua a nos
abrigar, a nos corrigir no processo criativo de escrita e a nos unir. Nossa oficina
está viva, ainda às quartas-feiras, faça chuva, faça sol, porém de modo virtual.
Confesso que é um grupo que marca a minha vida de modo profundo, apesar
de hoje a maioria ter seguido caminhos diferentes. Nosso gosto pela literatura e
por nós foi tanto que fizemos um jornal, “A Marmota”, e escrevemos três
coletâneas. Até com o professor escrevi o “O Livro Maluco e a Caneta sem
Tinta”, um livro passeador e que está a caminho da segunda edição.
Em Nova Friburgo, a cidade literária em plena mata Atlântica, como fiz
amizades! Amizades eternas que nasceram na Academia Friburguense de
Letras, da qual sou acadêmica com grande orgulho, nos Clubes de Leituras e
no grupo de escritoras Juntas @ Diversas. Na semana passada lançamos o
quinto livro da coletânea. Pelo livro, por nós, e pela amizade que nos une,
tivemos um momento cheio de simplicidade e calor humano.
Como foi importante receber o respaldo de amigos com os quais tenho
interagido continuamente. Nós nos ajudamos a crescer como escritores e a
amadurecer como pessoas. O mais importante é a admiração mútua e o
respeito pelas diferenças individuais que nos une e alimenta. São amizades
que velam a palavra, enquanto expressão do viver, e que tendem a se manter
pelo simples gostar.
Eu me tornei outra pessoa depois que comecei a escrever, não somente
pela literatura, mas pelos amigos que iluminaram os bosques que adentrei.

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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