Mais um caso de homofobia nos templos religiosos de Friburgo

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 03 de maio de 2023

A homofobia se revela nos lugares mais inesperados, como no recente caso do ator friburguense, Bernardo Dugin, ocorrido em uma capela de uma tradicional escola de doutrina religiosa de nossa cidade. Um boletim de ocorrência foi registrado na 151ª DP, pelo crime de homofobia, análogo ao crime de racismo.

As pregações ofensivas não foram proferidas em uma conversa de canto e reservada, mas sim, diante de todos que prestigiavam uma missa. Incluindo-se nessa lista, os familiares do ator, que num momento de luto, buscavam palavras de conforto, fé e compaixão na missa de sétimo dia do falecimento de um ente querido.

Na TV e no streaming, Bernardo coleciona participações, como nas novelas: Éramos Seis (Globo, 2019), Todas as Flores (Globoplay, 2022), Gênesis (Record, 2021), Reis (Record, presente) – as duas últimas, novelas religiosas. O ator nunca escondeu sua fé, mas nas redes sociais nos deu a tristeza de esconder o seu sorriso fácil, desabando em lágrimas após o ocorrido.

Em seu relato nas redes sociais, o ator narra sua dor e desabafa, após ouvir pregações comparando o demônio e relações homoafetivas: “É com muita dor e tristeza que registro um crime contra a minha existência. A igreja e a liberdade de expressão não podem servir como estudo para a propagação de ódio e preconceito”.

Caso semelhante em 2011

Não muito distante dos dias atuais, em agosto de 2011, uma pastora, também de Nova Friburgo repercutiu muito negativamente na internet, em meio a postagens de indignação, após uma pregação polêmica contra fiéis que defendem causas políticas, raciais e LGBTQIA+.

Em um tom enérgico, disse: “É um absurdo pessoas cristãs levantando bandeiras políticas, bandeiras de pessoas pretas, bandeiras de LGBTQIA+, sei lá quantos símbolos tem isso aí. É uma vergonha. (...) A nossa bandeira é Jeová Nissi, é Jesus Cristo. Ele é a nossa bandeira. Para de querer ficar postando coisa de gente preta, de gay.”.

E acreditem se quiserem, os desembargadores da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio – a mesma que julgará o Caso Marotti - decidiram extinguir o processo sob o argumento de que a pregadora "está amparada pelo exercício regular do direito que é a liberdade de culto religioso e de crença, assegurados pela Constituição".

Homofobia: uma realidade brasileira

Já não é o primeiro caso e infelizmente, não será o último. Em Nova Friburgo temos assistido a mais um daqueles episódios em que percebemos a desconstrução do ser humano pelas vertentes do falso moralismo. Pode não parecer, mas discursos como estes se enraízam no pensamento coletivo e trazem consequências assustadoras.

Informações de importantes órgãos de fiscalizações apontam: uma pessoa a cada 20 horas foi morta, de forma brutal, vítima de homofobia no Brasil. Os dados são espantosos e somente em 2018, foram 420 mortes decorrentes desse tipo de violência por arma de fogo, espancamento, pauladas ou suicídio.

E com o passar os anos, a violência se mostra cada vez mais brutal. Em 2010 ocorreram 130 homicídios dessa forma, enquanto em 2017, esse dado já computava 445 – um aumento de 242% em apenas sete anos.

Mesmo com a imprecisão de números acerca da violência contra a população LBGTQIA+, devido à falta de órgãos fiscalizadores, o Brasil carrega a marca de ser tristemente reconhecido mundialmente, como o país que mais mata homossexuais no mundo.

Marcado por mobilizações em todo o Brasil, o Dia Internacional da Luta contra LGBTfobia é celebrado no dia 17 de maio em todo o mundo. A data refere-se ao dia em que a Organização Mundial da Saúde, em 1990, retirou o termo “homossexualismo”, que associava a homossexualidade à uma doença mental passível de tratamento.

Ser homossexual não deve ser encarado com perversão. De longe! A verdade é que podemos escolher muitas coisas na nossa vida, seja o almoço de amanhã, a roupa que vestirei, e até a cor do meu próximo carro. Agora, o que realmente se gosta, não dá para escolher. Você gosta e pronto! Amor não se explica, amor se sente!

Apesar de a homofobia já ser crime há um tempo, ela parece não ser encarada dessa forma. Aos líderes religiosos, entendam que com grandes poderes, temos que ter grandes responsabilidades. Liberdade de religião não se pode confundir com liberdade de agressão, afinal, nunca foi isso o que o próprio Cristo pregou.  

Que um dia possamos olhar para trás e perceber que 420 pessoas mortas em um ano, de forma discriminatória soe como um absurdo. E que discursos assim, sejam repreendidos, assim como aqueles que um dia apoiaram a escravidão e a violência contra a mulher. Necessitamos olhar para o passado para não cometer os erros no futuro.

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