Inconclusivo

sábado, 09 de maio de 2020

Para pensar:
"Não há passageiros na nave espacial Terra; somos todos tripulação.”
Marshall McLuhan

Para refletir:
“A consciência da complexidade nos faz compreender que não poderemos escapar jamais da incerteza e que jamais poderemos ter um saber total: 'a totalidade é a não verdade'.”
Edgar Morin

Inconclusivo

As limitações impostas pelo isolamento sanitário têm tornado difícil o trabalho jornalístico, em especial nos hospitais, verdadeiro teatro desta dura batalha contra o novo coronavírus.

Não que as informações tenham parado de chegar, porque elas chegam o tempo todo, de todos os lados.

No entanto, em muitos casos o máximo que tem sido possível fazer é ouvir o outro lado e dar as duas versões, de forma um tanto inconclusiva.

Afinal, nós, que cobramos tanto o engajamento pela quebra da cadeia de contágio, temos que começar pela nossa própria postura. 

Exemplo

Um bom exemplo desse conflito de versões diz respeito à disponibilização de EPIs aos profissionais da Saúde em nossos hospitais públicos.

Diversas vozes continuam a falar em racionamento de máscaras, em uso além do tempo previsto ou recomendado, e até mesmo de casos isolados em que o material recebido não era o de máxima proteção.

O colunista conhece pessoalmente algumas dessas fontes, e tem todos os motivos para dar crédito a seus depoimentos.

Mas, é aí? Como lidarmos com isso de maneira produtiva?

Mordaça cultural

Este, contudo, não seria um obstáculo definitivo se os profissionais não se sentissem tão desprotegidos para falar ou coletar e dividir provas, e isso não acontece apenas na Saúde, mas em praticamente todas as repartições da administração pública.

A instabilidade dos vínculos e os critérios adotados para o preenchimento de cargos e gratificações, infelizmente, há muito tempo vêm sendo utilizados como forma de mordaça, de maneira já cultural em nossa política nacional.

E aqui - que pena! - não é exceção a essa regra.

Sem Intenção

Qualquer pessoa que se pretenda razoável irá admitir que todo governo comete erros, e não teria como ser diferente.

Mas alguns - são poucos aqui na Terra de Santa Cruz - erram de maneira involuntária, tentando acertar.

A promoção de concursos públicos, a distribuição meritória de gratificações, a valorização dos quadros técnicos e de carreira e a liberdade de manifestação são traços inequívocos de tais administrações.

Pequenez

Por outro lado, é marca indisfarçável das administrações de menor estatura ética e moral o esforço pela obtusidade, a utilização de recursos públicos para compra de apoio, a fragilidade de vínculos trabalhistas, a distribuição de cargos de confiança e gratificações entre quadros políticos, a relutância à realização de concursos públicos, a retaliação diante de esforços individuais por transparência, e a tentativa de controle sobre a linha editorial de veículos de imprensa, inclusive apelando a esforços de asfixia econômica.

Infelizmente, práticas comuns também por aqui.

Inaceitável

O medo nas vozes que nos procuram em busca de ajuda não reflete apenas o temor pelos riscos à própria saúde, mas também pela possibilidade de que venham a perder o emprego por terem chegado a um ponto em que não aguentam mais calar.

Isso é inaceitável para qualquer sociedade séria, e reverter esse tipo de situação deveria ser prioridade absoluta para uma administração madura e mais preocupada em resolver problemas de maneira concreta, do que em escondê-los debaixo do tapete.

Nova Friburgo precisa urgentemente de um grande concurso para a Saúde.

Estava escrito

Logo após a primeira semana de isolamento, quando começaram a surgir os primeiros questionamentos de natureza econômica às medidas de quarentena, a coluna foi uma das primeiras vozes a seguir na direção oposta e argumentar que, sob vários aspectos, interesses sanitários e econômicos não eram tão conflitantes quanto podiam parecer em análise superficial, uma vez que o agravamento da crise na saúde pública certamente tornaria necessário adotar medidas ainda mais restritivas e prolongadas de combate ao coronavírus.

Em círculos

Pois bem, a Prefeitura de Nova Friburgo informou nessa semana que o prefeito Renato Bravo vinha estudando, juntamente com membros do Comitê de Operações de Emergência em Saúde (COE), a possibilidade de implantar uma forma progressiva de flexibilização do comércio, mas, “diante da desobediência da população em relação aos decretos já publicados, decidiu estender o período de isolamento”.

Assim, as atuais restrições impostas a comércio, indústria e transportes continuam valendo, pelo menos, esta próxima segunda-feira, 11.

E ainda tem gente achando que ir às ruas protestar vai acelerar o retorno à vida normal...

É possível

Em alguns momentos, no entanto, conseguimos promover o isolamento do jeito certo, e felizmente nossa querida Regina Lo Bianco estava lá para registrar para a posteridade mais um capítulo de nossa história.

Para encerrar os trabalhos da semana, a coluna divide com os amigos esta bela imagem, que atesta o quanto podemos ser responsáveis quando estamos determinados a isso.

Foto da galeria
É possível
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