Trocando as bolas

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Para pensar:

"Quando somos incapazes de encontrar tranquilidade em nós mesmos, é inútil procurar noutros lugares.”

François de La Rochefoucauld

Para refletir:

“Uma das formas mais sinceras de respeito é verdadeiramente escutar o que uma pessoa tem a dizer.”

Autor desconhecido

Trocando as bolas

Quem tem mais de 40 anos provavelmente irá se lembrar de uma clássica comédia dos anos 80, que no Brasil ganhou o nome de “Trocando as bolas”, e que durante anos integrou aquele famoso rol de filmes habituais da Sessão da Tarde.

Essencialmente, a trama brinca com a eterna discussão a respeito do quanto o ambiente e as condições ofertadas afetam (alguns diriam que determinam) o comportamento e a postura de cada um, na medida em que dois milionários excêntricos fazem uma aposta a respeito dos comportamentos que seriam observados caso um cidadão em situação de rua e um executivo de sucesso tivessem suas vidas trocadas do dia para a noite.

Novos papéis

Na política friburguense, ao longo dos próximos anos, veremos algo mais ou menos nessa linha.

Políticos que até aqui sempre foram fiscalizadores, sempre cobraram, serão agora fiscalizados e cobrados.

E outros, que sempre navegaram nas águas tranquilas do assistencialismo, que sempre fizeram dos próprios gabinetes verdadeiros balcões de favores e negócios, que sempre adotaram o discurso populista de que “criticar é mais fácil do que fazer”, agora tentarão ser convincentes enquanto encenam um papel que jamais quiseram interpretar.

Reducionismo

O meio político costuma utilizar muito a metáfora segundo a qual a bancada de oposição seria a pedra e a bancada de governo seria a vidraça.

O colunista, contudo, não se sente confortável com essa ilustração, pois ela dá a entender que a oposição sempre irá criticar, que isso “faz parte do jogo político”, como se tudo não passasse de um teatro às avessas, onde são os atores que riem da plateia.

Não, não é bem assim.

Realidade local

A questão é que, entre erros e acertos, ao menos em mandatos recentes, Nova Friburgo esteve muito mais bem servida de quadros políticos na oposição do que na situação.

Um reflexo, é claro, de gestões municipais abaixo da crítica, que dependeram fortemente de costuras e loteamentos de poder para que pudessem contar com apoio no plenário, e, por isso mesmo, se cercaram de vereadores afeitos a esse tipo de visão menor a respeito do que significa exercer um mandato.

E as urnas têm deixado bem claro que a população compreendeu isso.

Ameaçados

Ocorre, caros amigos, que caráter não é o tipo de virtude que se pode comprar em farmácias.

Quem não chegou ao plenário em razão da confiança popular, mas dos favores e empregos que conseguiu, só pode mesmo ver a política como “um jogo”.

E, nesse jogo, uma gestão que esteja fechada a práticas de apropriação da coisa pública só pode ser tratada como uma ameaça por quem pendurou mais de 50 pessoas no cabide municipal ao longo dos últimos anos.

Desse tipo de gente, não dá para esperar uma oposição legítima ou qualificada.

Jogando contra

De fato, várias declarações já têm sido dadas nesse sentido, longe dos microfones.

Já teve gente dizendo que irá elaborar indicações legislativas “defendendo” medidas de apelo populista que todos sabem que não cabem no orçamento, já teve gente dizendo que vai bombardear o governo com requerimentos de informação na esperança de que algum deles não seja respondido no prazo e isso possa suscitar complicações de natureza jurídica ao próximo governo.

Vacina

Numa visão mais ampla, tudo parte de um plano que pretende reduzir a popularidade e a confiança popular para, caso a chance apareça, apresentar um pedido de impeachment do governo que nem ao menos começou.

Acreditem, essa palavra já andou sendo usada.

A coluna avisa antes, para que os leitores já tenham os necessários anticorpos quando o espetáculo começar.

Faz sentido?

Afinal, cabe questionar: faz algum sentido que um vereador espere se tornar oposição para apresentar indicações legislativas, quando no passado recente teve portas abertas para lutar por tais ideias com muito mais efetividade?

Faz sentido que alguém que indicou uma centena de nomeados, fazendo, na prática, que todos nós pagássemos mensalmente (e muito caro) pelo seu capital eleitoral, venha agora falar em economicidade?

Faz algum sentido que um vereador que esteve anos no epicentro do governo comece o próximo mandato cheio de dúvidas sobre o contexto administrativo inicial?

Esperança seletiva

A comédia à qual nos referimos no início da coluna também ilustra bem essa situação.

Antes da narrativa abraçar uma segunda reviravolta, o ambicioso executivo efetivamente chega ao fundo do poço moral quando sua desgraça parece não ter limites.

Por outro lado, o morador de rua alçado a negociador na Bolsa de Valores se revela talentoso e à altura dos desafios quando a vida lhe oferece uma chance.

Voltando ao nosso contexto, se não dá para esperar uma oposição qualificada por parte de quem jamais se importou de fato com o interesse coletivo, ao menos dá para ter alguma esperança de que bons fiscalizadores se esforcem por entregar o tipo de gestão que sempre cobraram de governantes que lhes antecederam.

Tomara que sim.

Desanimador

Em meio a tudo isso seguem borbulhantes as costuras voltadas à eleição do próximo presidente da Câmara de Vereadores, num cenário francamente desanimador.

Cargos, cargos, e mais cargos. Aparentemente, tem gente que não consegue ver nada além disso.

E o que dizer de políticos que já não gozam da confiança popular e que terão grande dificuldade para que consigam voltar ao plenário municipal, atuando como caciques, como se controlassem vereadores recém-eleitos?

A população definitivamente precisa dar mais atenção a quem elege no Legislativo...

Vigilância (1)

De sua parte, a coluna entendeu perfeitamente o recado das urnas, e dará total visibilidade a qualquer manobra que tenha por finalidade impedir a mudança na forma de governar que foi exigida pela população.

Estaremos aqui para cobrar coerência dos novos governantes, e criticar no que for necessário.

Nessa tarefa, fiscalizadores éticos e verdadeiros, terão aqui um eco para suas demandas.

Vigilância (2)

Mas, da mesma forma, seguiremos vigilantes para que o novo governo erre ou acerte pelas próprias pernas, e não em função de armadilhas e sabotagens promovidas por quem depende do sofrimento alheio para se perpetuar na política.

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