Nenhuma mulher a menos

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A real intenção para a coluna desta semana, seria abordar o tema sobre o conflito entre Rússia, Ucrânia e a Otan e seus desdobramentos. Em contrapartida, é perceptível que de nada importa abordarmos sobre uma disputa do outro lado do planeta, se em nossa cidade vivemos uma verdadeira guerra contra as mulheres... e que estamos perdendo!

Após, a polêmica decisão do corpo de jurados acerca do caso Rodrigo Marotti, muitos protestos foram realizados no último fim de semana e clamavam pelo fim da violência contra a mulher, contando com a distribuição de folhetos de instrução e gritos por justiça. Pouco depois, na última segunda-feira, 14, mais um caso chocou Nova Friburgo com tamanha brutalidade e que trouxe um sentimento de ainda mais tristeza à população.

O corpo de uma mulher de 37 anos foi encontrado com perfurações e incendiado ao lado de um carro, conforme noticiado por A VOZ DA SERRA. Fato é que esse caso, como relata a reportagem nesta página, foi um verdadeiro soco no rosto da população que sequer havia digerido a notícia pela não condenação por homicídio do acusado da morte de Alessandra Vaz e Daniela Mousinho.

Um crime não necessariamente tem a ver com o outro, mas essa nova tragédia comoveu a sociedade ainda mais pela semelhança entre o “caso Marotti”: o acusado é ex-companheiro, vítimas incendiadas e no mesmo distrito: Mury.

O drama do feminicídio no Brasil

Mas o que esse crime significa, exatamente? Quer dizer que toda e qualquer mulher morta é vítima de feminicídio? A resposta é NÃO!

Feminicídio é o termo usado para denominar o assassinato de mulheres cometido em razão do desprezo, da violência doméstica ou pela condição de gênero, ou seja, pelo simples fato de ser mulher.

Os dados do Brasil quanto a esses crimes bárbaros são revoltantes. Além de sermos considerado o quinto país do mundo que mais mata mulheres, estima-se que só em 2020, pelo menos 1.350 mulheres perderam a vida em crimes considerados como feminicídios. Uma média de uma mulher morta a cada seis horas e meia no país.

Raisa Ribeiro, professora de Direito Constitucional, na UniRio, pesquisadora do Núcleo Interamericano de Direitos Humanos e escritora de livros e artigos científicos explica que vivemos em uma sociedade racista, sexista e homofóbica que acaba constituindo nossa visão de mundo, de uma cultura machista e caracterizada pela dominação masculina.

 “A violência doméstica e familiar contra a mulher é um fenômeno real, grave, sendo consequência de uma sociedade pautada em uma estrutura patriarcal, na qual se privilegia o masculino em detrimento do feminino, tratando as mulheres como objetos dispensáveis e sem valor.”, explica Raisa.

Violência em todos os cantos

O verdadeiro sentimento que paira sob as mulheres é de medo. Existe o receio em andar pela rua e sofrer mais uma importunação, o desânimo em ter que fingir que nada aconteceu depois de um assédio, o pavor de ficar desacompanhada até determinada hora na rua e a impotência de saber, que mesmo acompanhada do seu parceiro a sua vida pode não valer nada.

A violência está em todos os cantos da sociedade, em pequenos gestos, como uma encarada no trânsito, que constrange e amedronta, até os extremos, que chegam às agressões físicas e a morte. Essas violações são tão constantes que, você pode não saber, mas, sem dúvida, conhece uma mulher vítima de violência. No Brasil, segundo o Ipec, 25 mulheres sofrem violência por minuto.

Eu me solidarizo com desmotivação de todas as mulheres pelas lutas que às vezes parecem ser em vão, mas não são. A batalha de mulheres corajosas tem cada dia mais mudado a nossa sociedade, como exemplo, o Tecle Mulher, em Nova Friburgo, que apoia e orienta vítimas, de modo anônimo, de violência doméstica, por meio das redes sociais ou o telefone (21) 995 991 002; ou através da Polícia Militar pelo número, 190.

“O ninguém solta a mão de ninguém nunca fez tanto sentido” – Andreza Vaz, irmã da Alessandra Vaz, morta pelo incêndio em Mury, em 2019.

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