Saúde mental dos jovens em risco com o mundo digital

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Nos últimos anos, as mídias sociais se tornaram uma presença constante na vida dos jovens, oferecendo tanto benefícios quanto desafios. Hoje, o nosso país conta com o maior contingente de jovens de sua história, e é preocupante que neste momento percebamos uma crise de saúde mental tão crescente na população juvenil.

Paralelamente a isso, pesquisas realizadas no Brasil e em todo o mundo convergem para apontar que estamos vivenciando um agravamento dos indicadores de saúde mental entre adolescentes – uma tendência observada mesmo antes da pandemia, que vem atingindo, cada vez mais cedo, as crianças, os adolescentes e principalmente, os jovens adultos.

Preocupações sobre o impacto da tecnologia na juventude não são novas: a televisão e videogames foram frequentemente alvos de escrutínio nas últimas décadas. Afinal, como lidar com as mídias sociais que vêm ganhando destaque como potenciais gatilhos para problemas de saúde mental.

Ansiedade e depressão: o mal dos jovens

O volume de evidências de que as mídias sociais podem ter efeitos nocivos para uma fatia da população jovem vem crescendo. É muito além de uma coincidência temporal entre o aumento de sintomas como ansiedade e depressão na população e a disseminação em larga escala do uso de mídias sociais há pouco mais de uma década.

O que no início eram as “redes sociais”, as ferramentas que tinham como objetivo central permitir a conexão com outras pessoas do círculo social de cada um, nos últimos anos se transfiguraram nas “mídias sociais”, na qual existe um fluxo contínuo de textos, imagens, vídeos rápidos, tudo filtrado por algoritmos com fins comerciais.

No Brasil, cerca de 70% da população está conectada à internet, com exposição constante a informações, pressões sociais e a ênfase na autoimagem na internet. O que evidentemente, traz diversas implicações na saúde mental dos jovens, que atravessam essas mudanças de mundo de forma constante, antes sequer de aprender a lidar com elas.

Novos dados divulgados em julho, apontam que 26,8% dos brasileiros receberam diagnóstico médico de ansiedade. Um terço (31,6%) da população mais jovem, de 18 a 24 anos, é ansiosa — os maiores índices de ansiedade, líder dentre todas as faixas etárias no Brasil. E a que custo chegamos a esse índice?

Vendedores de sonhos a qualquer custo

O Brasil hoje tem o maior contingente populacional de jovens de todos os tempos. Provavelmente isso nunca mais se repetirá, de modo que estamos diante de uma janela de oportunidade histórica, com repercussões para as próximas gerações. Afinal, estamos protegendo os cérebros e mentes destes quase 50 milhões de brasileiros? A verdade é que não!

Cada dia mais cedo somos atingidos pelos padrões de beleza inalcançáveis. Crescendo em uma geração de fotos super editadas, de procedimentos estéticos e em busca de um ideal de beleza, vamos sacrificando a nossa juventude. Não estamos conseguindo ver a gravidade de uma jovem ter morrido, recentemente, por uma cirurgia plástica no joelho.

Pasmem! De acordo com dados divulgados pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, o Brasil lidera o ranking de nações que mais realizam procedimentos estéticos no mundo. Dos quase 1,5 milhão de procedimentos estéticos feitos em 2016, 97 mil (6,6%) foram realizados em pessoas com 18 anos de idade, ou menos.

Por outro lado, a ‘desinformação’ promovida pelos ‘influenciadores’ também dão lugar ao uso indiscriminado de drogas, anabolizantes e vapes. Sabe-se lá de onde vieram, mas diante de sua popularidade são promovidos próprios aplicativos, aparecendo constantemente na tela, com shows desinformação e promovendo o que querem, como uma verdade absoluta.

Aparecendo também na venda de fórmulas mágicas para o sucesso contribuem cada dia mais para o agravamento de problemas como ansiedade, depressão e solidão digital. Jovens que não conseguem acompanhar esse ritmo de mudança, seja no quesito beleza ou “conquistas na vida”, se colocam em uma cobrança, apesar de começarem a viver apenas agora.

Não há como normalizar tudo o que vivemos. A internet vende sonhos a qualquer custo, mesmo que isso esteja colocando toda a nossa juventude em risco. Um termo descreve nossa época, caracterizada por essa constante mudança e fluidez, chamado de “modernidade líquida”. Tudo é rápido, passageiro, frágil e substituível.

Em razão da complexidade do problema, como podemos abordar a questão do uso de mídias sociais por jovens? Uma proibição simples e irrestrita do uso de mídias sociais não parece ser desejável e muito menos viável – ainda que uma discussão sobre a idade mínima para seu uso faça bastante sentido.

Não parece, contudo, adequado deixar essa responsabilidade exclusivamente na mão das famílias, tornando-se necessário o envolvimento de toda a sociedade. Certamente, precisamos compreender melhor este complexo fenômeno, mas as lacunas no conhecimento atual não devem servir de justificativa para a inação diante de uma juventude doente.

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