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Entrevista virtual com o poeta Manuel Bandeira
Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
— Começando lá bem de trás: como foi sua infância?
— Sou bem nascido, Menino, fui, como os demais, feliz.
— O que você faz para retornar a essa infância feliz?
— Enquanto anoitece, vou lendo sossegado e só as cartas que meu avô escrevia a minha avó.
— Do que mais você se lembra dos lugares de seus tempos de menino?
— Da velha chácara triste: Não existe mais a casa... Mas o menino ainda existe
— Como o poeta Manuel Bandeira define o homem Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho?
— Provinciano que nunca soube escolher uma gravata. E em matéria de profissão um tísico profissional. Músico falhado (engoliu um dia um piano, mas o teclado ficou de fora).
— Apesar de doente desde cedo, sua poesia revela uma tranquila aceitação do sofrimento.
— Só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.
— O que alguém pode fazer quando se descobre doente, como aconteceu com você ainda jovem?
— A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
— A doença fez você perder a pureza da juventude?
— Não sei entre que astutos dedos deixei a rosa da inocência.
— Sua poesia frequentemente fala de tristezas ...
— Eu faço versos como quem chora de desalento... de desencanto.
— Qual foi a outra grande tristeza de sua vida, Bandeira?
— Uma noite de muito frio, a Dama Branca levou meu pai.
— Nos seus poemas o amor frequentemente parece irrealizado ou mal sucedido...
— Amor – chama e, depois, fumaça... O fumo vem, a chama passa... Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
— Mas você tem amado muito na vida...
— A escuridão propícia aos furtos, propícia aos furtos como os meus, de amores frívolos e curtos.
— Você foi um homem de muitas amizades. Muitas pessoas queridas por você já partiram. Como você vê esses amigos quando se lembra deles?
— Estão todos deitados, dormindo profundamente.
— Tendo vivido a dor e o amor tão intensamente, como você define a vida?
— A vida é uma agitação feroz e sem finalidade. A vida não vale a pena a dor de ser vivida.
— Em poemas como Elegia de agosto, A espada de ouro, O obelisco, você critica a situação brasileira, ou antes, o comportamento de certos brasileiros. E se tudo isso ficar ainda pior?
— Vou-me embora pra Pasárgada. Aqui eu não sou feliz. Lá a vida é uma aventura.
— Supondo que se possa gostar de morrer, como você gostaria de morrer?
— Pensando humildemente na vida e nas mulheres que amei. Sei que é grande maçada morrer, mas morrerei — quando a vida for servida — sem maiores saudades desta madrasta vida, que todavia amei.
— Então você não tem medo da morte...
— Quando a Indesejada das gentes chegar (não sei se dura ou caroável), talvez eu tenha medo. Talvez sorria e diga: — Alô iniludível!
— Cite um poeta de sua especial admiração.
— Sempre é poeta de verdade esse homem lépido e limpo que é Carlos Drummond de Andrade.
Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
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