Crônica: Uma cidade abandonada e seus gestores no mundo de Nárnia

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 13 de março de 2024

Estava conversando com um cliente, dia desses. Ele comentava sobre como o bairro em que morava, que eu não conhecia, estava em um completo estado de abandono. Descreveu-o com sendo um bairro de boa gente, esforçada e ótimo caráter. “Só tem um probleminha: lá as coisas são tão atrasadas que o Fantástico passa na quarta-feira.” Rimos.

Logo depois, me apressou no atendimento e explicou que em dias de chuva, alguns carros não sobem por conta do barro que fica fofo, fazendo os veículos atolarem. E eis que, por um milésimo de segundo, ou talvez mais, julguei como a nossa cidade está repleta de muitos lugares como estes. Lugarejos esquecidos, sem o mínimo do básico e quem dirá, uma estrada decente.

Noutro dia, eu e um querido amigo, que mora no Rio, andávamos de carro. Ele comentava sobre os planos de vida e salientou algumas vezes – mais do que o normal - que não gostava muito de retornar à Friburgo. Causava-lhe uma sensação estranha, dizia ele. Apesar de beirar os 30 anos de idade e dar inícios de calvície, acostumou-se com a vida um pouco mais agitada e com “coisas para fazer”.

Enquanto passávamos pela região do Cônego/Cascatinha (afinal, ninguém sabe onde começa e termina cada bairro) lembro de pararmos o assunto e nos surpreendermos com a altura dos matagais nas ruas e calçadas. Ouso dizer que até os cavalos que habitualmente ficam soltos na região tem se espantado com o tamanho do mato. Não à toa, estão até mais gordinhos.

Em bairros como Nova Suíça, Amparo e Vale dos Pinheiros, a proposta para a vida animal é até um pouco melhor, eu diria. Além do mato, diversos buracos na rua servem como um verdadeiro “cocho” no meio do asfalto, deixando muita água acumulada das chuvas. Contudo, os moradores não pensam o mesmo.

E ao cair da noite, a cidade vai perdendo o brilho do sol detrás das montanhas e se apagando em meio ao breu da escuridão do melhor céu para se observar estrelas de todo o Estado do Rio de Janeiro. Uma vez que as luzes do Encanto de Natal, se apagaram, todo o charme se foi e nossa a cidade foi ficando às escuras. 

No entanto, apesar das luzes terem se apagado, os postes provisórios continuam no meio da rua. Instalados em novembro, os boatos dizem que somente serão retirados em maio. Ouso dizer, que emendaremos com o próximo Natal. “Afinal, para que iremos arrumar a cama se vamos dormir mais tarde nela, não é mesmo?”.

Os “postes provisórios” parecem querer concorrer com o famoso e eterno “muro provisório” que ficou por anos na Avenida. E que virou um ponto de referência. Os postes metálicos improvisados estão largados no meio da nossa principal e mais charmosa rua. E mais, de uma cidade que quer se tornar um dos maiores polos turísticos do Estado. Será que queremos tanto assim?

E ao passar dos anos, fomos nos perdendo e nos distanciando de tudo aquilo que a nossa cidade já foi. Não somos mais uma referência para ninguém. Não somos uma referência nem para nós mesmos. E já diria um famoso cantor de uma famosa música “o mundo não é mais como era antigamente”.

Em Nova Friburgo, falta algo para sermos a cereja do bolo. Não temos mais àquela educação maravilhosa. Ao invés de abrirmos mais escolas, fechamos unidades e investimos em festas! Parece irônico e se me contassem, eu certamente diria que é mentira. Mas nós vivemos para provar que é possível.

Faltam vagas até nas creches. E como a cidade está perdida, levamos conosco a nossa juventude para o mesmo rumo. Sem apoio e sem perspectiva de crescimento numa cidade que não cresce. E o ponto turístico mais bonito da juventude de nossa cidade, ainda continua sendo a Rodoviária Sul, com passagem só de ida. Cada um que examine o baú de suas prioridades, e faça a arrumação que quiser ou puder.
    Que seja para aliviar a vida, o coração e o pensamento – não para inventar de acumular ali mais alguns compromissos estéreis e mortais. Contudo, quando falamos de cidade, falamos de coletividade. E qualquer coisa, afeta a vida de muita gente. Gente como a gente.

Abro as minhas redes sociais e vejo o maior gestor público de nossa cidade se vangloriando de uma obra com uma foto sua ao lado. Entretanto, a obra foi feita pelo Estado do Rio de Janeiro e tudo que competia à Prefeitura – trânsito e supervisão – não foi feito.

A nossa cidade está abandonada pela gestão pública. Trocaram de profissão e viraram ‘influencers’. Apesar das visíveis problemáticas da cidade, a prefeitura não deixa de estar presente em uma única inauguração de estabelecimentos privados da cidade. Penso estar nas Disney ou em Nárnia. Na verdade, estou apenas em Nova Friburgo.

Foto da galeria
(Foto: print de internet)
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