Para onde vão as águas de Nova Friburgo?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Para onde vão as águas de Nova Friburgo? Qual é o caminho das águas desde o Caledônia até o encontro com o mar? Principal rio de Nova Friburgo, o Rio Grande nasce no alto do Caledônia onde podemos visualizar todo o vale de São Lourenço. Este maciço de granito eleva-se a 2.257 metros acima do nível do mar, sendo o segundo ponto mais alto da Serra do Mar. De lá também pode-se avistar o vale do Rio Bengalas que é um importante afluente do Rio Grande.

O Caledônia é o divisor de águas de duas bacias hidrográficas. De um lado as águas correm em direção à Baia da Guanabara passando pelo município de Cachoeiras de Macacu. Do outro, as águas correm em direção ao Rio Paraíba do Sul sendo denominada de Bacia Hidrográfica Rio Dois Rios. Nova Friburgo tem uma particularidade. Uma parte de seu território está compreendida na Bacia Hidrográfica do Rio Dois Rios e a outra parte na Bacia Hidrográfica do Rio Macaé e das Ostras.

O objetivo desta coluna de hoje é somente apresentar a primeira bacia e mostrar o caminho de suas águas. O Comitê de Bacia Hidrográfica Rio Dois Rios abrange 12 municípios como Nova Friburgo, Bom Jardim, Duas Barras, Trajano de Moraes, Cordeiro, Macuco, Cantagalo, Carmo, Itaocara, São Sebastião do Alto, Santa Maria Madalena e São Fidélis. O Rio Dois Rios é formado pelo encontro do Rio Grande que nasce em Nova Friburgo com o Rio Negro, que nasce no município de Duas Barras. A partir desta união o rio passa a ser chamado de Rio Dois Rios até se encontrar com o Rio Paraíba do Sul.

No Caledônia onde nasce na presença de florestas na cabeceira da bacia do Rio Grande resulta em uma água límpida e de qualidade. As florestas proporcionam a retenção da água da chuva que se infiltram no solo e são lentamente liberadas. A região do terceiro distrito de Nova Friburgo (Campo do Coelho) beneficiada pelo Rio Grande é um importante centro produtor de verduras e hortaliças abastecendo a região metropolitana do Rio de Janeiro por meio da agricultura familiar.

O Rio Grande tem as suas águas captadas na localidade de Rio Grande de Cima para o abastecimento da cidade. A população urbana de Nova Friburgo está na bacia hidrográfica de um afluente do Rio Grande, o Rio Bengalas. Este rio é formado pelo encontro das águas dos rios Cônego e Santo Antônio, que também nascem no maciço do Caledônia e se encontram no centro da cidade, no Paissandu, mais precisamente em frente à Igreja Luterana.

Após sair da área urbana de Nova Friburgo as águas do Rio Bengalas vão em direção ao município de Bom Jardim. Exatamente no limite destes dois municípios (no pedágio da RJ-116) o Bengalas se encontra com o Rio Grande. Já o Rio Negro que tem as suas águas nascidas nas serras de Duas Barras e segue em direção ao município de Cantagalo. Os rios Negro e Grande se encontram no município de São Sebastião do Alto, na localidade de Guarani.

A partir deste encontro o rio passa a se chamar Rio Dois Rios que segue em direção a localidade de Cambiasca e depois Colônia, no município de São Fidélis. Neste ponto em que as águas do Rio Dois Rios se encontram com as águas do Rio Paraíba do Sul marca o limite da Região Hidrográfica do Rio Dois Rios, que passa a ser gerido por outro comitê.

Ao longo de todo o caminho percorrido as águas que passaram pelos 12 municípios mencionados trazem as marcas impressas pela ação do homem, a exemplo de esgoto não tratado, dejetos industriais e agrotóxicos usados na lavoura. Ao sair de São Fidélis as águas do Rio Paraíba do Sul deixam definitivamente o relevo de serra para entrar na planície do Norte Fluminense. Campos dos Goytacazes é a primeira cidade na Baixada que as águas do Paraíba do Sul vão encontrar o seu caminho.

Após passar por este município as águas do Paraíba do Sul seguem em direção ao município de São João da Barra atingindo o final de sua longa jornada. Em São João da Barra na localidade denominada Atafona, o Rio Paraíba do Sul se encontra finalmente com as águas do mar. Infelizmente em toda a região hidrográfica do Rio Dois Rios os morros estão desprovidos de florestas e com gravíssimos sinais de erosão. Este desmatamento se deve ao plantio do café no século 19. Com o declínio do café, a pecuária leiteira e de corte ocupou espaço na economia regional.

Este “mar de morros” desflorestados sofrem ação direta das águas das chuvas que provocam a perda de solo. Através do escoamento superficial da água da chuva, parte do solo é carreado junto com as águas sendo levado aos vales junto ao leito dos rios acarretando o seu assoreamento. Este texto foi extraído do roteiro de André Bohrer para o documentário “Caminho da Águas. Do Caledônia a Atafona” em que eu assino a direção. Este documentário está disponível no YouTube e convido os leitores de A VOZ DA SERRA a assistirem e desfrutarem da belíssima paisagem serrana fluminense que percorrem as águas de nossos rios.

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    Encontro do Rio Grande com o Bengalas

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    André Bohrer, à direita, no Caledônia

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    O assoreamento dos rios

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