Vacina contra a Covid-19: A pressa pode comprometer sua eficácia?

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 07 de outubro de 2020

Muito se tem falado sobre vacinas, sobre a resistência de certas pessoas a serem vacinadas e, principalmente, sobre a corrida em busca de uma vacina eficaz contra a Covid-19. Aliás, essa seria a maneira mais rápida de deter a atual pandemia e coloca-la no mesmo nível das doenças que outrora assolaram a humanidade (sarampo, varíola, coqueluche, paralisia infantil, tuberculose etc.) e hoje se encontram “domesticadas” ou erradicadas, na maioria dos países onde é adotada a vacinação em massa.

Na França, país onde o movimento anti vacinação é muito grande (41% dos franceses estimam que as vacinas não são seguras), houve uma série de manifestações quando, em 2018 o governo passou de três para 11 as vacinas obrigatórias nas crianças entre três e 18 meses de vida; mesmo com as evidências de que naquele país, em regiões onde a resistência a essas medidas de saúde pública é muito grande. Por exemplo, a Agência Regional de Saúde do departamento da Nouvelle Aquitaine, mostrou que de 2.567 casos de rubéola confirmados, desde 2018, mais de noventa por cento dos infectados ou tinham recebido doses insuficientes ou nenhuma, da vacina anti rubéola.

Vacinar, portanto, é uma importante ferramenta de saúde pública e as dúvidas que possam existir na população devem ser esclarecidas, com convicção, para evitar fake news e convencer a todos, da necessidade da prevenção de doenças erradicadas, para que elas não voltem mais, como foi a recente crise de sarampo, no Brasil. Ela foi resultado da entrada maciça de imigrantes vindos da Venezuela, país onde não existe um programa de vacinação em massa. Devemos lembrar que também entre nós, tem havido resistência da população contra os programas de vacinação, e isso, talvez, explique o número elevado dos casos de sarampo que surgiu entre nós, naquele episódio.

Mais importante é o uso da vacinação em massa, para prevenção de novas ondas de infecção pelo coronavírus, responsável pela atual pandemia com 35.179.573 casos, até agora, e 1.037.340 óbitos no mundo inteiro. Mas, a pergunta que todos fazemos é com relação a sua segurança, em face da rapidez com que ela está sendo apresentada ao mundo.

O biólogo e professor de virologia do departamento de microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), Paolo Zanotto, explicou que o desenvolvimento clínico da vacina é um processo de três fases: "Durante a fase 1, um pequeno grupo de pessoas recebe a vacina experimental; na fase 2, o estudo clínico é expandido e a vacina é dada a pessoas que têm características, como idade e saúde física, semelhantes àquelas para quais a nova vacina está sendo destinada; e na fase 3 a vacina é ministrada a milhares de pessoas testadas com eficácia e segurança", disse.

De acordo com ele, é possível encurtar o tempo de duração deste processo de fases de testes, mas há um problema que quando se encurta muito esses ciclos de desenvolvimento, gera uma estimativa não muito boa de segurança da vacina e outros parâmetros.

A vacina de Oxford e a SinoVac, da China, já estão sendo testadas em voluntários no Brasil em ensaios clínicos na fase 3, que é a última etapa antes de registrá-las junto às autoridades regulatórias. No entanto, é preciso que se atinja a chamada imunidade de rebanho, em que 60% a 70% da população já tenha sido infectada, consiga eliminar o vírus, mas tenha uma resposta anti córpica boa contra o vírus. E essa imunização pode ser conseguida pelo uso de vacinas profiláticas. Daí a necessidade do encurtamento desse tempo.

De acordo com Jon Andrus, especialista em epidemiologia e imunização da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, que foi vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), as altas taxas de transmissão comunitária do vírus, como acontece no Brasil, estão entre os principais critérios para poder testar uma vacina. Ele afirma, também: "Certamente, é necessária uma situação em que haja uma forte prevalência de uma enfermidade para poder provar a sua eficácia. Mas penso que no Brasil há uma tempestade quase perfeita para os ensaios, porque além da alta prevalência da Covid-19, o país tem uma longa história de excelência em saúde pública, com instituições de pesquisas reconhecidas mundialmente, como a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) no Rio de Janeiro e o Instituto Butantã, em São Paulo, que há décadas realizam pesquisas e ensaios", afirma o especialista.

Baseado na experiência e seriedade desses dois institutos é que podemos ter confiança de que os testes estão sendo bem avaliados e que em muito breve, estaremos promovendo uma campanha de vacinação em massa contra a Covid-19, entre nós. 

Publicidade
TAGS:

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.