Ponto crítico

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Para pensar:
"É nos momentos de decisão que o seu destino é traçado.”
Anthony Robbins

Para refletir:
“Quando surgirem os obstáculos, mude a sua direção para alcançar a sua meta, mas não a decisão de chegar lá.”
Autor desconhecido

Ponto crítico

Basta olhar com atenção aos detalhes à nossa volta para notar que estamos nos aproximando, também aqui em Nova Friburgo, de um ponto crítico dentro dos esforços de enfrentamento ao novo coronavírus.

Zona de segurança

Por um lado, a evolução da doença atingiu um patamar no qual é imperioso que a taxa de propagação de cada contagiado seja reduzida, sob pena de saturação das redes pública e privada, com impactos mais negativos sobre a capacidade de atendimento a não apenas esta, mas qualquer outra doença ou condição que demande cuidados intensivos.

Cruzar essa fronteira significa adentrar terreno inseguro e hostil, sem distinção de grupo de risco.

Por aí

Diante da estimativa oficial de subnotificação, é razoável imaginar que aproximadamente mil friburguenses já tenham tido contato com o vírus, o que significa dizer que quem passa em frente às enormes filas de bancos ou vai ao mercado tem chances consideráveis de topar com um transmissor da Covid-19 antes de voltar para casa.

É, enfim, um momento perigoso, no qual qualquer comportamento pode gerar efeitos amplificados.

Limite

Por outro lado, são igualmente claros os sinais de que muitas reservas econômicas estratégicas - quer seja para empresas, quer seja para famílias - estão se esgotando entre os setores mais afetados pelo isolamento social.

E, da mesma forma como a realidade da saúde se altera a partir do ponto de saturação das redes de atendimento, a realidade econômica perde sustentação a partir do momento em que empregos são perdidos e compromissos deixam de ser honrados.

Enquanto há reservas, o dinheiro circula e os efeitos são brandos. Quando estas terminam, a realidade se altera rápida e drasticamente.

Exemplo

A escolas particulares parecem representar um bom exemplo desse tipo de situação.

Muitos esforços vêm sendo levados adiante no sentido de oferecer a melhor experiência de ensino a distância, e é razoável acreditar que teremos aprimoramentos grandes e rápidos nessa frente nos próximos meses.

Todavia, ninguém pode assegurar quando as aulas presenciais vão retornar, e muitos profissionais autônomos enfrentam, neste exato momento, um profundo dilema em relação ao que fazer quanto ao futuro escolar de seus filhos.

Coletivo

Naturalmente, há que florescer a consciência de que todos aqueles que não estão sendo diretamente afetados pela quarentena concentram agora uma responsabilidade histórica para com a sociedade.

Se existem meios para continuar honrando as despesas habituais, é importante que elas sejam honradas. Se existem meios de continuar pagando os profissionais que lhe prestavam serviço, então isso deve ser tratado como prioridade.

A melhor rota de superação da crise reside em todos pensarem de maneira coletiva.

Colapso

Naturalmente, quem não suporta mais a asfixia econômica tende a buscar argumentos contrários ao isolamento e, em tempos de pós-verdade, há até mesmo quem fabrique informações convenientes onde estas não brotam naturalmente.

Em meio a tudo isso, há ainda quem desrespeite deliberadamente as recomendações de segurança, fazendo sua parte para que a sociedade fique com o pior dos dois mundos: os danos econômicos sem a plenitude dos benefícios da quarentena.

Buzinaço

De forma previsível, vozes favoráveis à flexibilização da quarentena começam a se organizar, inclusive através de grupos de WhatsApp.

Um buzinaço, por exemplo, vem sendo proposto para esta sexta-feira, 15, a partir das 14h, provavelmente com deslocamento até a prefeitura.

E aí?

Razão

Bom, obviamente essas vozes precisam ser ouvidas e levadas em consideração, mas a razão nos diz que políticas públicas precisam ser erguidas com base em informações confiáveis e atualizadas, e através da análise de danos e benefícios.

Apenas a transparência absoluta e o diálogo aberto parecem capazes de evitar que atinjamos o “Paradoxo da Onipotência”, “quando uma força imparável encontra um objeto inamovível”.

Urgente

Mais do que buzinas, precisamos de uma conversa franca e pública, e para ontem.

A Secretaria de Saúde, hospitais particulares, empresários e autônomos precisam estar em contato, preferencialmente com a mediação do poder público e dando transparência a toda a população, em busca de pontos de interseção e soluções capazes de respeitar o quanto cada um pode ou precisa ceder.

Portas abertas

Diante desta necessidade tão evidenciada, a coluna abre as portas a todos estes atores para que façam uso deste espaço a fim de expor suas necessidades e possibilidades, pedindo apenas que o façam de maneira franca, honesta e respeitosa.

À Saúde, perguntamos: existe margem para flexibilização? Se sim, de que forma?

Aos empresários e trabalhadores afetados diretamente, quais as medidas que acreditam concentrar os melhores benefícios econômicos e os menores riscos de contágio?

Único caminho

O colunista acredita piamente que essa crise não será superada no grito, na politização, no “pagar para ver” ou em meio a ofensas de parte a parte, mas no diálogo maduro, na transparência, e no pensamento coletivo.

E queremos fazer a parte que nos cabe nesse esforço.

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