As águas que navegamos

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Navegar é preciso para sermos únicos e deixarmos nossos registros pelos
caminhos que passamos.

***

Estamos lendo no Clube do Livro Vivências o livro “Correnteza”, de
Adriana Falcão, da Ventania Editorial, publicado em 2021. O romance traz ao
enredo a interação de quatro mulheres de gerações diferentes, interligadas por
laços familiares, vivendo momentos de vida distintos. Bisavó, avó, mãe e filha.
Do presente ao passado, cada uma delas constrói a vida em contextos
culturais próprios, sendo que o da última geração integra e desintegra as
relações humanas, afetivas e culturais entre elas. São quatro tempos em um
só, em conflitos de emoções, incompreensões e identidades entre os modos de
viver e o findar, no sentido mais figurativo da expressão.
E aí, nós leitoras, mergulhamos num debate amplo, até porque somos
mulheres. Vou falar por mim. Mas acredito que minhas conjecturas perpassem
o pensamento do grupo. Do adolescer ao envelhecer, ninguém escapa dos
processos de transformação que sofremos ao longo dos anos. Sim, senhor,
todos nós vamos morrer. Será que devemos nos deter a isso? Ou pensar nos
modos como estamos vivendo cada dia, com todos as perdas, conquistas e
desafios. Para quem a vida é fácil? Ora pois...
Posto que, hoje, estamos também inseridos num mundo mutante, dado
que os referenciais mudam. A cada instante. Quero reafirmar que as
correntezas da vida nos fazem surfar a primeira onda mais de uma vez por dia.
O que nos desafia a reconstruir a identidade individual constantemente e a
desenvolver prestezas inéditas. “Quem sou?”, “O que e como fazer para ser?”.
O mundo nos impõe muitos “Tu és!”. A começar pela identidade sexual que nos
exige a definição de gênero. E quantos são? Mais de trinta. Ufa! Quanto tempo
o sujeito, que sujeitado somos a tudo e a todos, precisa para se definir? Não
sei... Será uma definição tranquila, sem conflitos? Ou um processo sofrido?
Será preciso experimentar quantos gêneros se somos seres de experiências?

Fora isso o que é preciso desvendar num mundo em que o real e o virtual
se confundem e se interagem como se estivessem no mesmo plano? Ou seja,
somos dois em um. A criança engatinha com um computador nas mãos,
misturando os sentimentos reais com os virtuais e, desde a mais tenra idade,
vive a intermitência entre a perfeição e a imperfeição. O que há de verdade? O
que há de certo ou errado?
E os valores humanos? Ah, será que os valores estão submetidos ao
conceito imediatista de felicidade? Zygmunt Balmam foi brilhante ao conceituar
“Modernidade Líquida” em que os conceitos e os valores tendem a ser
evaporados com facilidade na realidade concreta.
Nosso destino é feito de fluxos e refluxos, passamos por várias correntes
e contracorrentes.
Quem não passa a vida aprendendo a lidar com suas águas doces e
salgadas?

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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