Milei eleito na Argentina: como isso nos afeta?

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Conhecido pelas suas abordagens políticas agressivas e suas propostas ousadas, representando uma "mudança" desejada pelos argentinos que o elegeram, Javier Milei, de 53 anos, será o próximo presidente da Argentina, tomando as rédeas da Casa Rosada no próximo 10 de dezembro.

Eleito, conseguiu liderar as eleições presidenciais argentinas desde o começo, sendo considerado um marco na história da política daquele país. Ao prometer cortes drásticos nos gastos governamentais, Milei conquistou seu eleitorado com sua retórica incisiva cercada de emoção e de discursos polêmicos.

Atraindo uma massa de eleitores insatisfeitos com a crise do sistema econômico atual, agora a Argentina enfrenta um novo capítulo em sua história política, com promessas de cortes de negócios com a China e até mesmo o Brasil, Milei promete sair de relevantes alianças como o Brics e o Mercosul.

Não visando abordar o cansativo debate sobre o que é melhor: esquerda ou direita, afinal, isso vai da opinião de cada um de vocês, leitores. Afinal, como a vitória na eleição de Javier Milei pode afetar o Brasil e nossas participações nessas alianças econômicas e sociais aderidas pelos países?

 

Crise econômica e a dolarização argentina

Nos últimos anos a Argentina tem enfrentado uma terrível crise econômica caracterizada pela inflação descontrolada, uma dívida insustentável e uma moeda extremamente enfraquecida. Esse cenário tem um impacto direto na qualidade de vida da população, o que acaba gerando um gigantesco descontentamento.

Diante desse cenário econômico e político, surge um candidato irreverente, sem papas na língua e com promessas de mudanças extremamente radicais para Argentina. Um economista que se auto apresenta como um “ultraliberal antissistema” e que, justificadamente, agrada aos ouvidos da população que clama por mudança.

A inflação da Argentina já chega a ultrapassar os 100% ao ano, e sendo a mesma Argentina que há alguns anos sustentou o status da “melhor qualidade de vida da América Latina”. Agora, com o poder de compra baixo, os argentinos testemunham um único dólar comprar mais de 1.000 da sua moeda, o que é um fardo para os consumidores.

Uma das principais propostas do presidente eleito é a de “dolarizar” a economia argentina – porém, essa história de dolarizar a economia da Argentina não é nada nova. Em 1991 enfrentou uma grande reforma estrutural, abriu sua economia e dolarizou sua moeda, o que fez com que um peso argentino valesse um dólar.

Junto com essa mudança, houve menos interferência do estado argentino na economia, além de diversas privatizações, resultando num curto período de crescimento econômico para o país. Contudo, o que parecia ser bom, demonstrou não ser tão bom. Por volta de 1995, uma grande crise estourou no bolso dos “hermanos”.

Há um conceito adotado por muitos na economia, de que a moeda de países exportadores de matéria prima (como Brasil, Argentina e China), tenham seu dinheiro levemente desvalorizado para que os seus produtos se tornem mais atrativos no mercado internacional. Ou seja, se a nossa moeda é mais barata, nossos produtos são mais baratos para outros países, o que pode aumentar as exportações.

Entendo os conceitos de economia, é evidentemente que a desvalorização deve ocorrer dentro de uma razoabilidade, não podendo ser algo gritante. Contudo, no início dos anos 2000, enquanto a moeda brasileira e de outros países era mais atrativa do que a da Argentina - que estava cotada no dólar - o país viu suas exportações reduzirem muito, gerando uma grande crise no país, que tem seus reflexos até hoje, na atual crise.

 

Riscos para o Brasil: o pãozinho deve ficar mais caro

Apesar de o Brasil ser o principal parceiro comercial desse país, enquanto candidato ele disse não ter intenção de manter boas relações com o governo ditos como “comunistas” e “parasitas”, como o do Brasil, China e outros. As expectativas de Milei se dão em negócios com os EUA e Israel – que sequer o parabenizaram pela vitória.

A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Em 2022, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Brasil exportou US$ 15,3 bilhões (4,5% das exportações brasileiras) e importou US$ 13,09 bilhões.

Exportadora de matéria prima, a Argentina também está presente na mesa dos brasileiros, seja na carne ou no pão. Para se ter ideia, os hermanos exportaram 1,742 milhão de toneladas de trigo de janeiro a julho de 2023. Segundo dados do Ministério da Agricultura do país, o Brasil foi o principal comprador, comprando 79% das suas exportações.

Um célebre ditado popular sempre nos diz: “falar até papagaio fala”. Se as inúmeras promessas revolucionárias berradas por Milei se tornarem realidade, é possível que, inicialmente, possamos sentir mudanças nos valores dos alimentos em que colocamos na nossa mesa, em especial na carne e no pão.

Antes de nos apavorarmos, é importante lembrar que a economia argentina capenga para andar, com dívidas gigantescas. Sair do Mercosul, dolarizar a economia, cortar parte das relações comerciais com dois de seus três principais parceiros comerciais, não parece ter cabimento em um país que passa por crise severa e uma dívida externa de bilhões. Esperemos as cenas dos próximos capítulos.

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