O piloto sumiu

sexta-feira, 04 de setembro de 2020

Para pensar:
"No amor de uma criança tem tanta canção pra nascer, carinho e confiança, vontade e razão de viver.”
Cláudio Nucci

Para refletir:
“O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é - ou deveria ser - a mais elevada forma de arte.”
Charles Chaplin

O piloto sumiu

A Câmara Municipal aprovou nesta quinta-feira, 3, em segunda e última discussão, o decreto legislativo 622/2019, proposto pelos vereadores Zezinho do Caminhão, Marcinho Alves, Johnny Maycon e Wellington Moreira a fim de sustar o decreto municipal 226, de 26 de julho de 2019, publicado no Diário Oficial de 13 de agosto de 2019, que fixou o valor da nova tarifa única e integrada de ônibus urbanos no município de Nova Friburgo.

Na prática, isso significa dizer que a publicação do decreto legislativo trará de volta o valor da tarifa do transporte coletivo para R$ 3,95, valor praticado até agosto do ano passado.

Improvisando

A situação é evidentemente atípica.

Ainda que tenha sido exaustivamente frisado que o Legislativo não tem competência para interferir diretamente no valor da tarifa, mas pode sim atuar no sentido de anular um ato do Executivo que entenda ser prejudicial aos interesses da municipalidade, o episódio soma-se aos inúmeros sinais do ambiente de anormalidade que se estabeleceu na relação entre prefeitura e concessionária de transporte coletivo ao longo do mandato atual.

Como numa peça sem roteiro, muitas atuações estão funcionando na base do improviso.

E certamente essa cadeia de anormalidades deve continuar seu rumo nos próximos dias.

Sem comando

A postura do Legislativo é compreensível.

Ainda que seja sempre necessário o debate a respeito do equilíbrio econômico diante do tipo de serviço que se pretende cobrar, por outro lado está mais do que configurado que o Palácio Barão de Nova Friburgo não tem, neste momento, qualquer condição (inclusive moral) de se portar como o poder concedente que deveria ser.

A cidade está evidentemente desprotegida, e alguns entenderam que era necessário agir.

O que não significa negar que alguns parlamentares (mas certamente não todos) tenham eventualmente aprovado o decreto por motivações de apelo eleitoral.

Equilíbrio necessário

Evidentemente o decreto não encerra a questão.

É notória a necessidade de uma auditoria isenta em torno do serviço prestado - e daquele que deverá ser prestado após a nova licitação - a fim de que seja encontrado o ponto de equilíbrio entre os interesses coletivos e as necessidades da empresa.

O momento demanda serenidade, diálogo, planejamento e bom senso, mas não podemos nos esquecer de que estamos em ano eleitoral, e tem gente desesperada para explorar politicamente a questão.

É assim?

Há, por exemplo, parasita político ameaçando parar todos os ônibus em flagrante sequestro do direito de ir e vir, como se as negociações devessem se dar assim, na base da ameaça, da chantagem, da imposição, sem qualquer apreço pelo interesse maior da população.

Atuações desta natureza, caso venham a se confirmar, deveriam redundar em reações exemplares por parte da polícia e da Justiça.

E pensar que personagem tão anacrônico e opaco chegou a ocupar momentaneamente uma das cadeiras do plenário na atual legislatura...

Mais viagens

Aparentemente alheia a tudo isso, a empresa de ônibus Faol anunciou nesta quinta-feira que as linhas de Cascatinha; Califórnia; Sítio São Luiz; São Geraldo; Riograndina; Maria Tereza; Fazenda da Laje; Granja Spinelli; Alto de Olaria; Catarcione; Santa Bernadete; Nova Esperança e Solares terão aumento no número de viagens.

Resta conferir se a redução no valor da tarifa terá algum efeito sobre este planejamento.

Maravilhosas

A coluna rende hoje homenagens a duas mulheres que merecem toda nossa reverência.

A primeira delas é a invencível Rozália Villaça da Silva, popularmente conhecida como Dona Detinha, que nesta sexta-feira, 4, completa nada menos que 103 aninhos muito bem vividos.

Patrimônio vivo de Nova Friburgo, Dona Detinha é filha da icônica Madame Sofia e mãe da gloriosa Wilma Villaça. Uma mulher que ainda bebezinha sobreviveu ao terrível surto da gripe de 1918, e que há de fazer o mesmo com a Covid-19.

Inspiração

Anos atrás, quando questionada por este colunista sobre qual seria o segredo de sua impressionante longevidade, Detinha não teve dúvidas: “fazer exercícios e comer pouco”!

Lúcida, forte, bem-humorada, inspiradora… Detinha é a própria imagem da sabedoria, da vida saboreada como o privilégio que é, e dedicada ao que verdadeiramente importa.

Que Deus a conserve assim por muito tempo ainda.

Liderança mundial

A segunda delas é mais uma vez Ilona Szabó, que nesta semana foi apontada pela revista Prospect como a 5ª colocada (!) na lista que reuniu aqueles que foram considerados os 50 maiores pensadores mundiais na era da Covid-19.

A friburguense, vale destacar, foi a única representação brasileira na lista.

E na mesma semana ela deu uma entrevista à Reuters na qual anunciou o lançamento de uma nova iniciativa do Instituto Igarapé, em parceria com a Interpol e a InSightCrime, voltada a rastrear os crimes por trás do desflorestamento e da degradação na Amazônia.

O profeta e sua terra

Duas notícias que dão bem a dimensão do quanto seu trabalho é reconhecido internacionalmente, e que reforçam a sensação de que estamos desperdiçando uma conselheira que certamente estaria disposta a emprestar sua expertise à elaboração de políticas públicas voltadas à prevenção da violência na cidade em que nasceu e cresceu.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.