O brasileiro envelhece com dificuldades

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Todos nós já ouvimos falar que possuímos um roteiro pré-estabelecido em nossa vida na Terra: nascemos, crescemos, nos reproduzimos, envelhecemos e morremos. Talvez esse seja o ciclo natural para qualquer outro vivente do planeta, mas para nós, humanos, essa trajetória é diferente, levando uma pitadinha de sal a mais nessa receita.

A verdade é que nascemos, crescemos, estudamos, trabalhamos, compramos coisas e pagamos impostos. Nos reproduzimos, trabalhamos mais e pagamos contas intermináveis... e quando finalmente chegamos a nossa velhice, tudo que construímos durante anos, ainda sim não é o suficiente por tudo o que fizemos e contribuímos.

A realidade é que a população brasileira está envelhecendo cada dia mais. Para termos uma noção, a expectativa é que a partir de 2039, o Brasil possua mais pessoas idosas do que crianças em toda a sua configuração populacional. Mas será que nós, como país, estamos nos preparando adequadamente para esse cenário? A resposta é obvia: não!

Dificuldades financeiras e nome “sujo”

Já é uma realidade cotidiana que as pessoas tenham um segundo emprego ou mesmo façam ‘bicos’ para poder não contar apenas moedas no fim do mês. Ainda sim, muitas famílias não conseguem se organizar financeiramente, e um dos motivos é a inflação galopante que vivemos. A nossa vida está extremamente cara, é fato inegável!

Bom, e se está cara para quem está no mercado de trabalho, imagine para quem recebe apenas uma aposentadoria, que por sinal foi milimetricamente reajustada nos últimos anos. A equação não bate e o cenário, não poderia ser diferente: os idosos cada dia mais enfrentam dificuldades financeiras.

De acordo com um levantamento realizado pelo SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), mais da metade dos idosos do país se endividaram com alguma despesa nos últimos seis meses e estão com seu nome “sujo”. As contas de luz, cartão de crédito, água e IPTU lideram as despesas não pagas por essa população.

 Dentro desse triste cenário, a diminuição do poder de compra, a falta de organização financeira e o encarecimento dos planos de saúde - visto por muitos, como indispensáveis – são um dos motivos. O padrão de vida tem caído bruscamente para a terceira idade que busca no mercado de trabalho, um desafogo.

Mercado de trabalho: uma necessidade

Pensar nos idosos voltando ao mercado de trabalho pode parecer algo inusitado. Afinal, não é esse o sentido da aposentadoria? Os dias atuais reforçam que não mais. Quem não tenha construído uma boa condição financeira ao longo da vida ou tenha um familiar que ajude nos gastos essenciais, o cenário é de dificuldades.

Para muitos, trabalhar é para distrair e não deixar a cabeça ociosa e depressiva. Para outros é necessidade. Fato é que cada dia mais, os idosos adiam sua saída do mercado de trabalho. Quase 25% da população já aposentada, ainda continua em atividades profissionais.

E ainda há aqueles que se aposentaram e diante das necessidades financeiras, tentam se reinventar e ensaiar um retorno ao mercado de trabalho, dominado pelos jovens da geração Z. O caminho é difícil devido ao cansaço, à saúde e pelo preconceito contra os mais velhos, que impossibilita esse retorno financeiramente necessário para muitos.

Sistema de saúde falha com os idosos

A nutricionista com especialidade em nutrição funcional, Aimée Madureira Campos, explica que com o aumento da longevidade da população, as políticas públicas devem ser diferenciadas e prezar para uma construção no presente, de um futuro não tão distante. Segundo ela, necessitamos olhar com mais cuidado para a melhor idade.

“As políticas públicas focam sempre no combate de doenças por meio de remédios e tratamentos, mas não olham para a causa desses problemas. Sabe aquele ditado de que é melhor prevenir do que remediar? Sem investimento em profissionais habilitados a prevenir doenças e sem boas condições para uma boa alimentação, a população cada vez envelhecerá mais doente.”

Diante de todo esse cenário de envelhecimento da população, percebemos o Brasil não está se preparando para enfrentar as consequências desse fenômeno natural nas próximas décadas. As políticas públicas já não se mostram tão eficientes para sanar muitas dificuldades atuais e quem dirá aos que aparecerão ao longo dos anos.

Muitas vezes, é necessário empatia, para que olhemos para uma parte da população que apesar de ser vista, passa despercebida pela nossa ignorância. Todos nós um dia envelheceremos, mas só nos damos conta das necessidades, quando chegamos lá.

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