Greve em Hollywood e o valor do trabalho criativo

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 09 de agosto de 2023

Depois de um longo dia de trabalho, nada melhor do que chegar em casa, tomar um banho, trocar de roupa e comer alguma coisa. Seja algo para beliscar ou uma janta, a verdade é que sempre, acompanhado da refeição, há uma tela de celular ou de televisão com uma das muitas assinaturas onde passam nossos filmes ou séries favoritas.

Há pessoas que têm outras preferências, sejam as novelas, minisséries ou mesmo os muitos programas de auditório que recheiam a programação nacional. As telinhas e o entretenimento já são um costume na vida dos brasileiros que desfrutam no seu momento de lazer, de produções nacionais e internacionais.

A programação é para todas as idades. Desde os conteúdos infantis com músicas repetitivas e desenhos animados que colam na nossa mente, até as tradicionais programações que são assistidas pela população com mais idade. Podem até tentar negar, mas eu, particularmente, não conheço uma pessoa que não se divirta diante de uma tela.

Pois bem. A lógica nos traz o ensinamento de que se um produto vende muito, certamente rende bons frutos, correto? Em partes. Apesar de consumirmos conteúdos o dia todo, a realidade norte-americana de produção de conteúdo criativo, tem nos mostrado exatamente o oposto.

“Writers Guild of America on Strike”

Muitas placas de protestos com os dizeres. Em uma tradução literal para o português, o anúncio: “O sindicato dos escritores americanos está em greve”.

A paralisação dos roteiristas de Hollywood completou 100 dias nesta quarta-feira, com paralisações e manifestantes protestando contra o que descrevem como desrespeito às suas demandas.

Dados apontam que há 10 anos, 33% dos roteiristas americanos recebiam o valor mínimo estipulado pelo governo. Atualmente, quase 50% dos profissionais de um dos mercados mais consumidos do mundo, recebem o que é considerado um mínimo essencial para o trabalho.

Os atores de Hollywood também aderiram à greve, especialmente por conta dos baixos salários e do abuso da inteligência artificial, interrompendo efetivamente a produção de programas de televisão e filmes com roteiro e impactando os negócios em toda a órbita do mundo do entretenimento.

Segundo os manifestantes, empresas de Hollywood tem oferecido aos atores apenas a compra do seu direito de imagem, sendo todo o resto gerado por Inteligência Artificial, trazendo dilemas éticos. Afinal, por meio de computadores, empresas conseguem criar atores virtuais e produzir filmes mais baratos sem que precisem contratar.

A greve é aderida por muitas celebridades, como Leonardo Di Caprio, Maryl Streep e George Clooney. Não porque eles precisem de dinheiro, afinal, já têm dinheiro suficiente para as próximas gerações da sua família. Mas sim, porque existem muitos profissionais – a grande maioria, por sinal – que não vivem essa luxuosa realidade.

Hollywood é a ponta do iceberg

O drama vivido pelos escritores e atores se assemelha ao dos profissionais da educação municipal de Nova Friburgo e aos enfermeiros do país: enquanto pessoas que trabalham pouco ganham fortunas, a categoria tem recebido muito abaixo do considerado como mínimo – o que soa irônico para um mercado que lucra tanto.

Grande parte dos artistas não consegue se dedicar somente à sua profissão. A realidade atinge a categoria de forma nacional e internacional, sejam com os escritores, atores, ou até mesmo, com os DJs, cantores, dançarinos, produtores, pintores e todo nicho artístico, tornando-se exceção quem vive apenas do que se especializou.

Todos elogiam e admiram o trabalho do grafite feito na zona portuária do Rio de Janeiro, feito pelo famoso Kobra. Em contrapartida, o programa “Apagando Cicatrizes”, idealizado por Robson Sark, que coloria os muros de contenção da cidade e davam vida às cicatrizes da tragédia de 2011, pouco teve a ajuda financeira do município.

“Grande parte dos projetos são financiados por nós mesmos. Existem shows por todos os lados, mas o trabalho de arte visual é sempre menosprezado pelo poder público e pelo poder municipal. Quantas e quantas vezes já não despendi dinheiro próprio em benefícios revertidos para escolas municipais, muros de contenção e outros espaços” – desabafa Sark.

A realidade de Hollywood somente expõe a ponta de um iceberg de como o trabalho criativo é visto em todo o mercado nacional e regional. Embora todos aproveitem e consumam de arte, a realidade de quem trabalha no setor somente se mostra mais frágil e desprotegida ao longo dos dias. 

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Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

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