E o Credit Suisse quebrou levantando dúvidas sobre a solidez dos bancos suíços

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

terça-feira, 21 de março de 2023

Deve ser muito difícil admitir que um país que sempre alardeou superioridade em relação a outros, principalmente sobre os subdesenvolvidos, esteja atolado até o pescoço, naquilo que sempre foi a sua menina dos olhos. Falo da Suíça e de seu tão “seguro” sistema bancário, alardeado aos quatro ventos por seus orgulhosos cidadãos e pelo próprio governo. No entanto, não foi o que se viu com a “quebra” do Credit Suisse, semana passada, instituição financeira que era considerada o “filé mignon” do sistema bancário helvético.

Como afirma o Swissinfo.ch, em sua edição de segunda-feira, 20, “Os bancos suíços são prudentes e confiáveis em períodos de turbulência. A compra urgente do Credit Suisse pelo UBS Group Ag, também suíço por 3,23 bilhões de dólares (cerca de R$ 17 bilhões) quebra essa imagem e prejudica a credibilidade do setor bancário suíço”. Esse valor foi informado pelo Banco Nacional da Suíça (SNB na sigla em inglês), no último domingo, 19. Segundo a Agência Reuters, o acordo também inclui uma assistência de liquidez de 108 bilhões de dólares (R$ 568,86), por parte do SNB.

Um outro problema é que essa compra levou ao desaparecimento de 16 milhões de francos suíços de obrigações emitidas pela instituição financeira, que não têm mais nenhum valor. De acordo com um detentor de obrigações do banco, segundo o Financial Times, isso terá consequências a longo prazo, para qualquer dívida monetária helvética. Em outras palavras, significa que futuros investidores poderão pensar duas vezes, antes de colocar seu dinheiro nas obrigações de empresas suíças.

De acordo com o Valor Investe, como se não bastasse a crise bancária desencadeada pela quebra do Silicon Valley Bank (SVB) nos Estados Unidos, no último dia 15, os mercados despencaram com notícias envolvendo o Credit Suisse. Dessa vez, o estopim foi o anúncio de que seu principal acionista, o Saudi National Bank, da Arábia Saudita, não vai aumentar sua participação na instituição.

Mas, o que aconteceu com o banco helvético? O balanço do Credit Suisse no quarto trimestre de 2022, divulgado em fevereiro, mostrou que ele teve o quinto prejuízo consecutivo. No entanto, o problema não foi só esse. Na última terça-feira (14), a empresa informou ter identificado "fragilidades materiais" significativas em seus relatórios financeiros dos últimos dois anos.

Os problemas, portanto, não são de hoje. Recentemente, duas empresas deram ao Credit Suisse prejuízo de US$ 15 bilhões ao falirem após tomarem recursos do banco. Investigações mostram que houve falhas na análise de riscos da instituição suíça. Assim, vem sendo criada uma insegurança a respeito do funcionamento e, consequentemente, do futuro do banco.

Complicou tudo o fato do Credit Suisse atravessar uma crise de confiança que se arrasta há anos, e culminou agora em um problema estrutural graças a uma somatória de fatores, que combinam tanto questões internas quanto de mercado: histórico de má governança que inclui acusações de fraude, suspeitas de lavagem de dinheiro e até espionagem de executivos; apertos monetários pelos bancos centrais (sim, eles mesmos, os juros), que afetam a liquidez do mercado como um todo; série de prejuízos seguidos, inclusive o último de 7,3 bilhões de francos suíços (quase 8 bilhões de dólares) no ano passado; a quebra de instituições bancárias nos Estados Unidos, que contaminou o setor como um todo; por fim, a revelação das "fragilidades materiais" nos balanços referentes a 2021 e 2022.

Aliás, foram as “fragilidades materiais”, aqui conhecidas como “inconsistência contábil” que causaram o rombo de R$ 20 bilhões na rede Lojas Americanas. Isso levou a empresa a solicitar uma tutela cautelar, ou seja, uma proteção à Justiça, para evitar a antecipação de vencimento de dívidas que, segundo a companhia, somam R$ 40 bilhões. Lá como aqui o vil metal leva a ações impensadas, que quando vêm à tona são capazes de desestabilizar as instituições ditas sólidas. Desenvolvidos ou subdesenvolvidos os países são conduzidos  por homens, nem sempre acima de qualquer suspeita.

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