O terror da milícia numa terra de ninguém

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Na Zona Oeste do Rio de Janeiro, uma onda de violência deixa a população em pânico, em estado de alerta e insegura sobre como será o dia de amanhã. Desde a última segunda-feira, 23, após uma operação da Polícia Civil contra a maior milicia do estado, os grupos paramilitares instalam um cenário de terror na capital fluminense.

A ação terrorista é uma represália à operação da polícia que matou Matheus da Silva Rezende, o Faustão, apontado como o número dois na hierarquia da milícia na Zona Oeste da cidade. Em ameaças, o grupo paramilitar avisa que se houverem mais prisões, um caos ainda pior se instalará na região.

Em uma onda de violência, milicianos já foram responsáveis pelos incêndios de mais de 35 ônibus, quatro caminhões, duas estações de BRT e mais três tentativas de incêndio a bens públicos. Em meio ao cenário que nos faz recordar uma verdadeira guerra civil, a Prefeitura do Rio de Janeiro suspende aulas em escolas e pede ajuda do Governo Federal.

O que é a milícia

O primeiro grupo paramilitar se formou em Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, no fim dos anos 80. Inicialmente, carregava o lema de “proteger” o cidadão de bem da ofensiva do tráfico de drogas — tanto que o consumo de entorpecentes era proibido na região.

A partir dos anos 2000, alguns policiais e ex-policiais corruptos passaram a realizar serviços de “segurança” nas comunidades sob o pretexto de “resguardar” os moradores do tráfico - a quem, evidentemente, todos se opunham, por ser tratarem de facções criminosas sem limites. O grupo se intitulava “Liga da Justiça”.

Institui-se uma “taxa de proteção” pelo “serviço”. Por sua vez, a cobrança não era opcional aos moradores e comerciantes. Tornou-se uma forma de exploração e de extorsão, para que os locais pudessem “viver uma vida tranquila e sem aborrecimentos”, por meio de discursos moralistas que defendiam a imposição da ordem.

E assim, os paramilitares passaram a enriquecer e a impor o monopólio de serviços essenciais como a internet clandestina, a distribuição de água e de gás, sobre os quais também incidiam muitas “taxas” em prol dos milicianos. Motoristas de vans, mototáxis, táxis e outros veículos também eram obrigados a pagar pedágios.

Quase que inspirados na vida de Pablo Escobar, os fundadores perceberam melhor do que apreender do tráfico, também seria extremamente rentável vender drogas. E para se proteger dos braços do Estado, migraram para os campos da política na cidade do Rio de Janeiro - recebendo prêmios políticos na Alerj, cargos importantes e até sendo eleitos.

De acordo com o Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (UFF), em um período de 16 anos, as milícias quase quintuplicaram seus territórios e são hoje o maior grupo criminoso do estado, se aliando ao Comando Vermelho (CV). As áreas sob domínio de grupos paramilitares aumentaram 387,3% entre os anos de 2006 e 2021, influenciando diretamente na vida de dois milhões de pessoas em nossa capital.

Enfrentamos esse mal sem ajuda de ninguém

Praticamente não há mais diferença entre os métodos e ações de milicianos e o de traficantes. Todos cobram taxas, controlam serviços, lucram com venda de drogas e mantêm um regime de medo por onde passam. Estamos presenciando uma das maiores facções criminosas já vistas dentro desse país.

A grande diferença é que a milícia está enraizada nas grandes instituições de poder e de pessoas que tem amparo do estado. Seja nas delegacias ou nos quartéis, usando farda ou roupa normal, e às vezes, até vestindo terno nos cargos políticos mais importantes do nosso próprio país.

Não há como generalizar. Longe disso! Mas como nós, meros populares, podemos denunciar se quem está do outro lado da linha telefônica pode também integrar essa facção? O medo toma a todos nós, nos fazendo virar refém, com o grito de ajuda preso na garganta.

Infelizmente, o crime organizado no Rio de Janeiro chegou a um ponto que não tem mais volta. A milícia se expande de norte a sul em todo o país, proporcionando os mais tristes episódios na história da segurança pública, vindo de um braço criminoso, militarizado, institucionalizado e com força política – que “nós”, infelizmente, através do voto, demos a eles.

Não pensem que esta realidade não chegará a Nova Friburgo. É algo muito maior do que imaginamos e do que temos gerência sobre. E, se todos os indícios e denúncias que correm pelas bocas alheias nos comércios e ruas dessa cidade, forem verdadeiras, de fato, engatinhamos o início dos novos maus dias para a nossa cidade.

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