A tesoura da censura

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

sexta-feira, 18 de março de 2022

A história da censura acompanha a humanidade desde o passado até o presente, apesar dos muitos direitos garantidos em pleno século 21. À grosso modo, “censura” se define como uma ação de restrição de conteúdo ou mesmo de circulação de alguma mensagem, seja artística, jornalística etc, e geralmente atrelada à justificativa de proteção de um grupo ou indivíduo.

Os históricos e clamados direitos à liberdade de expressão, artística e jornalística foram, sem dúvida alguma, um dos marcos mais importantes da história moderna brasileira, uma vez que censurado em diversos momentos históricos conturbados.

Durante a vigência dos “anos de chumbo”, houve a criação do Ato Institucional nº 5, medida mais dura da ditadura militar, que implementou a censura no Brasil, época de muitas torturas, prisões, exílios, restrições artística e mortes. Contudo, com o fim do regime militar, nossa lei maior a assegurou uma gama de direitos fundamentais, para que a democracia fosse nossa principal fonte para o progresso.

Em um ato de repercussão nacional, a Prefeitura de Nova Friburgo foi acusada de censurar obras artísticas, com representações de corpos femininos, em evento no Dia Internacional da Mulher. A artista visual Elis Pinto, relatou ter sido instruída a retirar de exposição obras antes da visita do prefeito.

Bom, fato é que o corpo nu é um dos retratos mais antigos em obras de arte, desde a época das cavernas, passando por toda história da arte e que chegou a resistir até nas épocas mais sombrias da Idade Média. Muitas das obras mais famosas da história da humanidade, apesar de possuírem o nu, são reconhecidas pela sua grandeza nos museus, igrejas e exposições de arte por todo mundo como: A Vênus de Milo (século 2 a.C.)Laocoonte e seus filhos (entre os séculos 1a.C. e 1 d.C.)O nascimento de Vênus de Botticelli (1484); David de Michelangelo (1501)As três graças de Rafael (1504); Olympia de Manet (1863); Nu deitado de Amedeo Modigliani (1917). 

 A própria pintura ultra conhecida “A Criação de Adão”, obra de Michelangelo foi feita no teto da Capela Sistina e que possuem um valor histórico tão importante que podem ser facilmente encontradas em livros escolares brasileiros. Nesse sentido, qual deveria ser a baliza do que pode e o que não pode?

A Constituição, berço das leis do nosso país, definiu como direito fundamental a livre expressão intelectual e artística, independentemente de censura. A arte possui o seu papel fundamental para evolução da sociedade e em todos os momentos históricos, teve sua participação, mesmo que censurada pelas polêmicas e pelo choque, mas que possibilitaram o crescimento da humanidade em seu senso crítico.

Recentemente, um caso ficou muito famoso no Brasil: o filme “Como ser o pior aluno da escola” foi censurado, após o vilão da trama, de forma caricaturizada, assediar verbalmente menores de idade. A história ganhou uma repercussão gigantesca e dividiu as pessoas, principalmente, politicamente.

Devemos levar em conta, que um filme internacional, que não mencionarei o nome em respeito aos menores de idade que leêm essa coluna, que choca com cenas fortes de pedofilia, necrofilia e abusos sexuais, é permitido no Brasil, com a classificação etária de 18 anos. Então, devemos nos perguntar, qual a régua para medir a censura? A proteção do menor de idade ou a ideologia política de quem não comunga com sua cartilha?

O próprio Charles Chaplin, teve seu filme “O Ditador”, em que fazia uma crítica aos regimes facistas e nazistas, censurado no Brasil durante a Era Vargas. A justificativa era que o filme continha um teor “comunista” e “ultrajante para as forças militares”. Hoje, é um clássico da história cinematográfica.

É muito importante que as tesouras da censura não tenham esse poder cerceador que emerge cada dia mais. Pode haver um balizamento de idade do que pode ser assistido em determinada idade? Deve. Assim como aconteceu, na última quarta-feira, 16, com o filme brasileiro que havia sido recém censurado. O cerceamento artístico é muito perigoso e sua prática não traz nenhuma boa lembrança na história da humanidade.

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