Juros e inflação

Gabriel Alves

Educação Financeira

Especialista em finanças e sócio de um escritório de investimentos, Gabriel escreve sobre economia, finanças e mercados. Neste espaço, o objetivo é ampliar a divulgação de informações e conhecimentos fundamentais para a nossa formação cidadã.

sexta-feira, 08 de maio de 2020

O isolamento social impactou diretamente os hábitos de consumo de toda a população mundial e no Brasil não foi diferente. Passamos a consumir o necessário – com pequenas exceções aqui ou ali – e isso impacta diretamente nos cálculos de indicadores econômicos: as previsões para o PIB de 2020 são preocupantes, a dívida pública tende a aumentar, o dólar não para de subir e a Selic passou por mais um corte esta semana (o que só é ruim se analisarmos o motivo completamente atípico).

Na última quarta-feira, 6, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou um corte acima do previsto pelo cálculo médio esperado pelo mercado financeiro; de 3,75%, passamos para o patamar da Selic a 3% ao ano. Considerar esta queda é importante para seus investimentos e financiamentos, pois é tema de grande relevância no contexto econômico do país. Você sabe como?

Antes de mais nada, vamos às siglas:

  • Selic é o Sistema Especial de Liquidação e Custódia e representa o sistema responsável pelo controle de emissão, compra e venda de títulos públicos federais; fazendo desta taxa, a principal ferramenta de controle inflacionário. Um sistema complexo que busca manter a boa saúde econômica do país a partir da regulamentação do mercado interbancário para financiamento de operações diárias; o que passa a influenciar outra taxa de grande importância no mercado financeiro: o CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Por isso a Selic é considerada a taxa básica de juros; a base para todas as outras taxas praticadas no país.
  • Copom é o Comitê de Política Monetária, setor composto por membros da diretoria colegiada do Banco Central do Brasil e responsável por implementar a política monetária, estabelecer a meta da Taxa Selic e analisar o relatório de inflação.

Diante do mercado financeiro, a Taxa Selic tem influência direta na valorização de ativos financeiros – e com isso, também, a do Ibovespa –, consequentemente, a desvalorização do dólar perante o Real. Contudo, dessa vez o contexto é completamente atípico; no dia do anúncio do corte pelo Copom, o índice fechou com pequena baixa e o dólar não para de subir.

Entendido basicamente o que são a Selic e o Copom, é hora de analisarmos suas influências no cotidiano econômico da população. De maneira simples, se a taxa básica de juros reduz, o acesso ao crédito deve baixar sua cobrança também; e de fato ocorrem reduções, mas cá entre nós, os repasses estão longe de serem sentidos de forma nítida pela população. O Brasil ainda está entre as maiores cobranças de taxas de juros em crédito pessoal do mundo, mesmo tendo a Selic no patamar de países desenvolvidos.

Ademais, outro ponto delicado e extremamente necessário ser dito ao entrarmos no tema “juros e inflação”, é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Índice representativo de inflação, o IPCA é, de fato, a inflação arcada diretamente pelo seu bolso; de acordo com o IBGE, este índice “tem por objetivo medir a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo, referentes ao consumo pessoal das famílias”. Em 2019, o IPCA ultrapassou a casa dos 4% ao ano; contudo, para 2020 a situação melhora e as expectativas médias giram em torno de 2,59% ao ano, segundo o Relatório Focus, do Banco Central.

Sintetizando as ideias, as taxas de juros referentes ao crédito no Brasil têm de baixar consideravelmente para os consumidores; se o corte da Selic não causar mudanças positivas, outras medidas devem ser tomadas para estabilizar a economia do país; e, por fim, fique atento às rentabilidades dos seus investimentos, o desconto da taxa IPCA mostra a rentabilidade real do seu capital (que a partir dos últimos meses pode ter passado a ser negativa).

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