Espelho, espelho meu, me diga quem sou

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

O espelho é uma lâmina que reflete imagens iluminadas que são colocadas à sua frente. É uma tecnologia que vem da antiguidade, especialmente do Egito e da Grécia, sendo aperfeiçoado em meados do século XVII pelo químico alemão, Justus Von Liebig, e pelos artesãos de Veneza. Hoje, tem utilidade funcional no dia a dia, além de decorativo e ter se tornado objeto imprescindível nos ambientes. Todos têm, no mínimo, um espelho em casa ou no lugar onde trabalham e frequentam.

É a representação visual mais fidedigna da realidade, tanto quanto a fotografia. Simples assim. Ele reflete a imagem em si, mostra o que se espera ver e o que não se quer perceber. É surpreendente, desafiador e, ao mesmo tempo, assustador. 

  No espelho há enigmas. Quem está diante dele é confrontado e seduzido, sente-se tomado pela imagem refletida que revela quem está ali. Diante do espelho a pessoa se vê sem disfarces. Muitas vezes, pode se tornar difícil abrir os olhos diante do espelho, posto que ficamos em evidência e nos manifestamos, até num simples piscar de olhos e mover dos braços.

A questão mais penosa não está no espelho, mas em quem está diante dele e alimenta uma visão distorcida de si, uma vez que a percepção é irreal, como o magro que se vê gordo.

Quem nunca conversou diante do espelho, numa fala solitária ou num teste de como vamos nos apresentar ou falar?

Diversas vezes, escrevi sobre o espelho. No conto, “O beijo das Catarinas”, publicado na coletânea “Juntas e Diversas”, a personagem lida com o envelhecimento ao ver uma mulher de cabelos grisalhos na rua e, ao chegar em casa, notar no espelho uma pequena ruga tentando se estabelecer perto dos seus lábios. Já no romance juvenil, “Um esconderijo atrás da minha franja torta”, Rebeca Luíza, a protagonista, percebe no espelho as transformações do seu corpo no início do adolescer. Ela sabe que irá se ver no futuro e indaga como será.

Lendo o livro “A última festa”, de Lucy Foley, a personagem Miranda, diante do espelho, reflete sobre sua vida. São pensamentos fortes e dolorosos. 

De repente, eu me perguntei: o espelho tem voz? E quem se dispõe a escutá-la? A voz dele traduz a verdade inquestionável, nua e crua. Ninguém se esconde quando está diante do espelho! Ao refletir os olhos, a pessoa consegue ver sua alma, seus afetos e a autoestima. O ver-se pode não ter fim. Provavelmente o gostar-se pode começar com uma espiada no espelho quando temos a oportunidade de nos adentrar e perceber horizontes. Não vale a pena recusar o que vemos diante dessa lâmina refletora.  

O espelho tem faces, de destruidor a salvador, pode se tornar um bom confidente ou um grande inimigo. 

Espelho, espelho meu, me diga quem sou!

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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