Cinquenta anos de formado em Medicina, eis uma data marcante na minha vida

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 03 de julho de 2024

No último dia 28 de junho rezei e agradeci a Deus por ter me concedido a felicidade de estar vivo no dia em que completei 50 anos de formado, pela faculdade de medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF). Naquele longínquo junho de 1969, eu e mais 127 vestibulandos, iniciávamos um curso que ao seu fim nos abriria as portas de uma carreira linda e nobre; seria o coroamento de nossos sonhos e estaríamos prontos para iniciarmos nossa vida profissional.

O início não foi fácil, pois começávamos um curso universitário dos mais difíceis e o Brasil vivia uma ditadura implantada quatro anos antes. Para complicar ainda mais a vida daqueles futuros doutores, em 1968 foi editado o famigerado AI-5 que endureceu ainda mais o regime, acabando de vez com a liberdade individual dos cidadãos. Imagine-se 128 jovens, a maioria entre 18 e 20 anos, numa idade em que a contestação é uma realidade, estudando numa universidade e tendo de refrear seus protestos, pois o risco de ser levado pelo DOPS era muito grande. Felizmente, nossa turma passou incólume por esse período.

Em 28 de junho de 1974, finalmente nosso sonho se tornou realidade e tivemos acesso ao tão sonhado CRM, que nos assegurava o direito de exercermos a nobre arte de curar. Nossa formatura foi no antigo teatro, do também antigo Hotel Nacional, em São Conrado, no Rio, e nosso baile de formatura, animado por um dos mais famosos conjuntos da época, Ed Lincoln e seu conjunto, no clube Monte Líbano, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Passados 50 anos teremos uma grande confraternização no Hotel Porto Belo, em Mangaratiba, esperando que um grande número de colegas possa comparecer, para que esse momento seja realmente marcante em nossas vidas. Afinal, o avanço da medicina, que a minha turma ajudou a tornar uma realidade, propiciou que festas de jubileu de ouro entre formados se tornasse uma realidade. Meu saudoso pai, que morreu três anos antes da minha colação de grau, formou-se também em medicina, em 1948. Na comemoração de seus 50 anos de formatura, em 1998, e que ele já não estava mais entre nós, muitos colegas já tinham falecido. Não era comum jubileu de formatura com muitos participantes.

Exerci a medicina durante 43 anos, pois me aposentei em 2017. Devo tudo que tenho a minha profissão a qual procurei desde o início dedicar-me com honestidade e dignidade; creio que pude cumprir o juramento que fiz na minha formatura e que diz: “Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência e que a saúde do meu doente será a minha primeira preocupação. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário”.

Seja como médico do antigo Inamps, do Sesi, como plantonista do saudoso Hospital Santo Antônio, hoje Raul Sertã, seja no meu consultório particular colecionei muitas histórias engraçadas, tristes, verdadeiras vitórias ou derrotas que talvez pudesse ser transformada num livro. No entanto, uma me marcou e faço questão de mencioná-la aqui. Dediquei-me à Endocrinologia e o meu maior número de pacientes era de diabéticos e obesos, duas categorias difíceis de serem acompanhadas.

Tive uma paciente diabética, hoje advogada (estou falando de você mesmo, dra. Cynthia) rebelde como todo jovem e ainda por cima diabética. Eis que com mais de 25 anos de doença resolveu engravidar o que a colocou na lista de gravidez de altíssimo risco se a empreitada fosse levada a cabo.

Pois bem, um belo dia, já aposentado, fui comunicado da sua gravidez. Fiz questão de indicar a endocrinologista para acompanhar a sua gestação e qual não foi a minha surpresa e emoção ao saber que ela tinha dado à luz a um casal de gêmeos. Graças a Deus minha ex-cliente está muito bem, cuidando melhor do seu diabetes, não só em função da própria idade como da responsabilidade de ser mãe.

Confesso que chorei lágrimas de felicidade, no dia 28 de junho, data marcante na minha vida e da qual me orgulho muito. Obrigado à Medicina que me deu tudo na vida, aos meus pacientes que confiaram no meu profissionalismo e aos meus colegas de faculdade, os atuais e os que já se foram, pois fazem parte da minha existência.

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