Dez anos se passaram desde a maior tragédia climática

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

No dia 10 de janeiro de 2011 já estava chovendo, aumentando o fluxo de água pelo Rio Bengalas, cujos afluentes também tinham um volume acima do normal; os morros já estavam encharcados e a cidade de Nova Friburgo mantinha sua atividade típica de um janeiro de férias, sem que ninguém pudesse adivinhar o que estava para acontecer. O dia seguinte também foi de chuvas fortes, mas foi na madrugada de 12 de janeiro que as torneiras do céu se abriram e transformaram Nova Friburgo num extenso lamaçal, com deslizamentos de morros, soterramento de casas e pessoas, um verdadeiro dilúvio em menos de 24 horas. Choveu em torno de 182,8 milímetros, volume esse, que de acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), foi 62% maior que o volume máximo, de 113 mm, em 24 de janeiro de 1964.

Em 13 de janeiro daquele ano o portal www.swissinfo.ch divulgou: "Submetida a uma chuva torrencial desde a véspera, dia 11, logo assim que escureceu e durante toda a madrugada, a cidade teve um exorbitante registro de tragédias relacionadas com transbordamentos de rios e riachos, desabamentos, soterramentos, derrubada de árvores, postes, pontes que foram carregadas pela enchente, deslizamentos de pedras etc. E o que é mais sério, houve um grande número de mortos e de pessoas desaparecidas.

Infelizmente a maioria das cidades brasileiras tem tido um crescimento acelerado de habitações, ruas de acesso aos novos bairros etc., mas um crescimento da pior forma possível, um crescimento desordenado quanto aos gabaritos oficiais, sob todos os aspectos, principalmente nas partes onde se concentram as populações mais carentes: nas beiras dos rios, nas encostas de morros, nas colinas, nas montanhas, onde as pessoas constroem os mais diversos tipos de habitação, quase sempre ocupando espaços inimagináveis, tanto exíguos quanto inadequados”.

Essa catástrofe que deixou, no seu rastro, mais de 900 mortos na Região Serrana, oficialmente pouco mais de 400 somente em Nova Friburgo, atingiu, também, Petrópolis e Teresópolis com igual poder de destruição e de vítimas fatais e desabrigados. Foi tão marcante, a ponto de ser notícia no mundo inteiro, pois o poder da internet faz com que esses acontecimentos tenham divulgação quase imediata.

Lembro-me que apesar de ter um sono profundo, acordei de madrugada com o barulho dos trovões, que se sucediam e da chuva batendo no telhado, num estrondo também grande; ao escorrer pelas telhas, a impressão que se tinha era que se despejavam baldes de água em movimento constante e sucessivo, tal o volume de água que produzia.

Os moradores do Cônego na manhã do dia 12, não faziam ideia da destruição que se produziu no centro e bairros adjacentes. Só à medida que iam acordando, tomaram conhecimento da extensão da tragédia. Confesso que demorei a prestar socorro aos meus sogros, que na época moravam na Rua Trajano de Almeida, no Paissandu, pois um córrego na saída de minha rua transbordou e jogou uma camada de lama na ponte, de quase um metro. Tivemos de esperar um trator remover todo o entulho, para podermos prestar socorro aos nossos familiares.

Dentro da casa de meus sogros, mais alta que o nível da rua em quase um metro, a água subiu cerca de 80 centímetros e eles só se salvaram porque conseguiram ficar em cima do colchão, que com uma camada de isopor em baixo, teve o poder de flutuar; senão teriam se afogado. Mas escaparam, também, de serem soterrados, pois um morro atrás da casa deslizou e se tivesse derrubado o imóvel de trás, tudo iria de roldão. A sujeira dentro de casa era uma tristeza.

O que mais se viu foi lama por toda a parte, com o Paissandu atingido, a destruição lastrando no Suspiro com a Igreja de Santo Antônio em lastimável estado, assim como a Praça das Colônias e os imóveis ao redor. Quase impossível chegar a localidades mais distantes como Conselheiro Paulino e Riograndina, que tiveram nos helicópteros, sua grande tábua de salvação.

A cidade se mobilizou em socorro às vítimas e era pungente a passagem dos caminhões, entulhados de sacos pretos, que guardavam as vítimas fatais. Pior foi a tristeza do reconhecimento dos corpos concentrados no ginásio do antigo Colégio Ribeiro de Almeida, atual Instituto de Educação (Ienf), na Praça Dermeval Barbosa Moreira. Mas, o espírito de solidariedade dos friburguenses e o trabalho incansável do Corpo de Bombeiros, dos médicos nos hospitais da cidade, da Marinha e do Exército brasileiros e da nossa imprensa, onde repórteres, cinegrafistas e técnicos foram importantes na divulgação dos acontecimentos, foram de ajuda inestimável.

O saldo positivo é que muitas obras de contenção de encostas e drenagem dos rios foram feitas, ao longo desses dez anos e, pelo menos por ora, os acontecimentos trágicos ficaram na lembrança de todos, mas não se repetiram mais, com a mesma intensidade.

Passados dez anos desta tragédia, parabenizo a todos que deram sua contribuição para minorar o sofrimento das vítimas de janeiro de 2011.

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