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“A mulher está praticamente integrada na sociedade”?
Lucas Barros
Além das Montanhas
Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.
O 8 de março, Dia Internacional da Mulher, é muito além de uma data de homenagens romantizadas, mas sim, um marco político. A ONU, há 47 anos, instituiu o dia que simboliza a celebração e a luta pelos avanços femininos na sociedade, na política, na economia, no ambiente de trabalho e na busca incansável contra a desigualdade de gênero.
É inegável que muitos direitos foram adquiridos com o passar do tempo, depois de muita luta e muitas vidas perdidas, mas será que a mulher ainda ocupa o espaço tido como ideal na nossa sociedade? Fato é que, ao contrário do que muitos dos nossos representantes políticos falam, a mulher não está “praticamente integrada da nossa sociedade” e é mais do que necessário falarmos de números.
Dentro de casa e nas suas relações familiares, uma mulher morreu à cada seis horas e meia, em 2020, vítima de feminicídio no Brasil. Informações revelam que a cada dois minutos, uma mulher sofre de algum tipo de violência doméstica – física, psicológica, sexual, verbal, entre outras -, maior parte dos agressores são seus parceiros e ex-companheiros.
No ambiente de trabalho, metade das mulheres entrevistadas por uma pesquisa revelou ter sido assediada em seu ambiente profissional, por colegas, clientes ou pelo próprio chefe. Em profissões tidas com mais qualificadas, o sexo feminino ganha 30% menos que o sexo oposto.
Nem mesmo o sentimento que deveria existir, de empatia, dentro de uma guerra, permitiu que mulheres refugiadas que abandonaram tudo o que construíram para fugir do embate armado sem saber para onde ir, deixassem de vítimas de falas machistas do deputado estadual paulista, Arthur do Val. Em áudios enviados para amigos, o parlamentar, também conhecido como “Mamãe Falei”, disse que as ucranianas são “fáceis porque são pobres”.
E, e se você pensa que é só a mulher se candidatar nas eleições e buscar legislar que o mundo muda, sinto-lhe dizer que você está completamente errado. O Brasil exprime o machismo até através do voto, trazendo uma realidade de menos mulheres eleitas no parlamento nacional do que no Afeganistão - país conhecido por violações contra os direitos femininos.
Na política, 900 municípios não elegeram nenhuma vereadora mulher em suas últimas eleições locais, em 2020. Em âmbito nacional, somente 12% dos nossos representantes no Senado Federal, são mulheres; na Câmara, apenas 15%. Vejamos que até num momento conturbado, no Afeganistão, o parlamento lá tem 27% de representatividade feminina.
Na rua, em uma pesquisa realizada com mulheres acima de 16 anos, 86% afirma ter sofrido assédio sexual, sejam através de assobios, olhares inconvenientes, comentários de cunho pejorativo e xingamentos seguidos ou tiveram seus corpos tocados. Quase 70% das entrevistadas relataram ter medo de chegar em casa após anoitecer.
Bruna Petribú, uma das poucas mulheres DJs em Nova Friburgo, por exemplo, relata que durante seu trabalho, diversas vezes foi alvo de assédio e quase foi mais uma vítima do golpe conhecido como “Boa noite Cinderela”. “As pessoas acreditam que pelo fato de eu trabalhar com festas, que tudo pode, e não é assim que funciona. Sou sempre extremamente profissional para evitar qualquer problema, mas muitas vezes está fora do meu alcance”, relatou Bruna.
“Eu não bebo em ocasiões profissionais, somente em momentos de lazer. Uma vez ao aproveitar com amigos em uma balada, bebi menos de um copo de um drink e logo depois comecei a passar muito mal. No dia seguinte, o garçom do bar disse que ao lavar meu copo, notou que alguém havia colocado alguma droga na minha bebida. A minha sorte é que alguns amigos íntimos me viram vulnerável e me ajudaram. Hoje, evito até de beber em lazer. Ainda tem sempre alguém acha que a culpa é da vítima”, relata Bruna.
A violência é de todo tipo e é constante. Acontece dentro de casa; no caminho do trabalho; dentro do trabalho; durante o almoço; no caminho de volta do almoço para o trabalho; com o cliente, com o patrão, com o colega de trabalho; na saída do trabalho; no caminho da ida ao lazer; em uma balada, de um bar ou de um restaurante; através dos amigos; dos amigos dos amigos; dos amigos dos parentes; dos desconhecidos; nas redes sociais após postar uma foto; no caminho de volta para casa; no aplicativo de transportes ou no ônibus; e até nos próprios sonhos, remoendo tudo que passou, quieta, por medo, por vergonha, e temendo ainda mais o que poderá acontecer no dia de amanhã.
E temos que nos perguntar, o que fala mais alto, a vontade de fingir que está tudo bem e que as mulheres vivem bem ou a empatia em se por no lugar de quem sofreu seu primeiro assédio quando ainda era criança. Doa a quem doer, mas as mulheres não estão nem perto de estarem integradas na nossa sociedade.
Lucas Barros
Além das Montanhas
Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.
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