As fazendas históricas de Cantagalo

quinta-feira, 03 de dezembro de 2020

Na semana passada ocorreu o lançamento do livro “Álbum das Fazendas de Cantagalo” de autoria de Sebastião e Rosa Maria de Carvalho. No período de 1991 a 2013 o casal percorreu 35 fazendas históricas localizadas no município de Cantagalo. Gostaria de chamar a atenção que se formos considerar as fazendas históricas da magna Cantagalo antes da emancipação de diversos munícipios este número seria possivelmente dez vezes maior.

O casal de pesquisadores Sebastião e Rosa Maria fizeram o registro das seguintes propriedades rurais históricas: as fazendas do Gavião,  Areias, Santa Rita, Boa Sorte, Boa Vista, São Clemente, Sant’Anna, Mont Vernon, Sossego, Nossa Senhora da Conceição do Rio Negro, Pouso Alto, Aldeia, Retiro, Ronca Pau e São Jorge, São José do Rio Negro, Soledade, Palha, São Lourenço, Água Quente, Lage, Nova União, Santa Bárbara, Santa Izabel, São Joaquim, São Sebastião, Bemposta, Sant’Anna de Pouso Alegre, Batalha, Gamela e o Sítio Guarapiranga.

As cinco primeiras fazendas pertenceram ao primeiro Barão de Nova Friburgo. Este levantamento foi realizado com o apoio do Centro de Estudos e Pesquisas Euclydes da Cunha objetivando entregar à Prefeitura de Cantagalo um relatório sobre a viabilidade turística em razão do expressivo patrimônio histórico. Todas estas propriedades foram unidades de produção de café no século 19 fazendo uso do modo de produção escrava. Algumas antes mesmo e outras a partir da abolição da escravidão substituíram o trabalho escravo por colonos italianos, portugueses e espanhóis em regime de trabalho de parceria agrícola.

De um modo geral, após a crise econômica do café migraram para a atividade pecuária de gado leiteiro e de corte e alguma lavoura branca. Outro dado interessante é que com a falência dos barões do café dos vales dos rios Grande, Negro e Dois Rios as mais importantes propriedades foram adquiridas por descendentes de colonos suíços como os Monnerat, Lutterbach, Leimgruber para ficar em apenas alguns exemplos. Verifica-se no álbum das fazendas que algumas não possuem mais a casa de vivenda, porém em contrapartida mantém os velhos engenhos de café, moendas de cana, moinho de milho, rodas d’água, olarias, enfim reminiscências da vida material no passado no ciclo do café.

Já se passaram sete anos de finalizada a pesquisa deste álbum ou até mesmo mais tempo se considerarmos as fazendas que foram inventariadas a partir de 1991. Logo, muita coisa mudou desde então e vou ficar em quatro exemplos no qual conheço particularmente o caso. A Fazenda Areias após a visita dos pesquisadores foi vendida e a sua estrutura bem alterada pelos novos proprietários, inclusive com relação ao mobiliário. Abandonou-se o estilo do Império e todos os móveis passaram a ser peças importadas de design inglês. Mas esta propriedade está novamente à venda pelo valor de R$ 25 milhões com “porteira fechada”, como se dizia antigamente.

Outra fazenda que tive a oportunidade de conhecer foi Mont Vernon que já não é de propriedade dos Lutterbach e sim de uma empresa de produtos veterinários. Mas a sua valiosíssima casa de vivenda foi mantida com reformas adaptadas às atividades da empresa. Com relação a Fazenda Gavião infelizmente o acervo que Sebastião Carvalho relaciona no álbum da propriedade que hospedava o Imperador D. Pedro II não existe mais. Por dificuldades financeiras da família Pitta este patrimônio histórico, a pérola entre as propriedades rurais do primeiro barão de Nova Friburgo, vem se deteriorando a olhos vistos.

Por outro lado temos boas notícias. A Fazenda São Clemente que pertenceu inicialmente a Francisco Clemente Pinto e adquirida pelos Monnerat é um verdadeiro tesouro de Cantagalo. O atual proprietário Marcelo Monnerat restaurou a casa palacete de acordo com informações de seu pai Carlos Lincoln Monnerat, de iconografias e da tela à óleo pintada por Henry Walder em 1895, que ilustra a sede da Fazenda São Clemente. O mobiliário e as louças do período do Império bem como o pomar-parque assinado por Auguste François Marie Glaziou são outras preciosidades desta fazenda histórica.

Outro grande exemplo de manutenção vem de outro Monnerat, o médico Renato que restaurou parte da Fazenda Sant’Anna que pertenceu ao poderoso barão de Cantagalo. Renato Monnerat reuniu um acervo e criou um centro de memória que deu o nome de Martin Nicoulin, em homenagem ao autor do livro “A gênese de Nova Friburgo”. A Prefeitura de Cantagalo possui uma atividade de turismo rural na região mas bem aquém do que propunha o casal de pesquisadores. Sebastião de Carvalho, que faleceu em 24 de maio deste ano, e Rosa Maria plantaram sementes que deram frutos.

A histórica e bem preservada Fazenda Sossego recebe visitas onde o turista pode desfrutar da vida cotidiana de uma típica fazenda de café oitocentista (o agendamento para visitas deve ser feito pelo telefone 22 – 992 689 696). O “Álbum das Fazendas de Cantagalo” é uma deliciosa visita ao passado e um valioso registro de como estas fazendas se adaptaram a nova ordem econômica do estado fluminense. O livro pode ser adquirido com Rosa Maria pelo telefone (22) 992 136 389.  

  • Foto da galeria

    A casa palacete da Fazenda São Clemente

  • Foto da galeria

    O casal de pesquisadores Sebastião e Rosa Maria de Carvalho

  • Foto da galeria

    O historiador Martin Nicoulin com os Monnerat na Fazenda Santanna

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