Por que os banheiros públicos são tão sujos?

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Esse é um tema que sempre tive vontade de abordar, mas sempre evitei. No entanto, é uma constatação. Os sanitários públicos, tanto os femininos ou masculinos, não importa, a imundície é a mesma. Aliás, pelos comentários da minha esposa, os do sexo oposto são ainda mais sujos. Seja em restaurantes, bares, cinemas ou teatros, aeroportos ou estações rodoviárias ou ferroviárias, a sujeira nos banheiros públicos é a mesma. E não é uma questão de classe social, pois da última vez que viajamos, utilizamos a sala vip do aeroporto de Brasília e o comentário da Oneli, ao sair do toilette, foi o de que ele estava imundo.

Será que na casa das pessoas se dá o mesmo desleixo, ou estamos diante daquela constatação de que o que é público não é para ser conservado? No caso dos homens é raro encontrar um vaso sanitário em que a descarga tenha sido acionada após o seu uso, o que deixa um odor fedido muito forte; o mesmo se dá com os mictórios que não têm descarga automática. Aliás, um outro problema desses utensílios é a falta de uma altura padronizada; para pessoas baixas como eu, muitas vezes seria necessária uma escadinha para acertar no alvo corretamente.

Em locais mais movimentados, existe um contingente maior de empregados que se ocupam da conservação desses locais, mas basta um intervalo maior para que a imundice impere. Claro está, como já citei, que no Brasil, pelo fato de ser público é para não ser conservado, mas me parece que o que acontece mesmo é a falta de educação do povo. Basta ver a sujeira que impera nas ruas, calçadas, praias e locais públicos das cidades brasileiras, principalmente do Rio de Janeiro para cima. É como se tivéssemos dois brasis, de São Paulo para baixo, onde a colonização mais europeia moldou o “modus vivendi” da população, a educação do povo é uma; do Rio de Janeiro para cima, com raras exceções, sai de baixo. O problema é que, como na Europa, a chegada de gente de fora está fazendo a diferença, para pior.

Em nossas casas, pelo menos deveria ser assim, sempre que terminamos uma necessidade fisiológica, seja o número um ou o dois, dar a descarga no vaso sanitário é um ato reflexo. E, na maioria das vezes, lavamos nossas mãos, pois isto é uma questão de higiene. O problema é que muitos, principalmente em banheiros públicos, saem sem o fazê-lo e, talvez, por isso, não apertem a descarga para não sujarem às mãos. Não devemos nos esquecer que ao acionarmos a válvula de despejo, o vaso sanitário deverá estar com a tampa abaixada, pois uma névoa de vírus e bactérias se espalha pelo ambiente e permanece por um tempo nas superfícies, em especial no próprio vaso, o que aumenta o risco de contaminação.

Ao contrário do que se imagina, a forma mais comum de contaminação por doenças em banheiros compartilhados não é sentando-se no vaso e, sim, através da via fecal-oral. “Vamos supor que você encostou na parede onde outra pessoa com as mãos sujas de fezes também encostou. Depois, você não higieniza corretamente as mãos e acaba levando-as à boca. Dessa forma, pode acabar se contaminando”, explica a dra. Marianna Bezerra, infectologista em São Paulo. A infecção pela hepatite A acontece principalmente dessa forma, assim como vírus e bactérias intestinais que podem causar vômito, diarreia e dor abdominal.

Sentar-se em bancas públicas não é um bom negócio a não ser que haja uma necessidade premente. Caso isso seja necessário, seque o vaso com papel higiênico e se não houver o papel proteja a tampa, cubra a mesma com papel higiênico. Mas, nunca se esqueça de lavar as mãos, quando terminar.

Nós, brasileiros, deveríamos mudar nossa visão de mundo e lembrarmos sempre de que um povo educado é mais saudável, higiênico e bem vindo, mas que o que é público é de todos e deve ser conservado como se fosse nosso.

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