Deveria parecer óbvio, mas não é!

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 07 de dezembro de 2022

Você se lembra do seu primeiro dia de aula na escola? Enquanto alguns eram mais soltinhos, eu era daqueles que se agarrava na barra da saia da mãe e implorava para que não fosse deixado no meio daquele monte de crianças que corriam e gritavam. Talvez eu só me recorde desse dia por esse pequeno “trauma” de infância, mas hoje, olho para trás e agradeço.

Não se engane: a criança que chega à escola, mesmo que pequenininha constrói suas primeiras vivências e amizades. Mais tarde, o ensino fundamental e ao temido ensino médio, que nos prepara para os futuros desafios da vida adulta. E aos que continuam por essa jornada, encontram pelo caminho as faculdades, cursos técnicos e especializações que nos direcionam ainda mais para o mercado de trabalho.

Talvez, pela correria do dia-a-dia não paramos para refletir, o quanto de oportunidades foram proporcionadas e portas que foram abertas pela nossa vida acadêmica. E aos que, pelos motivos da vida, não tiveram ou aproveitaram essa oportunidade, o lamento uníssono de que tudo poderia ter sido diferente.

“A educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo” é o que diria Paulo Freire. Todos nós já mais que sabemos do seu valor, mas será que estamos nos dedicando às essas instituições tão importantes? Devêssemos, talvez, nos dedicar um pouco mais de nossos esforços, olhos, ouvidos e atenção ao que vem acontecendo com o setor.

MEC “respira” com ajuda de aparelhos

Doloridamente, há pouco menos de um mês para o encerramento do ano, o Ministério da Educação praticamente já encerrou suas atividades, trazendo ainda mais incerteza sobre os rumos da educação do país, em meio à rombos financeiros e insegurança sobre os dias que virão.

A pasta explicitou que não terá dinheiro para comprar os livros didáticos, o que irá atrapalhar o início das aulas do ano que vem. Esse prejuízo chegará à grande parte das repartições de ensino do país, sejam creches, escolas públicas a as universidades, que recebem verba da pasta para suas atividades.

Bom, e não falta dinheiro somente para a pasta. Há quem irá trabalhar e não terá a certeza de uma ceia de Natal tranquila. O órgão já alertou, em todas as letras, que não há orçamento suficiente para pagar todos os trabalhadores dedicados no mês de dezembro e que as consequências deverão se estender para os próximos meses.

Atualmente, cerca de 14 mil médicos residentes espalhados pelos hospitais de todo país, inclusive da nossa região, já foram notificados de que não receberão o seu salário do mês de dezembro. E não somente, mais de 100 mil bolsistas do Capes, dentre estudantes e pesquisadores, que também sofrerão com o calote às vésperas da ceia natalina.

É triste ver que enquanto o país celebrava com a Seleção Brasileira em jogo contra a Suíça pela Copa do Mundo, um novo corte de gastos na bagatela de R$ 1,68 bilhão foi anunciado. E se anteriormente, o funcionamento de universidades, pesquisas e assistências já caminhava com dificuldades, agora se torna inviável.

Não há dinheiro para pagar sequer os funcionários, sejam concursados ou terceirizados. Os prejuízos vão para além do ensino, atingindo hospitais universitários, clínicas de saúde social - como psicologia, psiquiatria e odontologia como é o caso da nossa cidade. Mesmo você, que já encerrou seus estudos, também pagará essa conta.

O único que parece não se mostrar tão preocupado até então, é próprio ministro da Educação, que nas vésperas de uma reunião com o Ministério da Fazenda para buscar de soluções para esse caos, desmarcou sua agenda, e foi à Paris participar do Comitê de Políticas Educacionais para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. Ironia?

Enquanto escrevia essa coluna, me indaguei: “Será que já não é batido falar que educação é essencial? Afinal, todo mundo já está cansado de saber...”. E cada vez que me sento para ler sobre o assunto, vejo que para muita gente, por mais pareça óbvio, para muitos governantes, ensino de qualidade não é prioridade. 

Enquanto não pararmos para repensar o nosso sistema de aprendizado como uma grande construção, não teremos sucesso. Para levantarmos algo sólido e firme, como um prédio, precisamos preparar bem as estruturas para o que vem acima. É a parte mais importante da obra. Se ela falhar, tudo cai e desmorona.

No Brasil, educação tem que parar de ser enfrentada como gasto, e ser encarada como investimento ES-SEN-CI-AL. Enquanto continuarmos cavando masmorras à essas instituições, de nada adianta tentar subir vigas, colunas ou paredes que elevarão esse país à um lugar melhor.

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