Armadilha

terça-feira, 10 de março de 2020

Para pensar:

“A mulher deve ser lentamente decifrada, como o enigma que é: encanto a encanto.”

Coelho Neto

Para refletir:

“O universo é uma harmonia de contrários.”

Pitágoras

Armadilha

Se não tivermos cuidado, é fácil que sejamos pautados pelo espanto nosso de cada dia.

O comunicado divulgado pela prefeitura na noite de sexta-feira, 6, por exemplo, poderia facilmente nos induzir a fazermos uma coluna inteira, caso déssemos atenção a cada detalhe ali presente.

Mas é esse um dos grandes males de nosso tempo, não?

Sermos pautados, reativos, condicionados, para assim defendermos de forma passional, agressiva e pouco eficiente aquilo em que acreditamos.

Desenhando

Em vez disso, sendo apenas pragmáticos, talvez seja possível resumir tudo dizendo que a nota enfatizou mais uma vez que o critério adotado pelo Palácio Barão de Nova Friburgo para escolher o atual comando de sua Procuradoria-Geral foi ético, e não técnico.

Ainda consegue surpreender, mesmo após tudo o que temos visto, que apenas poucas horas depois daquilo que se passou na sessão que deveria ter abrigado a apreciação das contas do Executivo relativas a 2018 seja divulgada uma declaração que sublinha em cores tão vivas que o pedido de vistas havia sido arquitetado.

Se merecem

Além de insinuar que a presidência do Legislativo (e qualquer vereador que a acompanhe) estaria cometendo crime de responsabilidade ao julgar as contas no contexto atual - enterrando ainda mais qualquer chance de conseguir os votos necessários a uma aprovação em plenário - o comunicado expõe seu próprio líder de governo, ao deixar claro que toda aquela conversa era mesmo para tentar judicializar o processo.

No fim, resta a impressão que o governo merece o líder que tem, e vice-versa.

Próxima fronteira?

A coluna falou acima sobre formas controversas de defender ideias, e nos últimos dias tivemos mais um exemplo deste tipo de situação aqui em Nova Friburgo.

As redes sociais viralizaram imagens de um folheto que foi colocado nas mesas de lanche de uma padaria da cidade, no qual lista-se o que se espera e o que não se espera que um aluno aprenda em sua escola.

Mais gasolina

O material repercutiu muito junto a vários educadores, e também provocou reações de apoio ou condenação a leigos no assunto, conforme as inclinações políticas de cada um.

Várias destas reações falaram em boicote, acrescentando uma lista de estabelecimentos também a serem evitados por razões análogas.

Da mesma forma, é de se supor que pessoas no extremo oposto do espectro tenham seu consumo fidelizado a partir deste tipo de posicionamento.

Guetos

O colunista confessa ver com tristeza este tipo de escalada da segmentação, a ampliação dessa fratura que divide o País com crescente profundidade.

Afinal, imagine o aprofundamento desta tendência já observável... Comércios sendo frequentados quase que exclusivamente por adeptos de ideologias de esquerda ou de direita, a separação ideológica e algorítmica vazando para espaços físicos reais, como já vimos no passado em momentos abomináveis - e aparentemente cíclicos - de nossa história.

Caminho errado

É isso o que queremos? Desenhar novos guetos? Deixar definitivamente de conviver? Aumentar ainda mais as hostilidades e o distanciamento entre a imagem que fazemos do outro (e que fazem de nós) e aquilo que somos de verdade?

Ora, já existem tão poucos espaços para a troca de ideias, tão pouca esperança para o diálogo construtivo, para uma reconciliação nacional baseada na rejeição a mentiras e simplificações, e liderada pelos moderados de ambos os lados…

Quem?

Quem, nos dias atuais, estará disposto a convencer pelo exemplo?

Quem terá a coragem de não reagir a provocações injustas?

Quem terá a ousadia de ser surpreendente em tempos em que tantos se mostram tão previsíveis e manipuláveis?

Quem irá nos lembrar que podemos ser muito mais e muito melhores do que temos sido?

Compulsório?

A semana começa também com a notícia de que, conforme estabelecido pelo decreto  450, de 4 de fevereiro de 2020 mas publicado apenas no último sábado, 7, “Fica determinado que, no prazo de até 90 dias, o pagamento da tarifa única do Serviço Público de Transporte Coletivo de Passageiros do Município de Nova Friburgo seja efetuado exclusivamente por meio eletrônico, com a utilização de bilhetes smart card e de outras modalidades a serem oportunamente implantadas.”

Esperado

A medida não chega a surpreender, diante do novo equilíbrio de forças que se estabeleceu a partir do momento em que o município ficou sem contrato de concessão para o transporte coletivo.

Mas, ainda assim, causou compreensível indignação e revolta entre vários usuários.

Complexo

Ora, é evidente que o pagamento por vias eletrônicas agrega vantagens logísticas e representa uma tendência natural à evolução do serviço, e deve ser estimulado através de campanhas e facilidades de acesso.

Todavia, torná-lo compulsório à canetada, num momento em que o município tem dado sinais tão evidentes de ter se colocado deliberadamente em situação de fragilidade na mesa de negociações, parece algo muito complexo.

Como fica?

Afinal, como fica o cidadão que vem de fora?

É assim que receberemos os turistas?

E o usuário ocasional, que precisa do serviço numa situação de emergência, quando um carro quebra, por exemplo?

Aos advogados que frequentam este espaço, fica o questionamento: a medida por acaso não fere nenhum artigo do código do consumidor?

Protegidos?

Além disso, o cadastro eletrônico agrega informações pessoais valiosas.

Essas informações estão sendo devidamente protegidas aqui em Nova Friburgo?

Nesta segunda-feira, 9, uma tentativa de cadastro online demandou concordância em relação aos termos do contrato, mas ao clicar no tal contrato o colunista deparou-se apenas uma página em branco...

Mulheres

A coluna não pode encerrar os trabalhos sem cumprimentar, com muita reverência e gratidão, todas as mulheres que frequentam este espaço por conta do Dia Internacional da Mulher celebrado no último domingo, 8.

Vocês, meninas, são o que existe de melhor e mais bonito nesse mundo

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