Adeus

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Estou lendo o romance “Muito Além do Infinito”, obra da escritora inglesa
Jill Mansell. A história nos mostra, através de uma narrativa leve e delicada, os
diferentes processos de elaboração do luto, ao expor os sentimentos da
esposa, do pai e do amigo de Jamie, personagem falecido num acidente de
carro no início da história.
Todos nós vivenciamos o luto que pode ser breve, como se estender por
um tempo mais longo. Inclusive, cada pessoa vivencia a perda de um ente de
uma forma particular, dependendo do elo afetivo que estabelece com ele. A
forma como o luto se processa está relacionada com a história de vida, a
cultura e a religião.
Durante a leitura, os processos de luto dos personagens me foram
comoventes porque lembrei das pessoas que tanto amava, os meus avós e o
meu filho. Não gosto de despedidas definitivas, mesmo as que considerei
serem necessárias.
Em diversos momentos, li ou escutei que a morte é essencial porque a
eternidade nos é insuportável, apesar de falarmos comumente a expressão
“para sempre”. Foi um conceito que até hoje, inclusive aqui, nesta coluna,
esforço-me para apreender. Aliás, só podemos entender a vida e aceitarmos o
findar, através de uma compreensão lógica e simples da existência: nascer,
crescer e morrer. Somos assim, cíclicos, tal qual os sistemas solares do
universo. Não somos seres de ficção, tão poderosos ao tempo.
Entendo que tudo seja mutante, e que a proposição “na natureza nada se
cria, nada se perde, tudo se transforma”, do químico Lavoisier, guarde uma das
maiores sabedoria do planeta, onde nada se perpetua. Tudo é efêmero. Ah,
como Saint-Exupéry sabia disso ao escrever o “O Pequeno Príncipe”.
Jill Mansell, em sua obra, esforçou-se para mostrar as dores da perda e
seus modos de superação. O luto é triste. Hoje tanto se fala de angústia,
depressão, agonia, mas pouco se fala de tristeza. Nos meios virtuais de
interação, a alegria impera. A tristeza, como tudo na vida, tem começo, meio e

fim. O estar triste é saudável e faz parte do existir, desde que não seja um
estado emocional permanente. Tem força para transformar os modos de estar
e conviver. A tristeza pode ser dolorosa, mas não significa desesperança.
Durante a elaboração do luto, trazemos as pessoas que se ausentaram
em sua concreticidade real para os abstratos âmbitos da memória. A
elaboração dos sentimentos de abandono, solidão, saudade, culpa, dentre
outras sensações desagradáveis, faz-se necessária para que o enlutado
encontre formas de lidar com eles. Ninguém deleta dos seus afetos uma
pessoa que amou e partiu, mesmo que a morte não seja a causa da ausência.
A vida continua e tem que trazer bons momentos, motivações e vontade de
amanhecer para um novo dia.

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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