Voto consciente

sábado, 14 de novembro de 2020

Para pensar:

"A atenção é a mais importante de todas as faculdades para o desenvolvimento da inteligência humana.”

Charles Darwin

Para refletir:

“A virtude é o primeiro título de nobreza; eu não presto tanta atenção ao nome desta ou daquela pessoa, mas antes aos seus atos.”

Molière

Voto consciente

Os últimos dias têm sido extremamente turbulentos, uma experiência antropológica que vem mostrando a quantidade de pessoas dispostas a abrir mão de princípios em nome de um objetivo pessoal, e também o tipo de consequência que esse tipo de postura, quando adotada coletivamente, traz à sociedade.

Em linhas gerais a campanha pela prefeitura em Nova Friburgo tem sido muito, muito baixa, com raras e louváveis exceções, que podemos exaltar no futuro.

Muleta

A VOZ DA SERRA esteve várias vezes na linha de tiro, e não poderia ser diferente num momento em que tantas equipes a serviço de grupos específicos - muitas vezes assumindo esta condição - reivindicam credibilidade como se isentas fossem e invertem os fatos, ridicularizando tudo que não lhes seja favorável em meio a acusações vazias.

De fato, já faz tempo que chamar a imprensa e a mídia de podre, de lixo, tornou-se muleta para narrativas reducionistas, teatralizadas e populistas, de “luta contra o sistema”.

Quantos são os que percebem o objetivo claro (e os riscos) de unir poder, máquina pública e monopólio sobre a verdade, ou que se incomodam com isso?

Coerência

Este espaço, todavia, se dirige a quem ainda leva a si mesmo a sério, e conserva respeito pela própria opinião.

Não chegamos aqui há pouco tempo, e nos dois últimos mandatos demos demonstrações muito claras, para quem quis ver, de que nossa linha editorial não está à venda e não se altera quando da prestação ou não de qualquer serviço ao poder público.

Por coerência, quem chama a mídia de vendida, quem critica a associação entre verbas públicas e linha editorial, deveria reservar a devida atenção a este veículo.

Credibilidade

Sabemos, no entanto, que na maioria das vezes não se tratam de acusações com substância, mas genéricas e levianas, com objetivos muito claros, e que por isso não se portam com coerência.

É sintomático, por exemplo, que, no momento de tentar dar credibilidade a uma notícia falsa, tantos grupos que atacam a mídia insiram marcas da imprensa séria nas peças que inventam.

Pouco importa.

Os muitos leitores que dão vida a este espaço dão seguidas demonstrações de que ainda existe público para conversas mais sérias, e hoje precisamos ter uma dessas.

Conjuntura frágil

Como dissemos no início desta semana, o momento é delicado e muito perigoso para Nova Friburgo.

Em meio a essa conjuntura louca de pandemia e vácuo de liderança o número de candidatos explodiu, quase que triplicou, agregando riscos e oportunidades num momento em que o processo de formação de opinião encontra-se fortemente prejudicado.

A árvore e os frutos

Sabia-se, desde o início, que a pulverização de tempo e espaço, aliada ao curto e limitado período de campanha, levaria grupos menos afeitos a ética a tomar os rumos da apelação, da busca por gatilhos, atalhos, e o voto fácil, automático.

De certo modo, contudo, isso serviu para que muitas máscaras pudessem cair.

É fácil, afinal, reconhecer quem trata o eleitor como criança, quem interpreta um personagem estereotipado, quem evita propostas concretas e factíveis e se esforça por mergulhar a disputa municipal na polarização federal.

Critérios práticos

O que ninguém diz ao eleitor é que, no Brasil inteiro, a escolha de partidos por parte de quem pretende se candidatar na esfera municipal se dá - com exceções fáceis de perceber - por critérios em nada relacionados a ideologia.

“Quais as opções que eu tenho?” “Quais os partidos que estão carentes de liderança municipal?” “Onde tenho mais chances de me eleger?” “Onde terei mais apoio e liberdade?” “Qual o discurso que rende mais votos atualmente?”

Além, é claro, das muitas candidaturas movidas por convites de amigos.

Ingenuidade

Seria ótimo se tivéssemos apenas cinco ou seis partidos, todos com bandeiras bem definidas.

A realidade, contudo, é de que a política - com exceções que todos conhecem - é o quintal dos caciques, local de tráfico de influência, de venda de apoio e tempo de TV.

É ingenuidade demais acreditar que pelo partido automaticamente se reconhece o caráter, tanto mais quando resta evidente que políticos picaretas sempre migrarão para onde a popularidade é maior.

Separar o joio do trigo é - ou deveria ser - parte do processo de escolha.

Vale sempre pesquisar

A Justiça disponibiliza muitas informações valiosas ao eleitor que busca se aprofundar.

O recente debate promovido entre os candidatos a vice-prefeito trouxe à tona por exemplo, que há candidatos aqui em Nova Friburgo respondendo a processos e/ou com dívidas ativas medidas em dezenas ou mesmo centenas de milhares de reais, algo que parece preocupante para quem pretende ser gestor de uma cidade do porte de Nova Friburgo.

São informações públicas, ao alcance de qualquer um.

Olhar com atenção

Fato é que a experiência cobrindo política e lidando com a maioria dos grupos que agora se candidatam aponta para um cenário curioso e perigoso, no qual ao menos quatro grupos estão nitidamente com objetivos não republicanos, ao passo que alguns grupos sérios parecem invisíveis em razão do partido pelo qual militam ou por não haver a crença de que têm chances reais.

Curioso esse processo, no qual tantos sentem que não podem ou não devem votar em quem gostariam, especialmente numa eleição que se revela aberta e indefinida, por mais que muitos grupos tentem dizer o contrário.

Tudo aberto

Eleições internas simuladas pelas empresas 3F e Predial Primus reforçam essa percepção.

Na primeira, como seria de se esperar, o resultado foi bem semelhante àquele obtido na Stam.

Já na segunda, o que se viu foi um agravamento das tendências apontadas pela pesquisa encomendada por A VOZ DA SERRA.

Enfim, o jogo está aberto, e a bola está nos pés do eleitor.

Alerta

Por fim, fica aqui mais uma vez o alerta a respeito da boca de urna.

Se algum eleitor testemunhar esse tipo de situação tem o dever de denunciar.

E mais: quem joga o vale tudo precisa ser punido nas urnas. Somente o eleitor tem o poder de estabelecer as regras daquilo que funciona ou não funciona, daquilo que é ou não é aceitável, daquilo que o convence ou não convence.

A moralização da política começa pelo eleitor, pela sua autoestima, pela forma como espera ser tratado.

Bom voto!

A todos os leitores, que neste espaço ajudaram a contar a história de anos difíceis e frustrantes, fica o desejo de que votem de maneira consciente, que se façam respeitar, e que continuem aqui após as eleições, cobrando que as promessas feitas sejam cumpridas.

Seguiremos juntos, na esperança de que o contexto nos permita elogiar mais e criticar menos.

Bom voto a todos.

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