Brasileiros estão deixando o país

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Anseio de morar fora do país. Quem nunca teve? Seja num sonho americano com muitos carros na garagem ou até morar na Europa para poder ganhar salário em euros. Para muitos, um desejo de criança, para outros, uma vontade de um futuro melhor, mesmo que carregado de incertezas e desafios.

Encontrar brasileiros com moradia no exterior tornou-se algo comum. São muitos os compatriotas que deixaram o feijão com arroz para trás e hoje formam a sua vida fora do país. Uns acabam sendo transferidos para trabalhar, outros vão estudar no exterior e o número de pessoas que sai do Brasil somente cresce.

Em outros lugares, guerras, grandes desastres naturais e catástrofres estão entre os principais geradores do fluxo de imigração pelo planeta. Mas no Brasil, mesmo sem essas crises humanitárias, a taxa de brasileiros que debandam do país é a maior em 11 anos,  como aponta o Itamaraty.

Brasileiros imigrantes no exterior são quase cinco milhões, conforme pesquisas realizadas pelo órgão em 2020. Contudo, nota-se que em comparação com os anos anteriores, houve um verdadeiro ”boom”, um aumento de 20% na debandada de nacionais do país, especialmente a partir de 2018. Em dez anos, um aumento de 36%.

Entre os cinco países com mais brasileiros, temos os Estados Unidos, com 1,7 milhão; Portugal, com 276 mil; o Paraguai, com 240 mil, o Reino Unido com 220 mil e o Japão, com 211 mil. Isso somente falando de números oficiais, afinal, é preciso lembrar que muitos ainda se arriscam em viver ilegalmente no exterior. Mas, será que vale a pena?

Vantagem ou desvantagem?

Não há dúvidas que viajar e morar fora do Brasil traz inúmeras vantagens pessoais e profissionais, mas não podemos achar que é tudo mil maravilhas e ignorar que também existem algumas desvantagens.

Mas antes, precisamos entender o que passa na cabeça dessas pessoas que deixam tudo para trás em busca de uma nova vida. Resumindo em palavras o sentimento de ”esperança e dias melhores”, é o que move os brasileiros, diz Ana Clara Duarte, friburguense, que atualmente reside na Suiça há seis anos.

”Muitas pessoas olham para mim hoje e não enxergam muitos sacrifícios que eu tive que fazer. Imigrar nunca é fácil. A gente sempre vem com uma mentalidade de que as coisas podem dar errado, mas às vezes não temos essa dimensão, que só é capaz de ser compreendida sendo vivida. É uma lição de vida”, diz Ana Clara.

Ainda que dinheiro não compre felicidade, brasileiros sonham com a vida melhor no outro lado do mundo em busca de emprego e qualidade de vida diante do cenário delicado do nosso país. O aumento da criminalidade e a busca pelas oportunidades estão entre os principais argumentos de quem vai embora.

Mas, engana-se quem pensa que tudo é somente alegria. O racismo e a xenofobia são uma realidade vivida por muitos, inclusive por Diego Muniz, carioca, negro e mestrando em Psicologia que relata ter enfrentado situações díficeis nos últimos dez anos, desde que passou a morar em diversos países da Europa.

”Nesse tempo no exterior, já passei por muitas situações que me fizeram duvidar se minha escolha de morar fora se estenderia. Já sofri racismo de servidores públicos de uma agência trabalhista sueca após uma entrevista de emprego. Até no trabalho, os abusos são constantes contra imigrantes. Gravei áudios do que acontecia comigo e descobri que poderia ser processado por gravar alguém no local de trabalho, algo que jamais aconteceria na Justiça brasileira. Hoje, penso em voltar ao Brasil pelo meu emocional”, relata.

‘Imigrar’ e ‘ter vida fácil’ não são sinônimos na realidade de muitos que ousam arriscar. Compatriotas, mesmo que bem instruídos educacionalmente e com bons empregos no Brasil, por vezes, necessitam trabalhar em cargos mais simples e atividades menos visadas pelos nativos para levar o pão de cada dia para casa.

”A grande maioria vai para a batalha e para conseguir um dinheiro e voltar. A realidade, ao contrário do que muitos pensam, é que a vida é cara e muitos sacrificios precisam ser feitos até que consiga se estabilizar. Comecei do zero, não conhecia ninguém e nem falava a língua, mas eu persisti com a cara e com a coragem”, conta Ébano Geraldes, friburguense que reside há 23 anos nos EUA.

Se será vida melhor ou não fora do Brasil, somente a nossa experiência individual poderá dizer nos dizer. Não existe regra. Assim como milhões de brasileiros sonhadores, existem muitas Anas, Diegos e Ébanos que arriscaram, e que relatam uníssonamente em histórias: ”Nunca conseguimos nos sentir em casa”. E do Brasil, restam as lembranças de um nostálgico e profundo sentimento de saudades que preenche tanto quem foi como quem ficou!

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