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Crônicas antigas

Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
Não duvido que, depois que a tiver lido, alguém comente: “Não melhorou nada até hoje”
Alguém me perguntou qual foi a minha primeira crônica publicada, a porta de entrada para as mais de 900 que já tive a ousadia de estampar em jornal, desde aquele longínquo 15 de outubro de 1977. Até me lembrei dela, mas logo me veio a ideia de que não fui eu que a publiquei, o autor era outro. Não que eu a tenha roubado; falando sinceramente, não sou dado a roubar coisa nenhuma. Podem investigar. Acontece que eu era outro, mais jovem, mais analfabeto e menos experiente dos tropeços e avanços que todos nós vamos dando, vida afora. E tanto eu não era o eu que está escrevendo agora, nesta manhã de abril, fria e chuvosa, que hoje eu não publicaria nada daquela época (mas vou publicar, como se verá mais adiante).
De repente, alguém da casa vem me informar que o Papa Francisco morreu durante a madrugada. Os dedos ficam imóveis sobre o teclado, porque a notícia é triste. Depois do grande intelectual e teólogo que foi Joseph Ratzinger, Deus (para os católicos), ou o acaso (para os múltiplos não católicos) mandou Jorge Mario Bergoglio, um homem simples, com cara de vizinho antigo, ou de dono da quitanda do bairro. Já está no céu, onde continua torcendo pelo San Lourenço e dizendo que Pelé era melhor do que Maradona. Talvez não diga em voz alta, porque pode ser que no céu exista outro argentino.
Também é Dia de Tiradentes, “aquele herói enlouquecido de esperança”, na definição de Tancredo Neves. Talvez tenha muito de mito, mais Joaquim José e menos Tiradentes. No entanto, é um mito do bem, tão diferente dos que atualmente vemos por aí. Sabe-se o quanto ele se sacrificou pelo que acreditava e do que se sabe conclui-se que, como diz o samba do Império Serrano, “Foi traído e não traiu jamais / A inconfidência de Minas Gerais”.
E a primeira crônica? Não, essa não. Destoa muito do que escrevo atualmente. Talvez a terceira, que saiu no Correio Friburguense em 5/11/77, seja um pouco menos ruim. Além disso, essa foi a primeira que escrevi especificamente para o jornal. Não duvido que, depois que a tiver lido, alguém comente: “Não melhorou nada até hoje”. Não vou levar a mal. E, para que isso não me desanime de continuar escrevendo, atribuirei comentário tão negativo a esta fria e chuvosa manhã de abril, pois ela há de ter deixado o leitor aborrecido com a vida e com toda a raça de cronistas.
Quanto à crônica... bem, vai ter que ficar para a próxima quinzena. Gastei o espaço que tinha só na introdução (isso é que é ser conciso!). Vou deixar os leitores e as leitoras roendo unha de tanta ansiedade! Mas, como não confio na memória de vocês, recomendo que anotem a data num papelzinho: 21.05.25. Aqui estarei, esperando, e ficarei muito decepcionado se vocês não aparecerem.

Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
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