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Ebulições
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
Nossas emoções são tantas que explodem dentro de nós a todo instante e vão se misturando, mesclando-se. Nem sempre conseguimos pinçá-las e identificá-las porque estamos inseridos em tantos contextos, diversos e conflitantes. Borbulhamos em contraditórios afetos que vão se fundindo e atritando-se. Somos a própria ebulição
Hoje, Sexta-Feira Santa, dia 2 de abril, começo a escrever esta coluna me sentindo fervilhar com os sentimentos que envolvem a Páscoa e o livro que acabei de ler no Clube de Leitura Vivências, Brisa, segunda edição, de Ania Kitilla, que aborda a tragédia de 2011. Vivemos um árido tempo de pandemia, que não se compara ao que foi vivido há dez anos, mas traz, nesta Semana Santa, pelo segundo ano consecutivo, o vazio, causado pelo isolamento, quando normalmente era para se cultuar o encontro entre pessoas queridas. Vivemos um período que mescla o luto, a preocupação e a esperança.
A leitura de Brisa foi iniciada em fevereiro. Lemos, uma vez por semana, a história entrelaçada de cinco personagens que vivenciaram a tragédia. Nos encontros virtuais do Clube Vivências, os participantes liam, em voz alta, com atenção e sensibilidade, capítulo a capítulo, frase a frase, parando com frequência para comentar as situações experimentadas pelos personagens e pelos sentimentos que emergiam em cada uma de nós. As emoções decorrentes da pandemia se misturavam com as provocadas pela tragédia, através da leitura. Quando terminamos de ler Brisa, nesta terça-feira, dia 31 de março, o grupo estava impactado e profundamente emocionado. Ontem, quinta-feira, fizemos o fechamento da leitura, quando conversamos, também de modo virtual, com Ania. Segundo seu relato, o livro começou a ser construído na primeira noite da tragédia, a partir do espanto e do medo que sentiu.
Grande parte das leitoras do Clube estava na cidade no dia 11 de janeiro de 2011 e nos dias que se seguiram. Cada uma de nós teve uma experiência particular, entretanto, para todas, a realidade foi impactante, cruel e devastadora. Ao longo da leitura, os fatos, que se tornaram esquecidos com o passar do tempo, foram relembrados, como a angústia ao escutar o ruído do helicóptero de salvamento que sobrevoava os lugares, o espanto ao ver o desmoronamento de morros e a tristeza ao receber a notícia do falecimento de pessoas conhecidas.
Ania escreveu Brisa com amadurecimento. Com lucidez, ela penetrou na alma do friburguense e revelou como viveram a terrível tragédia. Um dos personagens é uma cadela, Brisa, que foi revelada pela autora com maestria. O final do livro tem realismo, o que nos fez perceber de maneira mais contundente ainda como os personagens lidaram com as possibilidades concretas para resgatar suas vidas.
A leitura sempre nos oferece a possibilidade de nos percebermos através dos personagens. Está aí a grande riqueza da literatura, que nos salva a cada texto que absorvemos.
A todos os instantes temos motivos para escrever, para compreender o que nos acontece e para superar infortúnios, medos e desafios. Como a vida é cheia deles! E, hoje, ainda com a experiência da leitura viva, nas vésperas da Páscoa, faço forças para que a esperança se sobreponha ao estresse da pandemia e me traga a certeza de retorno à rotina diária.
É o que desejo a todos.
P.S.: A Academia Friburguense de Letras muito se orgulha de ter Ania Kitilla como Jovem Acadêmica.
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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