Buenas personas

Robério Canto

Escrevivendo

No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Já é tradição os homens fazerem humor com-contra as mulheres

Além do isolamento a que estamos obrigados por causa do vírus que ora nos espreita do lado de fora, ainda somos atacados via internet por mais mensagens do que as tantas, muitas, demais que já recebíamos quando a saúde andava à solta e a doença estava oculta nos confins da China. Se fôssemos ler todas com o cuidado que de nós esperam seus remetentes, não faríamos mais nada na vida (ou na morte) e nem mais teríamos tempo para reclamar da imensa duração dos dias, com suas horas que não passam, cada 24 parecendo 48, 62 ou mais. E o que chama a atenção é como muita gente acha um jeito de mandar mensagens que, ao falar sobre o vírus, trazem, subjacente ou explícita, a ideologia de quem as enviou. Eu, sinceramente, estou ficando confuso: não sei se o Covid-19 é de esquerda ou de direita. Não sei se nossas autoridades são um comitê de Sábios da Medicina Internacional, ou um bando de incompetentes médicos brasileiros. Cada remetente tem suas convicções e não desanima do que parece ter se transformado no propósito de sua vida: convencer-nos da pureza, da grandeza e da isenção de suas postagens.

Por outro lado, mesmo nesses tempos escuros, em que até sair à rua tornou-se imprudência, quando não pecado e crime, não falta quem se disponha a fazer humor. Às vezes, humor negro. Mas rir das próprias desgraças e dos próprios medos parece mesmo a melhor forma de o ser humano aguentar o tranco e ir vivendo, sobrevivendo. É só nos lembrarmos do caso — verídico — do sujeito que foi baleado num assalto e, já na mesa de operação, ouviu do médico a pergunta: “Tem alergia a alguma coisa?” “À bala”, respondeu o engraçadinho, enquanto o sangue escapava pelos furos que as ditas cujas lhe fizeram no corpo.

Das piadas que recebi, citarei apenas uma. Se bem me lembro, era assim: “Ahora que los bares están cerrados, me he quedado em casa, hablando com mi esposa. Parece uma buena persona”. Desculpem os erros, porque meu espanhol é dos faroestes americanos, nos quais o bandido que fala espanhol sempre acaba levando bala do mocinho que fala inglês. Quase tudo na vida tem dois lados, e o outro lado da vida nem merece ser mencionado. Eis, pois, uma lição de vida da atual pandemia: leva-nos a encontrar as buenas personas que temos ao nosso lado e tantas vezes perdemos, justamente porque as temos fácil demais. A quarentena é uma oportunidade para descobrimos aquilo que o poeta chamou de “a insuspeitada alegria de con-viver”.

Quanto ao sujeito que gostaria de estar nos bares, discutindo com outros bêbados, mas é obrigado a ficar em casa, conversando com a esposa, já é tradição os homens fazerem humor com-contra as mulheres. Certamente por inveja, uma vez que sem elas é impossível para eles realizar coisas grandiosas, como dar sentido à vida, ou pequenininhas, como achar os óculos perdidos pela casa. Assim sendo, com permissão de minha mulher e respeito a todas as outras, que desde já declaro ter na conta de buenas personas, aqui vão algumas finezas que os homens disseram sobre elas.

Quando um cara rouba sua mulher, não há melhor vingança do que deixá-lo com ela. (David  Bissonette)

Eu não tive sorte com minhas duas esposas. A primeira me deixou e a segunda, não. (James Holt McGavra)

Uma boa esposa sempre perdoa o seu marido quando ela está errada. (Rodney Dangerfield)

Um cara, todo orgulhoso, disse: “Minha esposa é um anjo”. O segundo cara respondeu: “Sorte sua, a minha ainda está viva”. (Um marido que, por motivos óbvios, preferiu ficar anônimo).

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No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

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