Tim-tim!

Robério Canto

Escrevivendo

No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

quarta-feira, 07 de abril de 2021

Naquela época os egípcios tinham mesmo alguns costumes esquisitos

Talvez você se espante com esse negócio de viagem turística à lua, quiçá a Marte. E se você se espanta também com o uso da palavra quiçá, lembre-se do famoso bolero “Siempre que te pregunto/ que, cuándo, como y dónde/ tú siempre me respondes/ quizás, quizás, quizás”. Não é preciso ser mestre doutor em espanhol para saber que o quizás deles é o nosso quiçá, e que ambos correspondem à nossa indecisa palavra talvez. Mas, admito, é palavra antiga e fora de circulação há muito tempo, que só a duras penas sobrevive nos dicionários.

Porém nada é espantoso neste mundo e neste mundo nada é novo. Muito menos a inteligência e a sabedoria humanas.  A prova disso são os egípcios. E a prova de que os egípcios antigos — e bota antigo nisso — tinham tanto inteligência quanto sabedoria, além de muito bom gosto, é que há mais de cinquenta mil anos já fabricavam cerveja. É a conclusão a que chegaram os arqueólogos que estavam procurando coisas bem diferentes num cemitério no deserto quando se depararam com uma verdadeira e completa fábrica da boa e velha cervejinha. E não se tratava de coisa pequena, era uma super-AMBEV, capaz de produzir 22.400 litros a cada rodada. Se for mentira ou exagero, é mentira e exagero das múmias ou dos arqueólogos, eu estou apenas repetindo o que li (talvez inventando um pouquinho).

Não sei se os nossos ancestrais companheiros de copo aproveitavam devida e democraticamente a bebida. Só o fato de a fábrica estar situada num cemitério já depõem um pouco contra eles, porque dessa má localização os estudiosos concluíram que a cerveja era usada nos sepultamentos do pessoal da elite. Pelo que entendi, os faraós não se deixavam sepultar sem pagar a última rodada e permitir que os convidados enchessem a cara durante a cerimônia de adeus. Pode ser até que eles, conscientes de seus pecados, levassem parte da produção consigo, para o caso de irem para “aquele lugar quente” onde, pelo que se sabe, a sede é grande.

Mas, enfim, naquela época os egípcios tinham mesmo alguns costumes esquisitos. Por exemplo: se você tivesse dois mil pedaços de ouro, o que faria? Gastaria tudo em cerveja? É uma ideia. Mas os arqueólogos acharam uma velha múmia com duas mil peças de ouro enfiadas na boca. Além de um grande desperdício, é o mais caro “cala a boca” de que se tem notícias.

Certamente vocês já observaram que eu falo da cerveja com alguma simpatia. Não observaram errado, devo confessar. Não que eu ignore quanto sofrimento e quanta tragédia o consumo de álcool tem causado, o quanto tem cobrado em lágrimas perdidas e vidas desperdiçadas. Mas acredito, e sou adepto, do uso moderado, de parar não na hora devida, mas muito antes dela. E o que os arqueólogos encontraram num cemitério da cidade de Abydo é prova de que beber é um hábito antigo, que certo ou errado, tem passado de copo em copo, através dos tempos, até os dias atuais. Saúde!

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No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

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