Friburgo, como era de se esperar, lotou no feriadão

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 07 de abril de 2021

Como era de se esperar, Nova Friburgo lotou na semana passada durante o superferiadão espetadual. As ruas principais do Cônego, retrato fiel do movimento de turistas, ficaram cheias de carros e o comércio essencial botando gente pelo ladrão. A feirinha em frente à igreja de Sant’Ana funcionou a todo vapor. Com o “feriadão” no Rio e em Niterói, quem tinha casa na serra viajou e veio se descontrair no ar puro das montanhas de Friburgo. Nada contra, pois eu poderia ter ido para Cabo Frio e passar a Páscoa na Região dos Lagos. Lá, a espera para transpor as barreiras sanitárias era de duas horas. Quem possui casa aqui e paga IPTU tem todo o direito de usufruir quando bem lhe aprouver.

Com praias, bares, restaurantes, shoppings, cinemas e teatros fechados seria realmente muito difícil para a população ficar trancafiada dentro de casa; quem tinha condições aproveitou. Ainda mais que quarentena rígida, lock-outs e outras medidas restritivas que não tiveram o consenso dos estudiosos. Muitos as defendem, outros são contrários. Além do mais, agora em abril, completa-se um ano e meio de pandemia período em que a vida de todos nós virou de cabeça para baixo, muitos ficaram desempregados, muitos comerciantes faliram e a economia dos países foi completamente comprometida.

 Parece ser unanimidade que o distanciamento social, as medidas de higiene, o uso de máscara e, principalmente, a vacinação em massa são as medidas mais efetivas para frear a disseminação do vírus. Tanto isso parece ser real, que Thierry Breton, comissário junto à indústria encarregada da implantação das vacinas na comunidade europeia, declarou que a imunidade coletiva contra o novo coronavírus poderá ser atingida pelos 450 milhões de habitantes da União Europeia, na metade de julho (notícia de destaque na edição de ontem, 6, do jornal Le Monde).

Eu, em particular, não acredito, pois a vacinação patina em solo europeu, com apenas 11,61% da população atendida. Lá as entregas também estão atrasadas e a comunidade europeia tem dificuldades em partilhar as doses adquiridas. Enquanto isso, no Brasil, já temos 19,4 milhões de habitantes imunizados, o equivalente a 9,2%. No entanto, nós somos metade da população do velho continente e ao contrário de lá, nosso número de vacinados tende a aumentar, com a produção em larga escala do Butanan e da Fundação Oswaldo Cruz. Sem falar na compra de lotes de outros fabricantes. Aliás, o Ministério da Saúde estima serem necessárias 425 milhões de doses para imunização de toda a população brasileira, até o final do ano. O maior problema é que dependemos de fabricantes de fora do país e nem sempre o organograma deles pode ser cumprido fielmente.

É certo que, no Brasil, a situação é caótica, vários estados estão com a capacidade hospitalar quase esgotada no que se refere à internação em UTIs; no caso de Friburgo, na quinta feira santa (último dia 1º) havia pouquíssimas vagas disponíveis, uma no Hospital Raul Sertã e outra no Hospital São Lucas. Os hospitais Unimed e Serrano estavam com 100% das vagas ocupadas. Mas, infelizmente, esse caos é mundial, só havendo melhora do quadro naqueles países onde a imunização atingiu mais de 40% da população.

Em nossa cidade, a prefeitura decretou bandeira roxa que não sabemos ser uma realidade sanitária ou uma possível prevenção pelo iminente encerramento das atividades da empresa de ônibus. É que nessa cor a frota só roda com capacidade aumentada nos horários de pico, entre as 6h e 10h e entre as 17h e 20h. No entanto, os comerciantes não estão satisfeitos com a ordem de fechamento do comércio, pois salários, contas a pagar, impostos e outras taxas continuam chegando para serem quitadas. Na outra ponta, supermercados, farmácias, padarias e feiras livres continuam funcionando o que causa aglomeração do mesmo jeito. Talvez a abertura do comércio, com limitação do número de consumidores, no interior das lojas, fosse mais inteligente e menos desgastante.

Outro disparate que chama a atenção é que as indústrias podem abrir com a capacidade limitada, mas as confecções têm de permanecerem fechadas. Afinal, confecção é igual a  lanchonete, bar ou restaurante? Nada contra esses estabelecimentos, mas para eles ainda resta a opção do delivery.

Nesta terça feira, 6, soube pelo informativo da TV Zoom que a prefeitura decidiu reabrir o comércio na Avenida Alberto Braune, de acordo com o número do CNPJ. Os de final par abrem nos dias pares e os de final ímpar, nos dias ímpares. É uma meia sola gasta.

A sensação que tenho é de que sai prefeito entra prefeito e Nova Friburgo continua a deriva.

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