O Brasil não é para principiantes

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 20 de abril de 2022

O Brasil mais parece o “samba do afrodescendente ensandecido” que antes da instalação do “politicamente correto”, era chamado de “Samba do Crioulo Doido”, obra do magistral Sérgio Porto, mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta. Digo isso porque somos o único país do mundo em que o carnaval vai ocorrer após a Semana Santa. Pelo calendário católico cristão, a quaresma é o período de 40 dias após a festa pagã do carnaval, que termina no Domingo de Páscoa, ápice da Semana Santa.

 Como na Terra de Cabral os acontecimentos mais marcantes acontecem em São Paulo ou no Rio de Janeiro, e como os desfiles das escolas de samba do grupo especial, nesses estados, serão nesta sexta-feira, 22, e no sábado 23, somado aos pontos facultativos de hoje, 20, e sexta feira, 22, decretados pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro e a prefeitura da capital, teremos os quatro dias de festejos momescos no mês de abril, depois do Domingo de Páscoa.

Claro que algo está por detrás dessa aberração, uma vez que simples desfiles de escolas de samba não deveriam acarretar tamanho disparate. Dizem as más línguas que essa é uma exigência de milicianos e traficantes do Rio de Janeiro, desde que o comando das escolas saiu das mãos dos bicheiros e foi repousar em outras plagas. Pelo sim pelo não, é muito estranho que tanto o governador do Estado como o prefeito carioca aceitem pressões de quem quer que seja, principalmente, quando o país está saindo de uma grave crise financeira. Afinal, foram dois anos em que a economia mundial como um todo e a brasileira, em especial, foi afetada pela pandemia da Covid-19 e a salvação passa pela recuperação dos dias e horas perdidas e não por um aumento da ociosidade.

É falso dizer que o povo assim exigiu, pois, pesquisas feitas com relação ao adiamento dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro em decorrência da pandemia de Covid-19, não foi aprovado pelos fluminenses, segundo pesquisa Datafolha; de acordo com o levantamento, 69% dos entrevistados são contra a realização da festa agora em abril, enquanto 26% são a favor. Indiferentes são 4%, e 1% não soube opinar. Já sobre os blocos de rua, quando se perguntou aos entrevistados se participariam dos desfiles, 89% disseram que não pretendem participar, enquanto 10% disseram que devem ir curtir a folia nas ruas. Apenas 1% não soube responder. O Datafolha ouviu 1.218 pessoas, com 16 anos ou mais, entre os últimos dias 5 e 7 em 30 municípios fluminenses. A margem de erro é de três pontos percentuais.

O que salta aos olhos, nessa pesquisa, é que as pessoas ouvidas se mostram muito mais conscientes do que os responsáveis pelos destinos do estado e da cidade do Rio de Janeiro. Sem falar que se por um lado a pandemia está sob controle, sendo classificada agora como endemia, os casos não acabaram. Não se pode prever qual será o resultado da aglomeração de pessoas nas arquibancadas do sambódromo, em que a fiscalização para uso de máscaras será impossível.

Dois anos de “fique em casa”, de restrições ao ir e vir, realmente mexeram com a cabeça das pessoas, tanto é assim que os consultórios de psiquiatras e psicólogos nunca foram tão procurados. No entanto, a distensão tem de ser gradativa, sob o risco de vermos um retorno a enfermarias e UTIs cheios de contaminados pelo vírus da Covid-19. A volta à normalidade é algo que todos queremos e nos alegra muito, mas temos de ter sempre em mente de que todo cuidado é pouco.           

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