Fumaça

sexta-feira, 06 de março de 2020

Para pensar:

“Na hora da verdade ninguém engana a vida. É possível enganar o professor, os pais… Mas enganar a vida é impossível. Na hora da verdade a vida se encarrega de colocar todas as pessoas no seu devido lugar.”

Roberto Shinyashiki

Para refletir:

“Uma imprudência que vinga compromete a inteligência da coragem.”

Robert Mallet

Fumaça

Dois dos vereadores que integram a Comissão de Finanças e Orçamento da Câmara Municipal - coincidentemente ou não, ambos responsáveis pela indicação de número significativo de nomeados no Executivo - se recusaram a ver o parecer e o projeto de decreto legislativo elaborados pelo corpo técnico da comissão, que foram assinados pelo presidente Professor Pierre e também pelos vereadores Marcio Damazio e Marcinho Alves.

Sem desculpas

É, evidentemente, um indicativo sombrio em relação ao que pode se passar hoje, 6, durante a apreciação das contas do governo relativas a 2018.

Por isso, a fim de evitar um possível pedido de vistas no dia da votação de um documento que esteve acessível a todos os vereadores por quase 60 dias, a presidência da comissão teve de tomar medidas como imperativamente remeter-lhes o parecer e o projeto de decreto, com cópia anexada ao expediente. 

Roupa do rei

Evidentemente, não existe almoço grátis.

Nenhum parlamentar vai construir uma reserva eleitoral com base na obtenção de nomeações e/ou gratificações, ou no controle de uma secretaria estratégica a seu reduto eleitoral, sem ficar exposto em momentos nos quais o governo demanda uma contrapartida que evidentemente segue na contramão da isenção ou das expectativas do eleitorado.

Mas, claro, por mais constrangedora que seja a situação, ninguém jamais dá o braço a torcer e simplesmente admite a verdade.

Espelho da alma

No passado, contextos como o que temos hoje foram a senha para que o pior lado de nossos piores políticos viesse à tona, na forma de um cinismo de todo abominável, na medida em que traduz um profundo desrespeito à inteligência do eleitor.

Mentiras, desinformação, tentativas de inversão dos fatos, incoerência em relação a tudo o que foi dito ou feito no passado, e muita, muita cara de pau.

Resta esperar que o teatro não venha a se repetir hoje.

“Esperteza”

Obviamente todo parlamentar pode e deve seguir a própria consciência em relação às decisões que precisa tomar, e na maioria das vezes é possível e salutar a existência de diferentes interpretações.

Representatividade é isso.

No entanto, muitas das vezes mentes “espertas” preferem sabotar o jogo através de tentativas de induzir falhas formais aos procedimentos, fugindo assim ao crivo dos argumentos que em outras circunstâncias teriam de apresentar.

Pelas regras

Este espaço não apenas respeita, como defende, a liberdade de expressão, a discordância honesta, o enriquecimento do debate e a representatividade das diferentes formas de pensar.

Todavia, o respeito à inteligência do leitor é dogma e princípio norteador de tudo o que fazemos aqui.

E é importante que todos saibam que cruzar essa fronteira é se colocar em situação de ter a farsa exposta publicamente.

Qualquer que seja o posicionamento adotado, que ele se dê de forma honesta e digna.

Carne e gordura (1)

Ao fim do primeiro ano da atual gestão municipal, o número de indicações e nomeações havia chegado a tal ponto que foi expressa como uma “reforma administrativa por decreto”.

A situação chamou a atenção do Ministério Público do Trabalho e, a fim de se evitar medidas mais drásticas, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) estabeleceu cortes programados e a devida substituição por vínculos menos precários e/ou políticos.

Uma medida dura, mas que havia se tornado tristemente necessária.

Carne e gordura (2)

Desde aquela época, no entanto, já se temia que os cortes fossem ocorrer antes em músculos, nervos, tendões, ligamentos e ossos, preservando a gordura que assegura votos, apadrinhamento e governabilidade.

E - triste legado, triste demonstração de prioridades - foi exatamente isso o que aconteceu em várias repartições.

Todos por um

A coluna entende, apesar da elegância e da discrição de Daniel Lage, que sua saída da Secretaria  Municipal de Políticas Sobre Drogas, onde - frise-se - fez um trabalho muito dedicado e positivo, tenha se dado em razão deste tipo de situação.

Sem muitos recursos, o trabalho da secretaria sustentou-se (e obteve bons resultados) a partir de esforços de capacitação e da elaboração de uma equipe coesa, afinada, que muitas vezes precisou ser criativa para fazer muito a partir de poucos recursos.

Daí, quando os cortes desfalcaram o time, ficou claro que o trabalho restaria prejudicado.

Aspas (1)

O ex-secretário redigiu uma carta de exoneração.

“Gostaria de agradecer ao Executivo municipal pela oportunidade de poder gerir a Secretaria Municipal de Políticas Sobre Drogas. Sei  que fiz o possível e o impossível para dar o meu melhor e extrair o melhor de todos que compõem e que compuseram uma equipe sem igual e dedicada. Sempre soube da responsabilidade da minha indicação e levamos à frente uma secretaria sem recursos, mas com vontade de trabalhar. Tivemos obstáculos sim, mas com criatividade conseguimos superar sempre.”

Aspas (2)

“Ressaltando o nome de Nova Friburgo, sempre fomos mídia positiva ao governo e nossas ações sempre foram enaltecidas até mesmo pela oposição. Deixo a secretaria com o sentimento de dever cumprido, pelo menos no que dependia de mim. Amigos eu fiz e levo a experiência comigo. Todos os eixos de nossa secretaria funcionando e programas alicerçados.”

Exemplos

“Cito alguns deles, que não oneraram os cofres públicos em nada.

Programa Construindo o Futuro - mais de dois mil jovens e crianças assistidos; Centro de Referência de Políticas Sobre Drogas - 500 atendimentos mensais (AA, NA, Nar-Anon, Al-Anon, Sempod); lei de reinserção social a dependentes químicos; sede da futura instalação da secretaria (casarão da antiga LBA, cedida ao município pela União); choque de ordem articulado pela secretaria em ação conjunta com Judiciário, polícias e governo municipal; atendimento ao programa homem agressor; mapeamento de drogas lícitas e ilícitas e comportamento por distrito da cidade em percentual, auxiliando órgãos de segurança.”

Encerrando

“Se não posso continuar fazendo um trabalho de responsabilidade, como estava sendo feito por mim e minha equipe, é o momento de me afastar. Digo aqui que não sou candidato a cargo eleitoral algum e que quero o bem para Nova Friburgo, tendo a certeza de ter feito o melhor como gestor municipal para a minha cidade.”

Quem se importa?

Incontáveis vezes a coluna já chamou atenção para os riscos que a dupla mão de direção agregou a quem precisa atravessar a Rua Augusto Spinelli, sobretudo no cruzamento com a Rua Monsenhor Miranda, especialmente em horários de entrada ou saída escolar.

Pois bem, pouco após o fechamento da coluna de ontem, 5, uma colega jornalista narrou ao colunista a forma como uma mãe e sua criança haviam escapado por pouco, muito pouco, de serem atropeladas por um motociclista, por volta de 17h40 de quarta-feira, 4, justamente naquele cruzamento.

Inacreditável

A coluna já ouviu algumas vezes que o local deve ser o próximo a receber traffic calmings, mas já se cansou de esperar por medidas ou informações oficiais.

O problema é conhecido há tempo demais, e recursos da fonte 013 não faltam para aquilo que o Palácio Barão de Nova Friburgo considera prioridade.

Se alguma tragédia acontecer por ali, parte da responsabilidade pesará sobre os ombros de quem já tinha que ter agido há muito tempo e não o fez.

Nossa atual gestão municipal por vezes beira o inacreditável.

Foto da galeria
(Foto: Henrique Pinheiro)
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