Eis a questão...

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Em quanto tempo aprendemos a ler e a escrever? 

Eu me refiro ao binômio leitura e escrita, duas habilidades complexas e intrinsecamente relacionadas. Quem domina a leitura consegue escrever um relatório, uma carta, um bilhete ou coisa assim. Já quem domina a escrita é capaz de abrir asas sobre o papel e criar uma infinidade de textos uma vez que foi humanizado e aperfeiçoado pela leitura. É um ser falante e dono do próprio discurso ao escrever o que pensa e o que quer, mesmo que se apresente travestido pelas palavras de outros por pura diversão. 

Caso alguém responda que passou a vida inteira aprendendo tais habilidades não vou achar exagero. Claro que não! Eu me incluo discretamente na figura desse entrevistado. A cada livro que leio me vejo diante de um aprendizado de palavras e ideias posto que nenhum livro reproduz outro. Durante a leitura vou ampliando as possibilidades de captar os sentimentos do autor e os sentidos que ele dá à própria vida. Além do mais, que seja conto, romance ou crônica, até mesmo textos técnicos ou científicos, cada texto mostra as vozes da época em que foi escrito. A leitura me traz ideias que vou desvendando tal como minhas pernas fazem quando adentram um caminho novo. Ler é poder interpretar o pousar das borboletas em todas as horas e lugares. 

O leitor não nasce antes ou depois do seu tempo. É um viajante que adentra gentilmente no passado, no presente e no futuro; seu coração pulsa com o vento que emerge do fundo de cada tempo em que a obra literária está situada. Ele busca argumentos para compreender os seus mais variados sentimentos e desejos. E, assim, querendo entender-se, ele começa a escrever diários, histórias e reviravoltas. Torna-se alguém fecundo, capaz de brindar o leitor com palavras saborosas, amargas ou vespertinas. Ele aprende a fazer literatura em tachos de fé. 

Vou considerar herói aquele que se dedica ao ofício de ensinar a escrita a aspirante de qualquer idade visto que é uma tarefa repetitiva e caminha lentamente, acompanhando os incertos passos daqueles que vão e voltam. É um mestre que nasce no desbravamento, capaz de fazer com que o aprendiz supere sua insana estupidez a cada tentativa de ser escritor. É um professor amado por não ser comparável a qualquer sonhador. Não é um fazedor de escritores, mas de agentes que gostam de fazer as ideias circularem mundo afora.

E, de novo, pergunto com a mais terna sofreguidão: em quanto tempo aprendemos a ler e a escrever?

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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