Bondade sazonal

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Para pensar:

“A verdade é filha do tempo e não da autoridade, mas a dúvida é o começo da sabedoria.”

Galileu Galilei

Para refletir:

“As horas em que mais errei foram as que mais me ensinaram.”

Moraes Moreira

Bondade sazonal

Os adeptos da astrologia talvez saibam descrever essa conjuntura mágica que se repete a cada ano bissexto e exerce forte influência sobre o comportamento de candidatos (ou pré-candidatos) a cargos eletivos municipais.

Curiosamente, nas esferas estadual e federal, o mesmo efeito se faz sentir também a cada quadriênio, mas de forma intercalada, em anos de Copas do Mundo.

Mistério.

Caridade pública

Nessas circunstâncias, pessoas que jamais tiveram suas condutas marcadas por engajamento ou filantropia são tomadas por impulsos altruístas, que só desviam do ideal cristão na parte em que Jesus Cristo ensina que o que uma mão faz a outra não deveria saber.

Mas aí talvez já seja demais, não é?

Porque é um tal de gravar vídeo, de fazer textão, de assinar denúncias públicas, de sugerir soluções populistas e dar máxima divulgação a ações beneficentes...

A fronteira

Diante dos inevitáveis questionamentos sobre a legitimidade de tais ações - que isoladamente são benéficas, quer sejam legítimas ou não -, muitas dessas pessoas dão o primeiro sinal de que o custo de tais iniciativas pode se revelar muito alto.

Respostas simplistas, reducionistas e populistas acendem a luz amarela ao denunciarem a aposta íntima no desrespeito à inteligência do eleitor.

E quem cruza essa fronteira fatalmente se torna um político nocivo.

Sombra

Observar essa postura em jovens, que deveriam ser o relicário do idealismo, é especialmente doloroso.

Tantas pessoas com uma vida pública inteira pela frente, e que desde já parecem ter aceitado que o segredo para ter sucesso na política é abrir mão da vergonha e buscar a apropriação de louros a qualquer custo, sem se importar se os elogios ou créditos possuem lastro ou não.

A postura de tais pessoas representa um duro golpe sobre a esperança de dias melhores.

Efeitos conhecidos

Infelizmente, por aqui, temos vários exemplos de tudo isso que foi descrito acima.

Role as linhas do tempo em redes sociais, e, se tiver a devida isenção, saberá reconhecer perfeitamente algumas encarnações destes perfis.

Por décadas a fio temos visto, na prática, o resultado da eleição de tais tipos.

Porque quem demonstra desespero para alcançar o poder, ou para se perpetuar nele, jamais o faz pelas melhores intenções.

E quem se dispõe a mentir, a atuar, vai fazer isso o tempo todo.

Critérios

Ao ver a história começar a se repetir, parece oportuno lembrar que é o eleitor quem estabelece a altura da barra que candidatos precisam superar.

Queremos pessoas verdadeiramente empáticas e comprometidas, ou continuaremos nos achando espertos a cada voto que vendemos (ou leiloamos)?

Queremos pessoas realmente engajadas e comprometidas, ou pessoas dispostas a enganar para conseguirem o que desejam?

Afinal, se tudo isso ainda acontece é porque tem dado certo até aqui - ao menos para eles.

Ventania

Vivemos dias atípicos e especialmente favoráveis a teorias de conspirações, bem como a abordagens passionais sobre o que quer que seja.

Então, se um lado diz que a ameaça da pandemia é real e merece esforços preventivos, outro desdenha e diz que é cortina de fumaça, e logo temos algumas reputações sendo postas em xeque a depender de como se portará a curva de contágio, e acusações de que uns torcem pelo vírus, outros vendem curas milagrosas e ignoram protocolos.

Melhor opção

Evidentemente tudo isso está muito longe do que se poderia chamar de uma postura adulta e ponderada, dado que é perfeitamente possível unir a recomendação de esforços (e sacrifícios) ao desejo de que estes venham a se revelar (ou ao menos parecer) excessivos.

De fato, no melhor dos cenários, restará em todos a sensação de que não era para tanto.

Mas, se isso ocorrer, será o caso de celebrarmos, não de apontarmos dedos.

Afinal, a outra opção é muito, muito pior.

Nunca é demais

Toda essa introdução para dizer que a coluna tem se mantido em contato com profissionais de saúde, a fim de buscar informações em fontes seguras.

E celebra iniciativas como a da Unimed, que começou a divulgar boletins próprios ampliando a oferta de informações a respeito do panorama friburguense.

Seria muito positivo se outros hospitais fizessem o mesmo, num momento em que o próprio governador Wilson Witzel informa ter testado positivo.

Grau de saturação

Pois bem, nesse momento em que ainda aguardamos pelos efeitos da notória redução do isolamento social, observável em Nova Friburgo desde o início da semana passada, o cenário visível parece apontar para a efetividade das medidas adotadas, apesar do número crescente de testes positivos.

Ainda que tudo possa se alterar em velocidade exponencial, relatos colhidos no momento em que estas linhas eram escritas davam conta de que ainda não estamos próximos da saturação de nossa rede de cuidado e atendimento.

Ainda bem.

Dando resultado

Naturalmente a coluna não divide tais informações com os leitores a fim de provocar relaxamento, mas, ao contrário, de estimular a manutenção dos pesados esforços, confiando mais uma vez na maturidade de quem frequenta este espaço.

Esperemos (e façamos nossa parte para) que continue assim.

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