O Detran não pode ser sério

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 04 de novembro de 2020

Há pelo menos 15 dias que não se consegue agendar transferências de propriedade de veículos, fazer o licenciamento anual ou emplacamento de carros novos. Segundo explicações colhidas entre pessoas que lá trabalham, não foi renovado o contrato com a fábrica de placas que fazia o serviço e, até agora, não foi fechado um novo convênio. O resultado é a dor de cabeça que isso causa aos proprietários de veículos, sem falar nos prejuízos monetários.

No caso de aquisição de um veículo novo, quem tem convênio com o programa “onda livre” não pode regularizar o serviço, pois para isso é necessário que o carro esteja emplacado. Em consequência, paga-se duas vezes pelo serviço: a mensalidade mais o pagamento do pedágio, quando se transita por estradas privatizadas. Além do mais, é muito arriscado sair do estado apesar das informações de que com a nota fiscal do novo veículo e do protocolo de solicitação do serviço, junto ao Detran, pode-se transitar pelas estradas de outros estados, federais ou não. O problema é que ninguém tem culpa da esculhambação que tomou conta do Rio de Janeiro, nos últimos 30 anos, e a probabilidade de se ter o veículo aprendido pelo controle, nas estradas, é real. Os outros estados já realizam esse serviço, pelo menos o de Minas Gerais e do Espírito Santo.

Na realidade fui muito ingênuo e coloquei na nota fiscal do meu carro meu endereço de Nova Friburgo e dei entrada no Detran com o pedido de emplacamento. Se tivesse acionado um despachante nos estados que citei, teriam me mandado um endereço, que sairia na minha nota fiscal e eu já estaria com a placa e a documentação regularizada. Fui querer ser cumpridor dos deveres de cidadão e me dei muito mal. Ser honesto no Rio de Janeiro de hoje é uma grande burrice.

A informação que se recebe é que não há previsão para restabelecimento do serviço, ou seja, nada de transferências, nada de emplacamentos, por tempo indeterminado. Ao que parece a questão é a seguinte: desde que o governador, ou seria ex, entregou a escolha do diretor do órgão máximo do trânsito do estado para a Assembleia Legislativa, já estamos no quinto indicado. Se cada um que passa a ocupar o gabinete do chefe se dá ao direito de escolher uma nova fábrica de placas, aonde iremos parar ou será que temos tantos fabricantes no mercado? Ou existem outros motivos?

Na Europa e, creio que nos Estados Unidos também, a placa é do dono do veículo, ou seja, quando ele adquire um novo ou usado, a placa continua a mesma, passa de um veículo para outro. Aliás, é por isso que na França, quando se compra carros, o emplacamento e a documentação são feitos no próprio local da compra. Ela é, então, enviada para o órgão regulador da circulação de veículos pela própria agência; com isso diminui-se a burocracia e o molha mão, tão característico no nosso estado.

Fazer qualquer serviço, no Detran, sem o auxílio de um despachante é uma batalha encarniçada, que só se consegue depois de muita luta. Nada contra os despachantes, pois eu mesmo não abro mão do meu, mas o final feliz deveria ser igualitário.

Lembro-me, quando ainda havia vistoria anual por aqui e em outros estados já tinha sido abolida, emplaquei um carro no Espírito Santo. Mandei a nota fiscal e a minha documentação para um despachante e, em uma semana, estava recebendo pelos Correios placas e o DPVAT. Simples, não? Tenho um amigo que trocou de carro na mesma época que eu, e já está com tudo regularizado, podendo inclusive viajar para fora do estado, com seu veículo. Simples, não?

Maldito estado, onde a corrupção é a tônica e seguindo a máxima de Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. Porque fui nascer logo aqui? Ao invés de ser sofredor, torcendo pelo Botafogo, poderia ser Internacional ou Grêmio, São Paulo ou Santos e muitos outros clubes vencedores espalhados por esse Brasil.

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