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O dia em que Isabelle nos deixou
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
No último dia 7 de julho completaram-se dez anos que minha primeira neta nos deixou. Nascida em novembro de 2011, com síndrome de Down, ela era portadora de uma má formação cardíaca muito séria, tão séria que requeria uma intervenção cirúrgica de grande porte. Apesar de ter resistido, bravamente, as seis horas de cirurgia, faleceu de complicações dela decorrentes, com sete meses de idade.
Na época escrevi um artigo que considero um dos meus mais impactantes e resolvi republicá-lo, em homenagem à Isabella e a tudo que ela representou para seus pais e avós, para a família e para todos que a conheceram, em tão pouco tempo de vida.
O dia em que Isabella se foi
E a Isabella, com um sorriso nos lábios, rindo para sua mãe, nos deixou para entrar na vida espiritual e ao lado dos anjos continuar sua vida, na eternidade. Minha neta querida, nascida com Síndrome de Down e com uma grave lesão cardíaca lutou pela vida durante sete meses. Foi uma batalhadora e nos deu uma lição de força interior que muitos marmanjos não possuem.
Após uma cirurgia cardíaca de seis horas de duração, com circulação extracorpórea e coração parado, na tentativa de consertar lesões quase irreparáveis, ela desistiu e entregou sua alma a Deus, para desespero de seus pais, avós, avós emprestados como eu, tios, parentes e amigos que torceram por ela em sua curta existência, com todo o ardor e fé.
A “piriguete” do CTI do Centro Pediátrico da Lagoa, pois esse foi o apelido que médicos e enfermeiras lhe colocaram, em seu último dia de vida aprontou poucas e boas. Com um coraçãozinho “melhorado”, mamou com uma sofreguidão nunca antes vista, em função da deficiência da qual era portadora. Por causa dessa mamada desvairada, seu intestino funcionou intensamente e ela sujou-se dos pés à cabeça, dando um trabalho danado até ficar completamente limpa; com uma vitalidade impressionante deixou a equipe em polvorosa, quando suas mãozinhas se soltaram e ela quase arrancou tubos e cateteres que estorvavam sua existência.
Na realidade, essa melhora espontânea, era seu aviso final; para mim ela quis dizer: “eu não tenho mais forças para lutar, tenho consciência que fui muito amada e que amei a todos que fizeram o possível para me manterem viva, mas eu estou esgotada e não tenho mais forças, estou cansada. Com esse meu coração em pandarecos só tenho a agradecer a vocês, meus amados pais, por todo o amor que me dedicaram e todo o esforço que fizeram para tornar minha vida menos difícil.
A meus avós o meu reconhecimento pelo esforço e dedicação que me cercaram; a meus familiares e aos amigos de minha família, minha gratidão pela torcida em prol do meu pronto restabelecimento. Até aqueles que me torturaram, com várias agulhadas na tentativa de tirar amostras do meu sangue, para exames, eu também agradeço muito, pois fizeram isso para o meu bem, tentando me ajudar.
Mas eu estou cansada, foram quase sete meses de luta e sinto que minhas forças se foram, tenho consciência de estar no fim. Mantenham-me sempre viva na lembrança de vocês, lá do alto estarei velando por todos e puxando a orelha daqueles que se desviarem do bom caminho. Não chorem a minha morte, muito pelo contrário, riam das travessuras que fiz, do meu sorriso de satisfação por me sentir amada, por ter preenchido, mesmo que por tão pouco tempo, um espaço no coração de todos e, porque não, modificado a maneira de encarar a vida de muitos dos que me cercam.
A você, minha mãe, meu muito obrigado e não se desespere, pois sei que você só não fez mais por mim, porque era humanamente impossível. A você, meu pai, meu muito obrigado por ter estado ao lado de minha mãe dando toda a força e suporte que ela precisava. Aos demais agradeço de coração, mesmo que ele esteja todo “caquerado”, ao torcerem pela minha recuperação.
Um até breve a todos e tenho certeza que nos encontraremos um dia na eternidade. Lembrem-se de que ninguém é esquecido enquanto permanecer vivo na memória de alguém.
E no dia 7 de julho de 2012, o coração de Isabella parou em definitivo e ela nos deixou”.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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